Considerem como uma forma útil de apresentar Eduardo Gianetti aos leitores portugueses que, eventualmente, não o conhecem.
Uma das melhores descrições do estilo de Eduardo Gianetti é mesmo 'elegante'. E delicado. E preciso.
Segui-o durante meses a fio, às quintas, na Ilustrada da Folha de São Paulo. O raciocínio preciso, a escrita fluente e delicada, foram uma das principais razões de manter a assinatura da publicação.
A palestra que segue abaixo foi promovida pelo Instituto de Formação e Educação (IFE), em Julho de 2009, por ocasião do lançamento do 3º número da revista Dicta&Contradicta.
parte 1:
parte 2:
parte 3:
parte 4:
parte 5:
Para juntar, fica uma sugestão de leitura:
Título: Felicidade: Diálogos sobre o bem-estar na Civilização
Autor: Eduardo Giannetti
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1a. edição, 2002 / 9a. reimpressão, 2008
Sinopse:
O dinheiro, as posses e os bens materiais trazem felicidade ao homem? Para o economista Eduardo Giannetti, o projeto iluminista de conquista da felicidade só cumpriu-se pela metade. O progresso científico e material não traduziu-se num aprimoramento ético e político dos homens e se mostrou incapaz de nos conduzir à felicidade. Por que? No livro "Felicidade - Diálogos sobre o bem-estar na Civilização" (Companhia das Letras), Giannetti investiga a felicidade humana e procura respostas. A partir de um diálogo filosófico entre quatro ex-colegas de faculdade, a obra discute por que não vivemos num mundo mais justo e racional, gozando os benefícios de uma paz perpétua. Sem oferecer conclusões prontas, o livro provoca a reflexão sobre até que ponto nossas escolhas têm criado condições para vidas mais livres e dignas, e faz pensar sobre que lições tirar das conquistas e desacertos do processo civilizatório.
Para ler online: e-Book
Cf. também:
- Giannetti: risco é dar um passo maior do que a perna
- Confira livros do escritor escolhido para a campanha de Marina Silva
Uma outra palestra, um pouco mais antiga, que teve lugar em Brasília em 2006, que mostra bem como Gianetti fala de economia de uma forma que se esforça por ser entendida por todos.
O tema bebe no livro O Valor do Amanhã que tinha acabado de lançar.
parte 1:
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parte 5:
parte 6:
parte 7:
* A Associação Cultural Sempre Um Papo é uma sociedade civil sem fins lucrativos, de caráter cultural. Sua missão é contribuir para o desenvolvimento de políticas de incentivo ao hábito da leitura a fim de formar cidadãos. Criado em 1986 pelo jornalista Afonso Borges, o “Sempre Um Papo” é reconhecido como um dos programas culturais de maior credibilidade do País. Em 23 anos de história, já ultrapassou os limites de Belo Horizonte e chegou a 23 cidades, em 8 estados da Federação, além do Distrito Federal. Com o tempo, vieram outros projetos e iniciativas que visam o incentivo à leitura e possibilitam, conjuntamente, a associação entre cultura, educação e responsabilidade social.
O Valor do Amanhã
Eduardo Gianetti
2005, Companhia das Letras
Durante a vida humana, somos expostos a tomar infinitas decisões, muitas delas se encaixam no problema de escolher entre desfrutar algo hoje ou esperar para saboreá-lo amanhã. Este problema, inerente ao transcorrer da vida na linha do tempo, é abordado com profundidade e elegância no livro O Valor do Amanhã, do economista e filósofo Eduardo Gianetti. Diz-se que o livro trata dos juros. É avaliação superficial. O tema é mais amplo. Como o próprio autor reclama: "A face mais visível dos juros monetários representa apenas um aspecto, ou seja, não mais que uma diminuta e peculiar constelação no vasto universo das trocas intertemporais em que valores presentes e futuros medem forças." Com maestria, Gianetti apresenta o problema das trocas intertemporais que ocorrem em todo o mundo animal. Seus exemplos são magníficos. Afinal, que aperfeiçoamento darwiniano conduziu uma espécie de ratos a estocar alimento para o inverno em quantidade muitas vezes superior à sua capacidade de consumir? Exibindo extremos dos comportamentos de nossa espécie - a avareza, a gula, a entrega às drogas, a dedicação monástica exigida por uma religião – Gianetti explora as variantes do modelo de decisão do tipo "ter agora, pagar depois" versus "pagar agora, para ter mais tarde". É curioso como um modelo de decisão tão simples de ser enunciado se aplica a situações tão distintas. Se aplica à escolha do momento de um investidor realizar os lucros de seus investimentos. Ou à prosaica decisão do comensal que escolhe entre comer o musse de chocolate agora, em detrimento de exibir o abdômen "tanquinho" amanhã.
O pano de fundo do livro é o problema humano retratado na letra de música de Lobão: "viver dez anos a mil ou mil anos a dez?". Como bem sintetiza Gianetti, "a vida é um intervalo finito de duração indefinida". Se houver um deus a quem agradecermos por nossas alegrias e culparmos por nossas agruras, sem dúvida ele deve rir muito de nossa inquietação e insegurança para tratar o problema de como bem viver a vida. Devemos buscar a satisfação imediata? Ter ou fazer hoje o que desejamos, a qualquer custo? Ou nos poupamos, nos guardamos? Buscamos a segurança que nos proverá nos serenos anos da velhice? Mesmo com as promessas de vida eterna das religiões – que Gianetti apresenta com notável isenção – os humanos têm dificuldade em se desapegar da dádiva da vida como conhecemos. Em geral buscamos otimizar nossa experiência de vida terrena. Apesar de toda a pantomima religiosa, não levamos muita fé nas promessas dos messias. Mesmo com o marketing das igrejas, como não há nenhum indício minimamente palpável de que existam as mil virgens que nos prometem no paraíso, a maioria não opta pela solução de dar um tiro na cabeça e passar "dessa para melhor". Temos mesmo que resolver a vida antes de morrer.
No início de um curso de matemática financeira que ministrei, para ilustrar a idéia de juros, usava o exemplo de duas criaturas limites. Uma delas era imortal, suas decisões não se alteravam em relação ao tempo. A outra, chamada "criatura efêmera", acometida de uma doença terminal, tinha pouco tempo de vida para usufruir. As duas tinham que fazer escolhas com relação a um fluxo de recebimentos de recursos. Uma tinha pressa em receber valores. A outra era indiferente em relação aos prazos de entrega dos recursos. Daí surgia o conceito dos custos das trocas intertemporais e a noção de juros. Eduardo Gianetti apresenta arquétipos de decisores mais interessantes e genéricos. Ele utiliza a cigarra e a formiga de Esopo. Gianetti cunha a figura da cigarra límbica, que só se interessa pelos prazeres de curto prazo, e da formiga pré-frontal, planejadora e focada em abrir mão da boa vida agora para garantir seu futuro. A discussão conduzida pelo autor nos leva a pensar se consumimos com perícia o bem limitado e perecível que é o tempo de nossas vidas. Pode parecer pouco importante para os jovens (e realmente não o é, pois eles têm a sensação inebriante de serem imortais), mas o problema da aposentadoria, ou seja, a decisão de quanto deixar de gastar hoje para garantir o amanhã, é preocupação que vai tomar bom tempo de suas vidas. Aos jovens, a mensagem: Aguardem!
Gianetti explora as diversas visões de como viver: a miopia do irresponsável que só atenta para o imediato, e o hipermetrope, que religiosamente (o advérbio se aplica como uma luva) se prepara para um futuro que o prazo indefinido do contrato da vida não lhe assegura. Por isso minha menção ao livro ser um guia de auto-ajuda para pessoas sofisticadas. A colocação do problema e sua exploração em facetas diversas propiciam oportunidade única para cada um pensar: Qual a boa prática para gastar a grande dádiva de viver?
A obra de Gianetti retoma preocupações que ele já abordara em outras ocasiões, como no livro Felicidade. Será a felicidade de um indivíduo um estado de euforia momentâneo decorrente do último prazer ou dor experimentado, ou é a sensação de prazer obtido pela soma das experiências passadas e expectativas futuras de prazer percebidas pela pessoa? A felicidade é a gargalhada do momento ou o sereno sorriso garantido para amanhã? O tempo também é senhor de nossos sentimentos.
Fica a recomendação do livro e autor. A identificação do modelo do problema das trocas intertemporais é elemento importante tanto no nível profissional como pessoal. A inteligência do discurso de Gianetti é hipnotizante. O texto elaborado e elegante embala a leitura. O Valor do Amanhã foi dos melhores lançamentos de 2005, teve muito boa venda, mas é produto que vai vender bem no longo prazo. O livro é mais propício aos maduros saborearem. Em geral, o futuro é assunto que a miopia da juventude despreza: "Pobres moços, eles não sabem o que eu sei." dizia Cartola. Por outro lado, aqueles que já consumiram mais da metade do máximo que esperam viver, terão mais atenção para o assunto.
por Ernesto Friedman
A introdução ao lançamento do livro de Gianetti, 'O Valor do Amanhã', pelo jornalista Gustavo Iochpe. A entrevista pode ser lida na No Mínimo.
13.12.2005 | Apesar de ter se mudado de sua Belo Horizonte natal para São Paulo ainda criança, não é por acaso que Eduardo Giannetti da Fonseca se autodefine como mineiro. Em linha com o estereótipo de sua terra, Giannetti come quieto. Seu último livro, o sucesso de público “O valor do amanhã” (Cia. das Letras, 328 páginas, R$ 44), parece, à primeira vista, o tomo de um economista de credenciais impecáveis – PhD e ex-pesquisador de Cambridge – pelo áspero assunto dos juros. Na verdade, trata-se de um passeio de uma mente inquieta e municiada dos mais variados saberes por uma questão filosófica ancestral: o tempo, a finitude da vida e as escolhas que a passagem de um e a chegada da outra impõem ao ser humano.
Perdido em uma teia narrativa elegante e multifacetada, que combina biologia evolutiva, religião, história e alguns poucos conceitos econômicos (mas sem jargão nem tabelas), o leitor mal irá notar, entre discussões que vão da alimentação de aves à impaciência humana, que as primeiras partes do livro são um prelúdio para o maravilhoso coup de grâce final. Nele, Giannetti analisa as razões que nos levaram a ter a maior taxa de juros real do planeta e explica o que será necessário alcançar para que ela caia. A maneira como o faz, porém, é a marca do bem-pensante: sem citar uma vez a palavra “Brasil”, sem mencionar este ou aquele governo nem muito menos verbalizar uma daquelas respostas rápidas e simples que assolam o discurso nacional, o autor apenas instrumentaliza o leitor para que este pense sozinho e tome suas próprias conclusões.
Eduardo Giannetti é o oposto do típico intelectual brasileiro. Não arrota erudição em frases abstrusas e prosa hermética; substitui o jargão por orações curtas e límpidas; escolhe temas para pesquisa que inspirem o que chama de “corte transversal”, envolvendo muitas áreas do conhecimento, ao invés de focalizar em uma questiúncula inexplorada. Acima de tudo, rejeita o papel de intelectual público, preferindo se refugiar em pequenas pousadas da terra da Inconfidência para dialogar com Aristóteles, Hume e Adam Smith. Com esse perfil, não é por acaso que abandonou os ares da USP e se transferiu para o Ibmec, onde leciona Economia e lhe deixam tirar um período sabático, cada vez que está prenhe de alguma idéia que precisa ser posta no papel.
Com camisa de veludo vermelho e óculos grandes, Giannetti falou a NoMínimono escritório que fica nos fundos de sua casa de decoração minimalista em uma rua paulistana arborizada e tranqüila.
Edição 2 - Abril de 2007 | 04/04/2007 - 14:24
Por fim, um vídeo mais focado na pessoa, com os melhores momentos do Bate-papo UOL, gravado em 26 de Setembro de 2007:
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