Era o Martinho do Rossio, lugar mítico de tantas gerações e de inúmeras esperanças e desilusões. A recordação diz quase tudo. Fala-nos da necessidade de ter o coração a bater ao ritmo da Europa, da exigência de viver a modernidade, da força do apelo da justiça e da igualdade, da vivência de um ideal, mas também de uma ironia tremenda, da distância e da serenidade de poder gozar um ambiente liberal, que era o do tempo de António Maria Fontes Pereira de Melo, improvável discípulo de Saint Simon, o mesmo que entusiasmou, por razões bem diferentes, Augusto Comte e Karl Marx… Os cafés foram, de facto, os espaços públicos por excelência dos dois séculos passados, mesmo que Mário de Sá-Carneiro tenha dito a Fernando Pessoa, sobre o dito Martinho do Rossio: “Não sei porquê mas esse café, não os outros cafés de Lisboa, esse só – deu-me sempre a ideia dum local onde se vem findar uma vida: estranho refúgio, talvez, dos que perderam todas as ilusões, ficando-lhes só, como magro resto, o tostão para o café quotidiano – e ainda assim, vamos lá, com dificuldade”. Que diferença de atitude, de Eça até Sá-Carneiro, um português retinto (mesmo quando fora de Portugal, em andanças diplomáticas), o outro mergulhado no cosmopolitismo parisiense (atacado quiçá pelo mal da civilização de que padeceu Jacinto). São as vicissitudes da modernidade, com Álvaro de Campos (o mesmo que tanto perturbou José Régio, no Montanha) a falar nas “metafísicas perdidas nos cantos dos cafés de toda a parte”…
via e-Cultura
![]() Café Martinho, a fachada após restauro, Joshua Benoliel, 1909-10, Arquivo Municipal de Lisboa, AFML – A8430 |
Praça D. João da Câmara, antiga Praça Camões
Freguesia: Santa Justa
Entre 1950 e 1953, o Café Martinho foi transformado em cervejaria, pertencendo à data à Companhia de Cervejas Estrela. A sua clientela passou a ser a geração académica dos anos 50 e 60, e o seu petisco o bife especial. Em Maio de 1968 o café encerrou as suas portas e em Outubro desse ano reabriu como dependência bancária do Banco do Alentejo. È actualmente uma dependência do Banco Português de Investimento.
DIAS, Marina Tavares, Os cafés de Lisboa, 2.ª ed., Lisboa, Quimera Editores, 1999.
AMIGOS DE LISBOA, Evocação do Café Martinho, Lisboa, Imprensa Libanio da Silva, 1936.
SUCENA, Eduardo, «Cafés» in SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, dir. Francisco Santana, 1.ª ed., Sacavém, Carlos Quintas & Associados – Consultores, 1994.





















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