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Foi assim a colectiva exclusiva do Presidente Lula aos blogueiros

Posted: 24 de nov. de 2010 | Publicada por AMC | Etiquetas: ,


fotos: Ricardo Stuckert e Thiago Melo

Em cima fica o slideshow das fotos que registam a 1ª entrevista concedida exclusivamente pelo Presidente Lula da Silva a blogueiros, a pouco mais de um mês de deixar um cargo que desempenhou durante dois mandatos sucessivos.

Segue o vídeo com a integra da entrevista, com duas notas:
  • Duração: 2h 07min. 26seg.
  • Aviso: não estranhe o facto de não haver som durante os primeiros 2min.30seg.. Os micros de captação só foram ligados quando o encontro teve oficialmente início, ok?!


link

Fica ainda o resumo oficial do encontro, colocado online pelo Blog do Planalto. Cumpre a versão oficial da coisa. As outras versões ficam por conta daqueles que participaram na entrevista colectiva e deixo para que leiam directamente na fonte, ou seja, nos blogs dos respectivos entrevistadores. Encontram-nas no arquivo relativo ao dia 24.Nov.2010 (os seguintes), aqui: Altamiro Borges (Blog do Miro), Altino Machado (Blog do Altino), Conceição Lemes (Vi o Mundo), William Barros (Cloaca News), Eduardo Guimarães (Cidadania), Leandro Fortes (Brasília, Eu Vi), Pierre Lucena (Acerto de Contas), Renato Rovai (Blog do Rovai), José Augusto Duarte (Os Amigos do Presidente Lula), Rodrigo Vianna (Escrevinhador) e Túlio Vianna (Blog do Túlio Vianna).

 O Presidente com os blogueiros e a equipa técnica que viabilizou a iniciativa.





Quatro meses após transmitir a faixa e o cargo de Presidente da República a Dilma Rousseff -- tempo que avalia como necessário para “desencarnar” -- Lula deverá se dedicar à blogosfera. A promessa foi feita por Lula nesta quarta-feira (24/11) na sua primeira entrevista coletiva a blogueiros, realizada no Palácio do Planalto, em Brasília. O presidente pretende utilizar o espaço na rede mundial de computadores para debater questões como o caso “mensalão” e o trabalho que pretende realizar em países da América Latina, Caribe e África.
Durante mais de duas horas de entrevista, que envolveu 11 blogueiros (10 estavam presentes no Palácio, uma online pela webcam) e as pessoas que acompanhavam pelo twitter, Lula conversou sobre eleições, justiça, imprensa, banda larga e projetos de governo, entre outros. Revelou que o pior momento de seus oito anos de governo foi o acidente em 2007 com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, deixando um saldo de 199 mortos. Lula informou que no início recebeu informações desencontradas, mas quando ligou o aparelho de tv, no gabinete do Palácio do Planalto, pode visualizar o tamanho da tragédia e perceber o tamanho do peso que carregaria em seus ombros.
“O dia em que sofri mais foi no acidente do avião da TAM em Congonhas. Nunca vi tanta leviandade”, disse, criticando os comentários e afirmações de setores da imprensa que acusavam o governo pelo acidente -- as apurações do caso apontaram erro humano dos pilotos como causa do acidente. “Foi o dia mais nervoso da minha vida. Não quero que isso se repita.”


Ouça aqui a íntegra da entrevista:
Para ler a transcrição da entrevista, clique aqui.

Lula iniciou a entrevista respondendo a indagação de Renato Rovai, do Blog do Rovai, sobre os avanços de seu governo no setor de comunicações. O presidente disse que no ano passado o governo federal levou a cabo a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), apesar da resistência de setores da mídia nacional. Segundo ele, o documento proposto a partir da conferência resultará em projeto a ser encaminhado ao Congresso Nacional. “Estamos preparando agora o caminho que vai permitir a aprovação de um texto básico”, afirmou.
O presidente disse ainda que somente quando deixar a Presidência da República -- o que classificou como “desencarnar” (termo utilizado em diversos momentos da entrevista) -- poderá ter a exata dimensão daquilo que a iniciativa significou para a sociedade brasileira. Uma das providências será registrar em cartório todas as ações desenvolvidas nos dois mandatos para que o documento fique num acervo para ser consultado posteriormente.
A segunda intervenção veio por webcam. A blogueira Conceição Oliveira (blog Maria Frô) levantou de São Paulo a questão das quotas nas escolas públicas. Como a imagem mostrou a educadora fumando, antes de respondê-la, Lula disse que havia parado de fumar há um ano e que recomendava a ela a mesma atitude. Retornando ao tema levantado, Lula explicou que no ProUni -- por exemplo -- 40% dos alunos são negros. Além disso, será inaugurada em Redenção, no Ceará, a Universidade Federal de Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab), que terá cinco mil alunos brasileiros e outros cinco mil estudantes de países africanos que integram a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
O jornalista Leandro Fortes, do blog Brasília, Eu Vi, colocou a polêmica do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) na discussão e deu foco às investigações sobre os brasileiros mortos pelo regime militar na região do Araguaia. Fortes questionou o fato de o Brasil, dentre as nações da América do Sul, não ter punido os autores ou mandantes de tais crimes. O presidente disse que o tema foi tratado a exaustão em seu governo. Disse que por determinação dele foi promovida ampla investigação, inclusive com utilização de anúncios na mídia com pedidos de informações sobre o assunto. O objetivo foi descobrir ossadas humanas.
Aborto foi outro tema que envolveu a indagação de Fortes. Lula afirmou que pessoalmente é contrário, mas como chefe de Estado considera a questão como sendo de saúde pública. Isso porque tem certeza que muitas jovens -- de famílias mais carentes -- se submetem a técnicas pouco convencionais para a retirada de fetos, como uso de agulha de crochê ou a ingestão de chás de abacate e azeitona, colocando em risco suas vidas.
Lula abordou temas como a indicação de ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), as eleições no Acre, o controle dos meios de comunicação, as reformas trabalhista e política, a banda larga, a reforma da ONU, dentre outros. Ele explicou que jamais indicou um ministro para o Supremo pensando em se beneficiar de decisões do indicado. O presidente avaliou um por um os ministros que receberam indicações dele. Sobre o nome para a vaga de Eros Grau, o presidente explicou que deverá ter uma análise sem pressa e admitiu a possibilidade de fazer a indicação em conjunto com a presidente eleita Dilma Rousseff.
“O indicado terá pelo menos três grandes questões pela frente. A lei da Ficha Suja, o julgamento do mensalão e a decisão sobre o processo de extradição do Batisti (Cesare Battisti, italiano preso pela Polícia Federal e acusado de assassinatos na Itália”, ponderou.
Em sua última intervenção na entrevista, o presidente Lula afirmou que o ex-candidato José Serra, que disputou as eleições presidenciais deste ano contra a Dilma Rousseff, deve desculpas à população por ter encenado uma agressão durante passeata no Rio de Janeiro, em que foi atingido por uma bolinha de papel. Lula queixou-se também da tentativa de setores da mídia em favorecer o candidato tucano com este fato.
Ao término da entrevista, Lula se posicionou com o grupo de blogueiros para as fotos. Ele se furtou em fazer comentários sobre a importância do trabalho dos blogueiros na rede mundial de computadores e recebeu convite para participar do II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas. Participaram a entrevista Renato Rovai (Blog do Rovai), Leandro Fortes (Brasília, eu vi), Altino Machado (Blog do Altino Machado), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Altamiro Borges (Blog do Miro), José Augusto (Os Amigos do Presidente Lula), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), William Barros (Cloaca News), Túlio Vianna (blog do Túlio Vianna) e Pierre Lucena (Acerto de Contas).

via Blog do Planalto


Destaco, por razões óbvias, as perguntas colocadas e as respostas obtidas pelo meu mui caro e velho amigo Altino Machado ao Presidente.
Eis, pois, a transcrição das mesmas:
*

Altino Machado: Presidente, bom dia. Eu sou do Acre, que é um colégio eleitoral pequeno, o senhor conhece muito bem. E embora tenha pouco mais de 470 mil eleitores, o Acre, grosso modo, é um ícone para o PT, como é São Paulo para o PSDB.
O José Serra venceu nos 21 dos 22 municípios do Acre. Jorge Viana não se tornou o senador mais votado, proporcionalmente, do país, perdeu na capital. Tião Viana foi eleito muito apertado, é...

Presidente: Marina teve (incompreensível) e teve só 3% dos votos.

Altino Machado: É. Então, esse... Por que o senhor não é “o cara” no Acre? Embora, embora tenha sido dito assim, o Tião Viana disse: “O povo do Acre foi injusto com o Lula”. O Aníbal Diniz, que vai assumir a cadeira dele no Senado, disse: “Nós temos que entender a hostilidade do eleitor acreano contra Lula e contra Dilma”, não é? Como é que o senhor interpreta tudo isso? Como é que... esse caso do Acre?

Presidente: Espera aí, eu quero te agradecer por essa pergunta, porque é uma coisa que eu trago desde a minha primeira eleição para Presidente, é uma coisa... Eu perdi para o Alckmin lá.

Altino Machado: Sim, no primeiro turno.

Presidente: No primeiro turno, eu ganhei no segundo. E eu tenho... eu visito o Acre desde 1979, ou seja, por causa do Acre eu fui condenado a três anos e nove meses de cadeia. Não cumpri a pena porque... por causa da morte do assassino no comício.

Altino Machado: Eu estava lá naquele comício que o senhor fez e foi, em seguida, para Brasiléia.

Presidente: Essa semana eu encontrei com o Jorge em um jantar da Câmara Brasil-França, eu falei: “Jorge, eu preciso sentar com você, porque eu preciso entender o que está acontecendo no Acre”. Veja, eu tenho a convicção de que se pegar... O Fernando Henrique Cardoso foi até um bom presidente, na relação com o Acre.

Altino Machado: Sim.

Presidente: Mas eu tenho a convicção de que se pegar tudo o que foi feito no governo Fernando Henrique Cardoso, governo Itamar, governo Collor, governo Sarney, se somar tudo não dá a metade do dinheiro que eu pus no estado do Acre para fazer as coisas. Inclusive, vocês vão ter o prazer de ver, no Acre, os cinco rios do Acre todos com ponte estaiada, que foi uma briga para a gente poder convencer o financiamento daquelas pontes, por causa que um paulista ou um cara de Brasília não tem noção da dificuldade do que é fazer uma obra no estado do Acre, que não tem pedra, é preciso trazer pedra de outros estados, pedra importada de outros estados, às vezes demora 40 dias para chegar, se não chover demora quatro meses, ou seja, é um dilema para fazer as coisas no Acre.
E durante a campanha eu estava preocupado. Eu dizia para o Tião Viana e para o Jorge: “Olhem, eu gostaria de estudar profundamente o Acre, como é que funciona a cabeça do companheiro do Acre”. Sobretudo porque já havia um sinal muito forte de que mesmo o companheiro Jorge Viana sendo a liderança que é, o Binho sendo o quadro que é, tendo a prefeitura da capital e tendo o Tião Viana. Eu nunca vi ninguém trabalhar tanto como o Tião Viana. O Tião Viana saía daqui na quinta-feira, chegava lá, ia para todas as cidades. O PT governa 12 dos 22 municípios, tem mais cinco aliados e perdeu em quase todos, ou seja, é inexplicável. Eu acho que precisa um estudo sociológico sobre o Acre, ou o que os companheiros erraram na política do Acre. Tem erro, tem erro. Eu não ouso dizer aqui o erro antes de fazer... Mas daqui a uns seis meses, quando eu for ao Acre, sem ser presidente, eu me comprometo a te dar uma entrevista dizendo o que eu acho que aconteceu no Acre.

Altino Machado: Obrigado.

Presidente: Eu não quero ser grosseiro e fazer um julgamento precipitado. Mas certamente, certamente nós erramos no Acre por presunção. Não sei se você sabe, na minha opinião uma das razões pelas quais a Marina foi candidata a presidente é porque ela tinha convicção de que não se elegeria senadora pelo Acre, como aconteceu, de fato, uma votação pequena.
Então, eu quero, eu quero aprender o que aconteceu no Acre, não apenas com a campanha majoritária, mas com os companheiros lá. Ou seja, o Jorge Viana quase que não se elege, o Tião Viana foi 50,04%, quando a gente imaginava que ele ia ter 80%, 90%. Então, certamente não é erro do povo. Posso te garantir o seguinte, eu quero começar dizendo o seguinte: se tem uma coisa certa lá é o povo. É preciso que, ao invés de a gente ficar culpando o povo, a gente sente, faça uma reflexão [sobre] onde é que nós pisamos na bola no Acre, porque certamente o erro é nosso. Ninguém apanha tanto se acertou. Então, nós temos erros. É só a gente ter humildade, ter humildade e descobrir o que está acontecendo no Acre, porque eu tenho convicção, Altino, e você também, de que os Viana fizeram um bem para o Acre muito grande. Eu conheço o Acre desde 1979.

Altino Machado: Inegável.

Presidente: Eles transformaram aquilo em um estado. Rio Branco virou uma cidade bonita. Mas você percebe que não basta obra, não basta obra. Eu tenho na minha cabeça há muitos anos, o povo não vota numa pessoa porque ele fez uma ponte, porque ele fez uma rua, não.
O povo vota se o resultado daquilo teve uma explicação política convincente para as pessoas. E eu acho que a política está mal trabalhada no Acre. Você está lembrado? Chico Mendes virou herói mundial, mas foi candidato a prefeito em Xapuri, teve 300 votos. Osmarino saiu na capa do New York Times muitas vezes; foi candidato a prefeito em Brasileia, acho que não teve nem 100 votos. Você percebe? Há uma rejeição a um determinado tipo de discurso, que nós precisamos discutir como enfrentar isso.
Me comprometo daqui a seis meses, Altino, a ter uma conversa contigo...

Altino Machado:  Uma entrevista exclusiva. Muito bem!

*

# Cf. transcrição integral da entrevista aos blogueiro: AQUI.

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