Um índio do Xingu fotografado por Maureen Bisilliat
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Os textos se olham, as fotografias se lêem.
Arrigo Benedetti (1910-1976)
* director de redacção e fundador da revista L’Europeo, em 1945.
Ontem à noite fui ver a exposição “Fotografias”. Imagens da Maureen Bisilliat que hoje pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles. Fiquei maravilhada com tudo: uma verdadeira aula de curadoria, fotografia, impressão, cenografia. Um percurso que vamos percorrendo poéticamente onde olhares e poesias de Guimarães Rosa, Jorge Amado se encontram com as imagens das caranguejeiras, o cortejo luminoso dos vaqueiros, a terra do xingu. Uma exposição regada à generosidade, generosidade de Maureen que abre todos seus acervos, fotos, imagens.
Uma trajetória de mais de 50 anos que inicio, aqui no Brasil, nas revistas Quatro Rodas e Realidade e continuou por muitos anos. Maureen escreve com os olhos, capta momentos coloridos, férteis, inovadores. Num percurso de mais de 200 imagens editadas e selecionadas por ela mesma (e isso se percebe, caminha-se pela exposição como se estivessemos caminhando por seus livros, por suas fotografias, usando os mesmos olhos que ela usou para fotografar) conhecemos lugares novos, não pela geografia, mas pela maneira como ela os apresenta.
Um presente para todos que gostam de fotografia. Essa, para mim, é uma daquelas exposições que são imperdíveis. Por ocasião da mostra também foi lançado o livro “Fotografias: Maureen Bissiliat”, uma trajetória de mais de 50 anos na fotografia.
Vale a pena!
O lugar: Galeria de Arte do Sesi, na Avenida Paulista 1313, o prédio da Fiesp!.
Catadora de caranguejos em Livramento, no Rio Paraíba do Norte, PB, 1968. Foto de Maureen Bisilliat/Acervo IMS
"Todo mundo tem as ‘suas’ paisagens - as ‘minhas’ são o agreste e o sertão." A frase poderia parecer estranha vinda de uma estrangeira. Mas dita pela inglesa Sheila Maureen Bisilliat, soa perfeitamente bem.
A fotógrafa de 78 anos (53 deles no Brasil, que fotografa desde 1957) tem boa parte de seu trabalho feita a partir de ‘equivalências fotográficas’ - como gosta de dizer - com livros de autores como Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Euclides da Cunha.
A partir de dia 2 de Março, e até 4 de Julho, 200 imagens (inspiradas ou não em obras literárias) estarão na mostra Maureen Bisilliat: Fotografias, que abre na Galeria de Arte do Sesi.
As fotografias foram selecionadas pela própria artista entre as suas 16 mil obras pertencentes hoje ao acervo do Instituto Moreira Salles.
As imagens compõem séries que mostram a realidade das caranguejeiras no Rio Paraíba do Norte, o quotidiano de pescadores baianos e os costumes dos índios do Alto do Xingu. Foi assim, no contacto com a cultura regional, que Maureen, filha de diplomata, encontrou o ‘enraizamento’ que lhe faltava. "Quando se passa muito tempo mudando de país, se aprende rapidamente a captar o novo, a tentar fazer parte, mesmo sem pertencer", observa.
No ensaio inédito ‘Chorinho Doce’, ela registra cenas do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, inspirada por poemas de Adélia Prado. "Eu leio os livros e fico impregnada pelo espírito deles, mas não tento ilustrá-los literalmente", explica.
Além dos trabalhos artísticos, a mostra têm fotos jornalísticas, feitas por Maureen entre 1964 a 1972, para a extinta revista ‘Realidade’.
Onde: Galeria de Arte do Sesi. Av. Paulista, 1.313, metrô Trianon-Masp, 3146-7405.
Quando: 10h/20h (2ª, 11h/20h; dom., 10h/19h)
Período: Abre 3ª (2). Até 4/7.
Quanto: Grátis.
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