Já aqui tinha feito referência e deixado o link para a leitura integral do suplemento Citizen Ethics in a Time of Crisis, publicado pelo The Guardian. e organizado em parceria com a associação Citizen Ethics Network.
A iniciativa merece uma página autónoma no site do jornal que recebe permanente actualização, com a publicação de vários outros artigos relacionados com a reflexão.
É o caso, por exemplo, deste outro, The limits of freedom, publicado ainda ontem – e cuja leitura se sugere, sobretudo atendendo à preponderância com que o tema tem dominado o debate público em Portugal – da autoria do filósofo Alain de Botton, de quem também já vos tinha falado aqui e aqui.
Agora, com a devida vénia ao Jorge Bateira, deito mão à tradução que alocou no Ladrões de Bicicletas de um extracto da introdução ao suplemento, escrita pelo professor Michael Sandel da Universidade de Harvard.
Em muitos países, a distância entre ricos e pobres está a crescer atingindo níveis que não se viam há muitas décadas. Uma distância demasiado grande entre ricos e pobres danifica a solidariedade que a cidadania democrática requer.
À medida que a desigualdade se aprofunda, ricos e pobres cada vez mais vivem em mundos separados. Os ricos mandam os filhos para as escolas mais qualificadas, deixando as restantes escolas para os filhos das famílias que não têm alternativa. Os ginásios privados substituem os pavilhões gimnodesportivos e as piscinas municipais. Um segundo ou terceiro automóvel põem de lado a necessidade de contar com o transporte público. E por aí adiante. Os abastados desertam dos espaços e serviços públicos deixando-os aos que não têm recursos para outra coisa.
Esta tendência produz dois efeitos nocivos – um orçamental, outro cívico. Primeiro, os serviços públicos degradam-se dado que os que já não os usam cada vez menos estão dispostos a pagar impostos para os sustentar. Segundo, os espaços comuns deixam de ser espaços onde os cidadãos com diferentes percursos de vida se encontram uns com os outros. A retracção do domínio público torna difícil cultivar a solidariedade e o sentido de comunidade de que depende a cidadania democrática.
Por isso, a desigualdade pode ser corrosiva da virtude cívica. Uma política orientada para o bem comum teria como um dos seus principais objectivos a reconstrução da infra-estrutura da vida cívica.
Michael Sandel, Towards a just society
O livro é uma espécie de fio de ariana às ideias do autor e dá suporte ao programa da sua cadeira na Universidade de Harvard.
Desta vez com vénia ao João Rodrigues, replico igualmente outras ligações de interesse colocadas no Arrastão, às quais acrescento mais algumas, por me parecer que podem funcionar como óptimo complemento à reflexão.
- Justice Harvard: onde as populares aulas de introdução à Filosofia Política do prof. Michael Sandel em Harvard se encontram disponíveis online, juntamente com outros materiais de apoio à sua compreensão
- A New Citizenship: o contributo de M. Sandel, durante o ano de 2009 para o programa The Reith Lectures, inaugurado em 1948 por John Reith na antena da BBC, que anualmente convida uma personalidade para reflectir sobre temas da sociedade contemporânea
- The Open University: o arquivo e forum de debate para The Reith Lectures
- @Reith2009: onde a discussão pode ser seguida via Twitter
- Justice na WGBH: a série de programas a que o livro e as aulas deram origem no canal de TV de Boston
- Michael Sandel entrevistado por Oliver Burkeman: 31 de Out. de 2009
- Michael Sandel Links : como se percebe, um conjunto de várias ligações sobre o autor
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