Uma feliz boa nova: Eduardo Gianetti e Caio Túlio Costa (Blog) vão juntar-se à equipa estratégica de Marina Silva.
Acho interessante. Recorda-me muito o elenco do DNA Brasil, uma espécie de think tank que em Setembro de 2004 engajou proeminentes especialistas das mais diversas áreas para pensar e repensar o rumo do país.
Foram três dias em Campos de Jordão com os mais respeitáveis líderes, pensadores e artistas brasileiros reunidos a tempo inteiro num mesmo espaço, abdicando das suas rotinas pessoais para se dedicarem a reflectir sobre o Brasil, a debater linhas estruturantes e eixos de desenvolvimento e avançar estratégias capazes de lhe assegurar um futuro melhor.
O resultado foi um encontro surpreendente, provocador e heterodoxo.
No ano seguinte a iniciativa repetiu-se, mas introduziu no corpo de reflexão – novamente constituído por ilustres personalidades das mais diversas áreas – cinco cidadão comuns. A ideia era chamar o povo para o diálogo, aproveitando a realização de um evento derivado, o DNA do Brasil Real, que ocorrera pouco tempo antes.
Se a memória não me atraiçoa, do núcleo organizador do Instituto DNA faziam parte os empresários Horácio Lafer Piva, Emerson Kapaz, Hugo Marques da Rosa e Ricardo Semler, mas também os professores Eduardo Giannetti da Fonseca, João Sayad e Gilson Schwartz; e os jornalistas Caio Túlio Costa e Leão Serva.
Ora, justamente: Gianetti e Túlio Costa, que voltam agora a reunir-se em torno de um mesmo projecto de reflexão comum, integrando a equipa de Marina Silva, com vista à elaboração do programa de governo e à condução da campanha para as Eleições Presidenciais de Outubro.
# Site oficial
Cf.
- DNA Brasil divulga índice de qualidade de vida no país
- Cidadãos comuns discutem o futuro do país no DNA Brasil
- Autoria de DNA Brasil - 30/08/2005
- Fundação Ralston Semler Instituto DNA Brasil e outros projectos
- DNA Brasil agora ao alcance do público
- DNA Brasil - Compêndio de Sustentabilidade
- Síntese do índice de 2004 = 46,8% (em pdf)
- Documento completo do índice de 2004 (em pdf)
Olho daqui de Lisboa. A pré-campanha só deve arrancar lá para Julho, suponho. No entanto, alguma fumaça começou já a dar sinais que se conseguem ler deste lado do Atlântico. Como digo, olho daqui. Vejo a asa padroeira de Lula sobre Dilma e pergunto-me cada vez com mais frequência se Dilma será capaz de caminhar sozinha. Às vezes sinto um certo ímpeto de curumim capeta e apetece-me chutar-lhe a muleta para longe só para ver se é verdade que não é coxa, se tem duas pernas sádias, se consegue assentar os pés no chão e andar sem ser carregada em ombros, sem ter que ser transportada ao colo, encarrapitada nas costas largas de Lula, padrinho rijo que não quer ficar sem peão, mas também não deixa ninguém apeado. Se nem Dirceu deixou que batesse fundo, imagina com Dilma, tão discípula, tão irreprensivelmente fiel de obediências. Como digo, olho daqui. Vejo Serra prestes a morrer envenenado com a poção mágica do silêncio que guardava no bolso como o mais precioso dos bálsamos. Serra a recuar mais e mais sem ser sua intenção, simplesmente porque abusou da demora em dar uns quantos passos à frente. Olho e vejo. Dilma como uma espécie de marioneta e Serra como um ventríloquo. Dilma quer se movimentar sozinha, mas não pode porque os cordelinhos estão na mão de Lula. Serra não mexe os lábios, mas abre a boca e desse silêncio sai a voz cada vez mais ruidosa dos que ganham voz em sua vez. E, como digo, continuo olhando daqui e o que vejo, no entretanto, é a inteligência desafobada de Marina, avançando segura rumo a quem importa, indiferente ao fogo de artifício e aos arregimentamentos de bastidores, tocando a reunir, juntando sua gente a outras gentes, igualmente bravas e capazes. Tem com ela, desde o início a sabedoria dos sábios do Acre, com António Alves à cabeça. Como se não bastasse não param de afluir às suas fileiras artistas, de Caetano Veloso ao realizador Fernando Meirelles, independentes, sociedade civil, académicos, especialistas, técnicos e, o que é mais importante: as bases. Não as bases partidárias, mas as bases da sociedade, o povo mesmo, essa massa viva de que são feitas as nações.
Sei que esteve com Fernando Gabeira no Rio.
Sei também que, além de Gianetti, outros economistas aderiram ao núcleo de formuladores das suas políticas, entre eles José Ely da Veiga, da USP; João Paulo Capobianco, que foi secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente quando Marina comandava a pasta; e Beto Ricardo, director do Instituto Socioambiental.
Sei e agrada-me. Marina precisa de uma proposta económica consistente para propor à eleição. Por mais justa e visionária que seja a sua clarividência ambiental, a sua candidatura não pode permitir que a oposição a enclausure nela. Como o país também não pode consentir a ausência de uma estratégia clara e bem medida na área económica. Não seria justo, na verdade. Lula colocou o Brasil como carro abre-alas das novas potências emergentes. A memória pode ser curta, sobretudo para as ocorrências cujos foguetes estalam ao largo, demasiado longe da vista, para lá da fronteira verdee amarela. A vida é corrida e sofrida. É possível que muitos se esqueçam e outros tantos nem se tenham dado conta do sucesso internacional, das nomeações acumuladas pelo mundo para político da década, dos prémios de personalidade internacional do ano que lhe foram atribuídos, Até pode ser que tenha passado despercebido o ascendente e o prestígio que lhe conferiram o papel carismático do Grande Negociador na COP15 e que o tornaram protagonista em Copenhaga, quando até Obama antecipou a retirada em perda clara. Pode ser. Mas a Copa do Mundo e as Olimpíadas estão aí, são reais, vêem-se e cheiram-se, testemunha-se-lhes o aproximar e isso conta. Conta e muito. Como conta a Bolsa Família, quaisquer que sejam as fragilidades e ataques que se lhes queira imputar. Pode tudo ser ruinoso e corrupto, mas um tecto e comida na mesa são progressos que não esquecem facilmente a ninguém. Muito menos aos que, antes de Lula, só se lembram da barriga a roncar com fome.
Tranquiliza-me ver Marina desperta para essa urgência, rodeando-se de economistas, empresários e financeiros lúcidos e competentes, como Guilherme Leal, da Natura, por exemplo. É um bom sinal. Acho mesmo que devia concentrar-se sem nenhum tipo de hesitação nessa frente da eleição, aproveitando que a supremacia da sua política ambiental é mensagem sólida que já passou e se encontra firmemente enraizada no eleitorado. A esse nível ninguém tem dúvidas do que quer e defende para o Brasil. Já quanto à estratégia económico-financeira para o país, a coisa não é tão líquida – até por força da pasta do ambiente que ocupou e que tantas vezes (ainda que injustamente) a colocaram como a metade avessa à realidade do capital e dos grandes grupos empresariais, aos olhos da opinião pública.
Por muito que revolte e indigne é bom ter presente que as pessoas se deixam facilmente embarcar na deturpação tentadora e conveniente de associar os ambientalistas a seres alienados, desligados do pragmatismo que o quotidiano exige. Marina precisa falar uma linguagem que afaste qualquer buraco por onde essa argumentação fácil e demagógica do combate político possa encontrar permeabilidade.
Assim que avançou com a intenção de candidatura, Marina conseguiu duas coisas notáveis. forçar os seus potenciais opositores a colocarem a transparência política e a questão ambiental no centro dos respectivos programas. Ou seja, marcou a agenda do que vai estar em debate e obrigou os outros candidatos a virem enfrentá-la em duas áreas onde leva clara vantagem. Na primeira pela rectidão de carácter que lhe é publicamente reconhecida e que contrasta com o acumular de escândalos que, sobretudo o PT de Lula (e, claro, Dilma) tem sido pródigo. Na segunda, por se tratar de uma área onde ninguém tem maior preparo e conhecimento de causa do que ela própria.
Encontrar ideias claras, passíveis de serem transmitidas de forma simples e que façam sentido para o eleitorado, no que respeita a uma visão económico-social do Brasil será determinante. Acontece que é justamente este o terreno mais delicado de pisar no que se refere à demarcação de Lula, que é como quem diz do PT e, por fim, de Dilma. Marina terá que encontrar uma forma de o fazer sem se expor à acusação das suas propostas poderem colidir de frente com os benefícios do Estado social e de providência que, por ter tirado tantas famílias da miséria, trazem a maioria o país tão grato a Lula e os índices de popularidade do presidente nos píncaros impressionantes que se aferem.
Pode e deve Marina colher bom contributo do sociólogo Orjan Olsen – outro peso pesado que também fez questão de entrar para a sua equipa – e que, tendo sido director do Ibope, será uma enorme mais valia na leitura de pesquisas e sondagens.
Caio Tulio Costa junta-se à equipa de jornalistas onde já constam Mauro Lopes, Nilson de Oliveira e Ramires, um dos criadores do Migux, um jogo social que conquistou as crianças e adolescentes brasileiros. Percebe-se desde cedo que, à semelhança do que já sucedeu com outras lideranças do PV, de que Fernando Gabeira é um excelente exemplo, que a candidatura de Marina vai explorar todas as plataformas da Internet, espraiando-se por blogs e redes sociais como Twitter, Facebook e Orkut, para fazer circular ideias e projectos.
Marco Antonio Mroz, um dos coordenadores da campanha já disse que, no total, a corrida presidencial de Marina vai gastar menos do que o PT investiu no seu 40º Congresso Nacional (cujo custo foi estimado em R$ 6,5 milhões).
Em baixo, um pouco mais sobre o DNA Brasil
O que é
O índice tem como objetivo medir o progresso real e a qualidade de vida do País, em relação a uma situação ideal, projetada para ocorrer em 2029.
Origem
O índice DNA Brasil é produto de uma reflexão conjunta sobre o desenvolvimento brasileiro, realizada pelo Instituto DNA Brasil e pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP – Unicamp). O NEPP conta com o apoio de pesquisadores do Instituto de Economia (IE) e do Núcleo de Estudos de População (Nepo), da mesma universidade. Foi estabelecido com a ajuda dos participantes do primeiro evento anual do Instituto DNA Brasil, em 2004.
Objetivo
Ele tem como objetivos:
• Visualizar a realidade por meio de indicadores, integrando diversas dimensões.
• Comparar a realidade brasileira com expectativas de futuro e a situação de outros países.
• Balizar a mobilização de atores, públicos e privados, envolvidos em projetos de desenvolvimento.
O objetivo último do Índice DNA Brasil é criar uma mobilização nacional em torno de um projeto para o desenvolvimento social e econômico do País, ressaltando as dimensões problemáticas e estabelecendo, com o máximo rigor e cientificidade possíveis, parâmetros que orientem a formulação de políticas e a ação de atores individuais e institucionais.
Conteúdo
O Índice DNA Brasil vai além das dimensões usadas pelo IDH (renda, longevidade e educação) e apura seu resultado tendo por base sete dimensões sociais e econômicas (sem deixar de considerar as dimensões demográficas da realidade brasileira):
1. Bem-estar econômico
2. Competição econômica
3. Condições socioambientais
4. Educação
5. Saúde
6. Proteção social básica
7. Coesão social
Passo a passo
Foi definida uma forma geométrica para sintetizar a comparação das dimensões incluídas no estudo, baseada nas projeções feitas pelos participantes da reunião organizada elo Instituto DNA Brasil em outubro de 2004, às quais foi atribuído o valor 1.
Situações piores para um mesmo indicador brasileiro definem valores inferiores a 1. Situações melhores, se houver, definem valores maiores que 1. O conjunto de pontos definidos pelos indicadores brasileiros apresentados em 2004 e referentes ao ano de 2002 conformou um polígono que pôde ser comparado às projeções realizadas pelos participantes do referido encontro.
Em face da quantidade de indicadores, a área do polígono projetado (externa) se aproxima de um círculo, que foi adotado para facilitar a visualização gráfica. Em 2005, as informações foram atualizadas e, em sua maioria, referem-se a dados do ano de 2003. A comparação com as projeções para 2029 foi realizada possibilitando a verificação da nova situação relativa do Brasil, diante das projeções.
Foi solicitado aos participantes daquele primeiro encontro que projetassem, para cada indicador, uma situação desejável e realista a ser alcançada no ano de 2029, a partir da situação real brasileira retratada com base em informações de 2002.
Resultados
Em sua primeira medição, o índice apontou que o Brasil estava na faixa de 46,8% dos 100% projetados. Em virtude de correções nos indicadores, esse índice acabou sendo corrigido para 47,6%, ou seja, 52,4 pontos percentuais separavam o Brasil de 2004 do Brasil que os conselheiros do Instituto projetaram como factível e racionalmente desejável.
Em 2005, o índice teve uma pequena melhora: foi para 49,3%. Na sua terceira atualização, em 2006, manteve sua tendência de melhora, ainda que mínima, e subiu para 51,4%.
Referências
www.dnabrasil.org.br
Síntese do índice de 2004 = 46,8% (em PDF)
www.nepp.unicamp.br/dnabrasil/sintese.pdf
Documento completo do índice de 2004 (em PDF)
www.nepp.unicamp.br/dnabrasil/referencia.pdf
DIMENSÕES E INDICADORES SELECIONADOS 2005
BEM-ESTAR ECONÔMICO
Renda Per Capita e sua Distribuição Inter-Regional
Relação entre as Remunerações Médias das Mulheres e dos Homens
Relação entre as Remunerações Médias de Negros e de Brancos
Taxa de Ocupação Formal
COMPETITIVIDADE ECONÔMICA
Exportações Mundiais: Evolução da Participação do Brasil, com Destaque para Produtos ou Setores de Média e Alta Intensidade Tecnológica
CONDIÇÕ ES SOCIOAMBIENTAIS
Instalações Adequadas de Esgotamento Sanitário
Destino Adequado do Lixo Urbano
Tratamento do Esgoto Sanitário
EDUCAÇÃO
Taxa de Escolarização Líquida no Ensino Médio
Concluintes do Ensino Médio na Idade Esperada
Desempenho do Aluno no Pisa (Programa Internacional para Avaliação do Estudante)
SAÚDE
Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP)
Mortalidade Infantil
Coeficientes de Mortalidade por Acidentes Cardiovasculares (ACVs) e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs)
PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA
Cobertura Previdenciária para Maiores de 65 Anos
Financiamento da Atenção à Saúde
COESÃO SOCIAL
Distribuição de Renda Interpessoal
Morte por Homicídio em Homens, na Faixa de 15 a 24 anos
Percentual de Adolescentes que são Mães
Justiça Tributária
26/08/2005
Cidadãos comuns discutem o futuro do país no DNA Brasil
O Instituto DNA Brasil foi criado em 2004 com o objetivo de repensar o país estrategicamente, de forma sistemática e com preocupação interdisciplinar. Pretende estimular a reflexão sobre o Brasil do futuro, desenhar visões de qual país a sociedade deseja. A idéia de criar um instituto com este objetivo surgiu na Fundação Semco, que reuniu em 2002 um grupo de pessoas que acabou se transformando no Comitê Idealizador do Instituto. Os primeiros a se reunirem para pensar o DNA o do Brasil foram os empresários Emerson Kapaz, Horácio Lafer Piva, Hugo Marques da Rosa e Ricardo Semler, os professores Eduardo Giannetti da Fonseca, João Sayad e Gilson Schwartz e os jornalistas Caio Túlio Costa e Leão Serva.
Atualmente, o Instituto é composto por um grupo de brasileiros representativos das mais diversas áreas de atuação que somam setenta personalidades. Entre os membros estão cientistas, empresários, médicos, economistas, antropólogos, artistas, religiosos, filósofos, psicanalistas, historiadores, pessoas de diversas áreas do conhecimento. Horácio Lafer Piva é o presidente da diretoria executiva.
Dna do Brasil Real
O evento DNA do Brasil Real reunirá 50 cidadãos brasileiros de todas regiões do país escolhidos conforme a divisão sócio-econômica brasileira. Durante três dias, reclusos no Instituto Pio XI, em São Paulo, eles repassarão os mesmos temas discutidos no primeiro evento do DNA Brasil por intelectuais e empreendedores de renome nacional.
É a primeira vez que um evento deste porte dá voz aos brasileiros “reais”, vindos de um Brasil totalmente ignorado, nunca ouvido, e escolhidos conforme a representação de cada um conforme a matriz do IBGE. Por exemplo, neste evento se reunirão 26 mulheres e 24 homens (porque o Brasil tem mais mulheres do que homens), 21 pessoas sem renda própria advinda do trabalho, compostas por donas-de-casa, estudantes, desempregados e pessoas que vivem de algum tipo de assistência social (porque no Brasil real, 42% das pessoas estão nesta situação).
O encontro é organizado pelo Instituto DNA Brasil e acontecerá entre os dias 26 e 28 de agosto, no Instituto Pio XI, em São Paulo.
São homens e mulheres de todas as raças, níveis sociais, escolaridades, deficiências, religiões, faixas etárias e das cinco regiões do país. Eles foram encontrados pelo Instituto DNA Brasil com a ajuda de cerca de 200 entidades, ONGs, institutos, associações e fundações atuantes no país.
São pessoas que se encaixam em 50 perfis previamente traçados com base nas estatísticas do último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para a divisão populacional do país. A formatação dos perfis e a procura dos personagens levaram quase um ano para ficarem prontas.
O DNA do Brasil Real é uma continuidade do 1º Fórum DNA Brasil, realizado no ano passado em Campos do Jordão, quando um grupo de 50 personalidades se reuniu para pensar o Brasil estrategicamente. Estiveram presentes Adélia Prado (Poesia), Adib Jatene (Medicina), Celso Lafer (diplomacia), Miguel Nicolelis (neurocientista), Candido Mendes (educação), Paulo Nogueira Neto (ambientalismo) e Regina Casé (Atriz), entre outros.
Cada um dos 50 cidadãos convidados a participar do DNA do Brasil Real tem envolvimento com trabalhos comunitários e o compromisso individual de ajudar a construir um Brasil melhor. “Neste encontro poderemos comparar o Brasil dos intelectuais, discutido no evento do ano passado, com o Brasil profundo, aquele vivenciado pela população. Certamente descobriremos óticas diferentes e teremos a oportunidade de estudar onde estas diferenças são mais gritantes”, diz Caio Túlio Costa, diretor geral do evento.
Em plenárias e salas temáticas, os cidadãos discutirão 15 temas: preservação ambiental e desenvolvimento; educar para quê?; política para quê?; nós e o mundo; religião; quem manda em nós?; novo jeito de trabalhar; exclusão social; propriedade intelectual e competitividade; consumo x sustentabilidade x lucro; saúde; miséria x riqueza; nova longevidade; o Brasil do “por fora”. Nas salas temáticas haverá mediadores, membros do conselho do instituto, que assumirão o papel de “provocadores” das discussões.
Após a realização do evento serão lançados produtos com o resultado das discussões. É provável que um livro-reportagem seja produzido.
Com uma matriz baseada no último Censo, e com a ajuda de mais de uma centena de instituições e organizações não-governamentais, o Instituto DNA Brasil encontrou nas cinco regiões do Brasil os 50 brasileiros reais capazes de compor um grupo que reflita de alguma forma a divisão sócio-econômica do país.
Novo Jeito de Trabalhar
O incentivo ao estudo, flexibilização da CLT e das condições formais de trabalho foram alguns dos pontos debatidos na sala “Novo Jeito de Trabalhar”. Os 12 participantes apontaram problemas graves e pontuais, que travam o desenvolvimento do país, como a falta microcrédito a juros baixos, e o desemprego, que atinge a maioria dos debatedores. Apenas Diego Rojas, de São Paulo, e Djalma dos Santos, de Diadema (SP), os mais novos, levantaram questões sobre conceitos como a flexibilidade de horários e o ócio criativo. Os demais mostram preocupação em tratar de assuntos mais conjunturais.
Os participantes também acreditam que, atualmente, ser empreendedor e buscar sempre o aperfeiçoamento profissional é indispensável para sobreviver no mercado de trabalho. Até um simples pedreiro precisa ser “eclético” para conseguir emprego, comenta José Antônio Ferreira, de Uberlândia (MG).
“Estamos prontos para a flexibilidade? Eu tenho [a flexibilidade no trabalho], mas me sinto culpado em tirar um dia de folga. Pode ser que nesse dia tenha alguma decisão que só eu possa tomar”, diz Djalma.
Em apenas duas horas de debate os convidados conseguiram construir uma lista de propostas:
- Incentivo ao estudo, aperfeiçoamento, e evolução do trabalhador;
- O aluno da universidade pública deve devolver à sociedade o investimento que recebeu, por meio do trabalho voluntário na comunidade, por exemplo;
- Creches e escolas integrais para que a mulher possa se realizar no trabalho sem prejudicar a educação dos filhos;
- Flexibilização da CLT: encargos sociais impedem a criação de empregos e fecham pequenas empresas;
- Uso da criatividade para o homem comum vencer suas crises econômicas particulares;
- Estímulo ao cooperativismo, busca da sustentabilidade e suporte para comercialização dos produtos gerados;
- Oferta maior de crédito para que o trabalhar autônomo possa ter capital de giro para manter-se;
- Qualificar antes de emprestar recursos, qualificação democrática e gratuita.
- Tornar as próprias comunidades multiplicadoras de soluções;
- Expandir projetos como o “Jovem Empreendedor”.
Preservação Ambiental e Desenvolvimento
Como viabilizar o crescimento social sem desrespeitar a população e o meio ambiente? Para responder essa questão, 16 convidados se reuniram na sala temática da “Preservação Ambiental e desenvolvimento”, mediada por Eugenio Singer.
Eles conversaram sobre questões que vão desde a economia até a condição humana frente à natureza e o uso que dela se faz. Para Aldenor Sobrinha Barbosa, de Novo Airão (AM), a sustentabilidade é hoje uma “questão fantoche”. Ele considera que o padrão de consumo das cidades é incompatível com a preservação da floresta. A usura e a ganância das grandes empresas, que segundo ele, só pensam em lucrar, foram apontadas como algumas das causas da destruição da natureza. “Chegará um dia em que a humanidade perceberá que não come dinheiro”, profetiza.
Outra questão importante foi levantada pela também amazonense Maria Miquelina Barreto Machado e diz respeito à falta de profissionais especializados na área que sejam nascidos e criados na região da floresta. Ela pontua que essas pessoas chegam de outros estados e quase nada sabem sobre o local, a comunidade, a cultura e a riqueza do lugar. Nesse momento, Aldenor Sobrinha Barbosa entra na discussão e alerta que é preciso que a população dessas áreas tenha mais voz nos processos legislativos e decisórios. Estes, normalmente são gestados nas grandes capitais do Sul e Sudeste por gente que nunca pisou os pés na Amazônia e desconhece as necessidades regionais.
Enquanto alguns convidados tomavam chimarrão e outros olhavam colares artesanais feitos com sementes da Amazônia brasileira, o mediador Eugenio Singer colocou a seguinte questão: “Como combater a pressão pelo crescimento?” Para Maria Miquelina, de origem indígena, criar normas que regulem o uso de recursos da floresta é fundamental. “De que forma vou retirar madeira? E para quem vou vender?”, questiona. Ela sugere que sejam criados certificados de origem dos produtos amazonenses para combater a ação de atravessadores ilegais e gerar renda para as pessoas do lugar.
Uma reflexão feita por Mauro Alves de Araújo, mereceu a atenção da sala. “Nosso pensamento está ligado ao que comemos. Na busca por alimento, escolhemos quem vive e quem não vive”, observa. Para ele, deve-se “reformar o ser humano”. Ele cita como exemplo o consumismo desenfreado, onde um homem da cidade precisa de quatro mil itens para viver ao longo da vida. Em contrapartida, um índio vive com apenas 80.
Mas a sala não ficou só nos questionamentos. Algumas idéias surgiram para a busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento social e a preservação do meio ambiente. As soluções apontadas permeiam todos os outros temas do DNA do Brasil Real. Para evidenciar isso, as seguintes propostas foram eleitas e relacionadas às salas temáticas do evento:
- O Brasil é patrimônio dos brasileiros (Quem manda em nós?);
- Mandar em nosso território e punir as invasões estrangeiras (Brasil do “por fora”);
- Ecoturismo, qualificação de profissionais, cultura da subsistência (Novo jeito de trabalhar);
- Reforma agrária, agricultura familiar e consciência ecológica (Exclusão Social);
- Integrar a preservação ambiental a todas as áreas do conhecimento (Educar para quê?);
- Integrar o saber popular (regional) ao saber acadêmico (Universidade x pesquisa);
- Organizar a sociedade na luta pelos ecossistemas (Nós e o mundo);
- Medicina tradicional popular e reconhecimento de “patentes naturais” (Longevidade);
- Participação popular na criação das leis e das políticas públicas de preservação (Política para quê?);
- Combater a biopirataria e respeitar patentes de conhecimento (Propriedade Intelectual)
- Utilizar a igreja como difusora de uma conscientização ambiental (Religião para quê).
- Reformar os hábitos de consumo humano (Consumo x sustentabilidade x lucro).
Cf. também:
Poder está distante do brasileiro comum
Carta dos brasileiros aos brasileiros
DNA Brasil quer descobrir a vocação do país
LEAD no DNA Brasil
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