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Livros: 'As Comunidades Imaginadas', de Benedict Anderson

Posted: 3 de mar. de 2010 | Publicada por AMC | Etiquetas: ,


A propósito deste artigo: Um roteiro pelo Rio de Janeiro dos escravos, voltei recentemente a folhear As Comunidades Imaginadas, de Benedict Anderson

Há duas ideias nucleares defendidas na obra:

  1. O desenvolvimento das Nações Unidas e os conflitos despoletados no fim das dinastias europeias e asiáticas em proveito de uma unificação estatal e linguística são evidências de que o nacionalismo é reconhecido como uma moral hegemónica no quadro do pensamento político moderno. 
  2. Apesar da influência que o nacionalismo teve na sociedade moderna, Anderson acredita que suas origens conceituais são inadequadamente explicadas. Defende o autor que o aparecimento do nacionalismo não é resultado da transformação histórica europeia, mas produto da contribuição original dos países colonizados e asiáticos, rompendo assim com as interpretações "europocêntricas" feitas na abordagem da temática das nações.

# e-Book: para ler na íntegra aqui



Um excerto emblemático:

In an anthropological spirit, then, I propose the following definition of the nation: it is an imagined political community - - and imagined as both inherently limited and sovereign.
It is imagined because the members of even the smallest nation will never know most of their fellow-members, meet them, or even hear of them, yet in the minds of each lives the image of their communion. Renan referred to this imagining in his suavely back-handed way when he wrote that 'Or l’essence d'une nation est que tons les individus aient beaucoup de choses en commun, et aussi que tous aient oublié bien des choses.” With a certain ferocity Gellner makes a comparable point when he rules that 'Nationalism is not the awakening of nations to self-consciousness: it invents nations where they do not exist.' The drawback to this formulation, however, is that Gellner is so anxious to show that nationalism masquerades under false pretences that he assimilates 'invention' to 'fabrication' and 'falsity', rather than to 'imagining' and 'creation'. In this way he implies that 'true' communities exist which can be advantageously juxtaposed to nations. In fact, all communities larger than primordial villages of face-to-face contact (and perhaps even these) are imagined. Communities are to be distinguished, not by their falsity/genuineness, but by the style in which they are imagined. Javanese villagers have always known that they are connected to people they have never seen, but these ties were once imagined particularistically-as indefinitely stretchable nets of kinship and clientship. Until quite recently, the Javanese language had no word meaning the abstraction 'society.' We may today think of the French aristocracy of the ancien régime as a class; but surely it was imagined this way only very late. To the question 'Who is the ‘Comte de X?’ the normal answer would have been, not 'a member of the aristocracy,' but 'the lord of X, 'the uncle of the Baronne de Y,'or 'a client of the Duc de Z.
(...) The nation is imagined as limited because even the largest of them encompassing perhaps a billion living human beings, has finite, if elastic boundaries, beyond which lie other nations. No nation imagines itself coterminous with mankind. The most messianic nationalists do not dream of a day when all the members of the human race will join their nation in the way that it was possible, in certain epochs, for, say, Christians to dream of a wholly Christian planet.
It is imagined as sovereign because the concept was born in an age in which Enlightenment and Revolution were destorying the legitamcy of the divinely-ordained, hierarchical dynastic realm. Coming to maturity at a stage of human history when even the most devout adherents of any universal religion were inescapably confronted with the living pluralism of such religions, and the allomorphism between each faith's ontological claims and territorial stretch, nations dream of being free, and, if under God, directly so. The gage and emblem of this freedom is the sovereign state.
"Finally, it is imagined as a community, because, regardless of the actual inequality and exploitation that may prevail in each, the nation is always conceived as a deep, horizontal comradeship. Ultimately it is this fraternity that makes it possible, over the past two centuries, for so many millions of people, not so much to kill, as willingly to die for such limited imaginings.

Benedict Anderson, Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism


Sinopse:
Perhaps the most read book about nationalism. Anderson adheres to the modernization argument explaining the origin of nations. In other words, nations developed as a necessary component of industrial society, though neither "economic interest, Liberalism, nor Enlightenment could, or did, create in themselves the kind, or shape, or imagined community". Breaking from Gellner (the Nations and Nationalism appeared in the same year (1983) as the first edition of Imagined Communities), Anderson places greater emphasis on the constructed nature of culture and on the role of print capitalism to the development of nations. On the cultural front, Anderson argues that pre-national culture was religious culture. Nations replaced this religious culture with their own uniquely constructed national cultures. Anderson places print capitalism at the very heart of his theory, claiming that it was print capitalism which allowed for the development of these new national cultures and created the specific formations which the new nations would eventually take.

por Eric G.E. Zuelow
* professor de História Europeia na Universidade de New England


Conceito de nação:
(...) uma comunidade política imaginada - e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana.

Para ele, a nação seria:

  • Imaginada porque seus membros nunca conhecerão todos os demais; na mente de cada indivíduo reside uma imagem da comunidade da qual participam. Ou seja, ainda que os limites de uma nação não existam empiricamente, seus indivíduos são capazes de criar e imaginar tais fronteiras, criando e imaginando seus membros.
  • Limitada porque a nação é limitada em suas fronteiras por outros territórios; Anderson critica a possibilidade de uma nação abranger toda humanidade, pois seria inviável para a consolidação de um sentimento nacionalista abarcar toda humanidade - uma vez que a nação é um critério de distinção entre grupos e comunidades.
  • Soberana porque o surgimento do nacionalismo, segundo Anderson, está relacionado ao declínio dos sistemas tradicionais de governabilidade (monarquia, na Europa, ou administração colonial na Ásia e Américas) e à construção de uma nacionalidade baseada na identificação étnica, racial e/ou cultural. Esta identificação possuiria um projeto comunitário de união baseada nas diferenças de um povo para o outro A soberania nacional, deste modo, é um símbolo da liberdade frente às estruturas de dominação antigas - gerando novas estruturas de dominação, como a administração estatal, a divisão intelectual do trabalho (administradores, burocratas, professores universitários, etc.), o capitalismo editorial e o surgimento de práticas de controle estatal (censo para a população, mapas para o território e museus para a cultura legítima).
  • Comunidade porque uma nação é concebida enquanto estrutura horizontal na sociedade. Ou seja: é possível membros de diferentes classes sociais, em diferentes posições sociais, ocuparem um mesmo âmbito nacional e estarem vinculados por um projeto em comum.


Cf. também:

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