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Reportagem: Geoglifos na Amazônia, sinais e formas geométricas começam a aparecer na floresta

Posted: 9 de fev. de 2010 | Publicada por por AMC | Etiquetas: ,


por Marcelo Bizzarro de Andrade

Geoglifos na Amazônia, gigantescas formas geométricas aparecem na floresta. Os cientistas têm uma hipótese: na época da construção dos geoglifos, a Amazônia pode ter passado por uma seca muito forte, que transformou a floresta numa imensa savana. Elas passaram séculos escondidas pela floresta. Agora, com o desmatamento para criação de gado, estão aparecendo cada vez mais. Formas perfeitas escavadas no solo, espalhadas pelo extremo oeste da Amazônia. Vestígios de uma sociedade desconhecida ou restos do lendário reino de Eldorado, com que tantos exploradores sonharam?
Os cientistas chamam estes desenhos de geoglifos. Isso aqui era um grande sistema que se estendia por centenas de quilômetros nessa região da Amazônia, aponta o paleontólogo da Universidade Federal do Acre, Alceu Ranzi.
O paleontólogo Alceu Ranzi se dedica há 30 anos ao assunto. Ele fazia parte da equipe que descobriu os desenhos, em 1977. Mas foi só nos últimos tempos que o número de achados disparou, graças a fotos de satélite disponíveis na internet. Já são quase 300 geoglifos. De alguns, os pesquisadores nunca chegaram perto.
Ninguém sobrevoou e ninguém fotografou, que são os geoglifos de Boca do Acre, conta o paleontólogo da Universidade Federal do Acre Alceu Ranzi.
Apesar do nome, Boca do Acre fica no Amazonas. É para lá que vamos. Em pouco tempo, começamos a ver as formas. Algumas bem nítidas, outras parcialmente encobertas pela mata. Normalmente são quadrados e círculos. Temos octógonos também, descreve o paleontólogo.
Alguns geoglifos são mais elaborados, apresentam várias formas geométricas diferentes. Abaixo a gente vê um que tem um quadrado com um quarto de círculo dentro.
No solo, a gente percebe o grau de sofisticação. Para o fazendeiro Jacob Queiroz, de 93 anos, dono de terras onde existem algumas figuras, elas não podem ser simples obras da natureza: Isso aqui foi gente que fez. É trabalho de engenheiro.
Estamos num geoglifo quadrado, com 200 metros de lado. Valas delimitam a figura. Dentro de um desses canais, vemos que a terra foi escavada e cuidadosamente empilhada do lado de fora.
Por isso, chegou-se a pensar que as valas seriam trincheiras da Revolução Acriana, uma revolta do início do século XX contra a dominação da Bolívia no território. A história foi contada na minissérie "Amazônia", em 2007.
Mas a teoria das trincheiras está fora de cogitação. As análises geológicas publicadas mostram que os geoglifos são muito mais antigos: do século XIII.
Uns 200, 300 anos antes de Cabral, calcula o paleontólogo da Universidade Federal do Acre Alceu Ranzi.
Para o professor Alceu, os geoglifos eram áreas de rituais religiosos. Pela elaboração, pela monumentalidade, pelo espaço, elogia o paleontólogo da Universidade Federal do Acre Alceu Ranzi.
Outra questão intrigante: como é que os habitantes daquela época, do século XII, XIII, conseguiram fazer isso dentro de uma floresta superdensa?
Essa região da Amazônia devia estar passando por um problema climático, comenta.
Os cientistas têm uma hipótese: na época da construção dos geoglifos, a Amazônia pode ter passado por uma seca muito forte, que transformou a floresta numa imensa savana. Parecido com o cerrado brasileiro.
Falta ainda a principal peça do quebra-cabeça: que tipo de sociedade projetou esses monumentos? As principais teorias sobre os povos que viveram nesta região antes de o Brasil ser descoberto dizem que esses povos jamais teriam tamanha sofisticação. No entanto...
Isto aqui nos indica que este povo que viveu aqui era um povo organizado, mostra o paleontólogo da Universidade Federal do Acre Alceu Ranzi.
É possível que haja uma relação estreita com os antepassados dos índios atuais. Mas podem ter sido também outras populações que habitaram a região, informa o antropólogo da Universidade Federal do Acre Jacó Piccoli.

SOBRE OS GEOGLIFOS

DESCOBERTA   
Nas últimas décadas, com o avanço das frentes de expansão agrícola do sul do Brasil rumo à Amazônia, milhares de quilômetros quadrados anteriormente recobertos pela floresta transformaram-se em áreas destinadas à criação de gado. Essa mudança na paisagem possibilitou observar, a partir de meados da década de 1970, a existência de desenhos geométricos, escavados em baixo relevo, no solo argiloso do Estado do Acre, no Oeste da Amazônia, próximo da fronteira com a Bolívia. Era 1977 e como parte do inventário do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônica (PRONAPABA ), Patrocinado pelo Smithsonian Institution, de Washington, em colaboração com o CNPq, Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), foi registrado pela primeira vez, nas imediações da sede da Fazenda Palmares a ocorrência de estruturas de terra de forma geométricas, posteriormente designadas de geoglifos. As pesquisas do PRONAPABA no Acre, em 1977, sob a coordenação do Prof. Dr. Ondemar Ferreira Dias Junior da UFRJ, contaram com a participação de Franklin Levy do IAB e Alceu Ranzi da UFAC. 

O QUE SÃO?
Geoglifos são vestígios arqueológicos representados por desenhos geométricos (linhas, quadrados, círculos, octógonos, hexágonos etc...), zoomorfos (animais) ou antropomorfos (formas humanas), de grandes dimensões e elaborados sobre o solo, que podem ser totalmente e melhor observados se vistos do alto, em especial, através de sobrevôo.
Geoglifos podem ser encontrados em várias partes do mundo. Os mais conhecidos e estudados estão na América do Sul, principalmente na região andina do Chile, Peru e Bolívia.
As linhas e geoglifos de Nasca, no Peru, são os exemplos mais conhecidos desses desenhos. Os mesmos foram descobertos em 1927, com o advento da aviação comercial. A Dra. Marie Reich dedicou a sua vida aos estudos dos geoglifos de Nasca. Embora bastante conhecidos, os geoglifos de Nasca ganharam fama mundial com o lançamento do livro “Eram os Deuses Astronautas” de Erich von Daniken.
Há alguns anos geoglifos também foram encontrados na região amazônica brasileira. Mais precisamente no Estado do Acre. Foram percebidos em 1977, quando o Prof. Ondemar Dias, do Instituto de Arqueologia Brasileira do Rio de Janeiro esteve nesta região localizando e estudando sítios arqueológicos, como parte do inventário nacional que estava sendo realizado pelo PRONAPABA – Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas da Bacia Amazônia.
De lá para cá outros locais com estas estruturas foram descobertos e, entre 1985 e 1994 um desses sítios (Los Angeles, na Fazenda Ouro Branco) foi escavado por duas equipes, das quais participaram o Dr. Ondemar Dias (Coordenador), Profa.Mauricélia Sousa, Prof. Marcos Vinícius das Neves (Sub-coordenadores), Dra. Rosângela Menezes, Dra. Jandira Neto Dias, Prof. Divino de Oliveira, Valmir de Araújo, David Barroso, Maria Luiza Ochoa, Dr. Jacó Piccoli e Dr. Ondemar Blasi, entre outros. Os pesquisadores encontraram muita cerâmica indígena, o que indicava locais de antigas aldeias. ((Dias Júnior, O.F. & Carvalho, E.T. 1988 e Neves, M.V. 2002).


LOCALIZAÇÃO
A real dimensão e extensão da área geográfica de ocorrência dessas estruturas, no entanto, só foi realmente percebida através de observação aérea.
Em meados da década de 1980, o Prof. Alceu Ranzi, ao olhar pela janela de um avião, em vôo comercial entre Porto Velho e Rio Branco, percebeu uma estrutura circular dupla, na margem da BR 317. Na época, em avião monomotor, uma equipe sobrevoou a área e o registro fotográfico foi obtido pelo fotógrafo Agenor Mariano. A nota da descoberta e as fotos foram publicadas na edição de 15 de Agosto de 1986 no jornal “O Rio Branco”.
Em 1999, em outra viagem, um vôo comercial de Porto Velho para Rio Branco, novamente o Prof. Alceu Ranzi, percebeu uma dessas gigantescas estruturas da janela do avião. Passou então a pesquisar o assunto, primeiro conseguindo pequenos aviões para sobrevoar a área, e depois visitando pessoalmente, em terra, para a obtenção de medidas.
A partir de 2000, com as fotos aéreas obtidas pelo fotógrafo Edison Caetano, os geoglifos do Acre tiveram repercussão nacional e internacional.
No dia 16 de abril 2000, os jornais A Tribuna e A Gazeta, ambos de Rio Branco, deram notícias de capa, com fotos aéreas dos geoglifos. Em 17 de abril de 2000 a TV Acre e TV Gazeta, noticiaram o assunto.
A Revista IstoÉ, edição de 23 de junho de 2000, publicou reportagem assinada por Peter Moon, com as fotos aéreas do Edison Caetano.
Com o incentivo positivo da repercussão na imprensa, foi apresentado em 2001, à Fundação Elias Mansour, do Governo do Acre, o Projeto “Geoglifos Patrimônio Cultural do Acre”, o qual foi aprovado para receber apoio financeiro da Lei de Incentivo à Cultura e ao Desporto. Os recursos obtidos permitiram sobrevôos e mais fotos aéreas foram obtidas pelo Edison Caetano.
Em 28 de julho de 2002, reportagem sobre os geoglifos foi divulgada no Programa Fantástico da Rede Globo. O trabalho foi produzido pelo repórter Jefson Dourado da TV Acre.
Em 2005, em vôo patrocinado pela Secretaria de Turismo do Estado do Acre, o fotógrafo Sergio Vale, registrou os geoglifos da região das Quatro Bocas e da Fazenda Colorada.
Até agora está confirmada a existência de pelo menos uma centena dessas estruturas e a cada dia que passa mais geoglifos são descobertos.

Para mais informação sobre os Geoglifos da Amazônia:


Cf. também:

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