Foi o sobressalto desta madrugada: incêndio na Baixa de Lisboa, num prédio da Rua Nova do Almada, como quem sobe para o Chiado. O fumo a estrangular os pulmões, a picar nos olhos. As chamas a ameaçarem mais uma vez o coração de Lisboa. O crepitar da água contra o fogo, o frio desumano deste Fevereiro a desaparecer por instantes e a deixar só uma chuva persistente e rala, como um choro miudinho a sublinhar o medo. As sirenes, o burburinho, o desespero das pessoas e a idosa que, apesar dos esforços ninguém conseguiu retirar a tempo de casa e a meio da manhã foi encontrada morta entre os escombros.
Há, sim, amanheceres violentos.
Fotos do João Vilhena.
* Adenda – coisa curiosa, que se veio a saber mais tarde: a existência de muretes corta-fogo no topo do edifício de construção pombalina pode ter evitado nova tragédia no Chiado, como esta de 25 de Agosto de 1988, por exemplo, que Lisboa não tem como esquecer.
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