Viagem: a bordo do navio hospital da Marinha que leva o serviço de saúde aos ribeirinhos no Amazonas

Navega o barco pelas extensas águas da Amazónia, levando serviços de saúde, ajuda e conhecimento aos distantes povoados dos caboclos ribeirinhos. Para estas comunidades isoladas é uma rara oportunidade de ver um médico.
Às vezes, a correnteza subiu tanto, o punhado de casario é tão pobre e parco que nem há um pontão onde aportar. Qualquer lugar de boa vontade é bom para improvisar uma espécie de enfermaria e atender quem acorre. Em geral é a sala da casa de alguém que não se importa de abrir as portas ao corropio de necessitados. Mulheres grávidas, crianças a arder em febre, caras inchadas com dentes que doem já nem se sabe há quanto tempo. À medida que o barco serpenteia as águas, a notícia vai-se espalhando sozinha e o povo acorre para não perder a oportunidade da assistência. Geralmente navega-se de noite, apesar de ser mais perigoso porque as águas são bravas e arrastam consigo troncos arrancados às margens e todo o tipo de armadilhas que podem fazer rombo feio e causar o naufrágio. Mas vale a pena porque se pouca em tempo. Com o raiar do dia novo aglotinado ralo de casebres estará perto. Recomeça-se tudo de novo para breve reconforto de quem estava à espera na esperança que, em alguma ocasião, as correntezas arrastassem algum médico àqueles ermos.
Segue a expedição, junto com o barco, pelo sinuoso Rio Purus.Dias a fio. Infatigável. Uma vida feita, também ela, sobre a estrada que por aquelas bandas é de água.
Ao sul do Estado do Amazonas atravessa de Lábrea em direcção a Manaus.
A viagem é a bordo do Montenegro, um navio-hospital flutuante da Marinha, espécie de benção à deriva que o Purus guia às moradas inóspitas dos isolados.

* a reportagem da expedição a que me refiro passou no Bom Dia Brasil