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Debate sobre os destinos do 'lulismo'

Posted: 14 de jan. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas: , , , ,


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O filósofo José Arthur Giannotti e o cientista político André Singer discutem o legado do governo Lula. A conversa foi conduzida por Mário Sergio Conti, director de redação da revista Piauí, para o Instituto Moreira Salles.
Recomenda-se vivamente assistir na íntegra: basta clicar no link abaixo, para expansão do texto.


parte 1:


No primeiro bloco do debate, o filósofo José Arthur Giannotti discorda da ideia proposta por André Singer, para quem o momento político brasileiro recupera traços do varguismo. Ele lembra que Getúlio fundou dois partidos, ao passo que Lula, a quem chama de “extraordinário macunaíma”, teria dissolvido os partidos políticos, criando “uma meleca geral”. Ele aponta ainda a necessidade de se qualificar os termos do surgimento da nova classe média. “Não queremos uma classe média mixa”, afirma. “Não podemos perder padrões de excelência”.
André Singer refuta a ideia de desestruturação do sistema partidário. Para ele, há uma tendência de americanização da política brasileira, com a polarização entre PT e PSDB. O cientista político acredita ainda, ao contrário de Giannotti, que os oito anos de governo Lula representam o rompimento com o “ciclo neoliberal” iniciado por Collor e intensificado por FHC.

parte 2:


Na segunda parte da conversa, Giannotti afirma que o PSDB jamais teria feito o programa Bolsa-Família, pois ficaria perdido na exigência de condicionantes. “E nem foi tão caro assim”, reconhece. A afirmação é rara entre os quadros tucanos, que costumam reivindicar para si a criação dos programas sociais intensificados pelo governo Lula. Apesar disso, o filósofo acredita que o Bolsa-Família não é indutor de cidadania, pois estimula uma cidadania concedida, não conquistada.
Singer, ao contrário, não vê traços de clientelismo no programa e acredita que ele representa uma expansão efetiva da cidadania no Brasil. Acredita ainda que é impossível surgir uma terceira força no quadro partidário brasileiro capaz de fazer frente a PT e PSDB.

parte 3:


Neste trecho, André Singer defende que a queda da desigualdade é significativa no país e que ela não se restringe apenas à renda proveniente do trabalho, mas também à diferença entre a renda do trabalho e a renda do capital. Os níveis, segundo ele, estão voltando aos índices pré-1964. Contestado por Giannotti, para quem isso é pouco significativo, ele rebate: “Nós vivemos uma ditadura, duas décadas perdidas e depois um período neoliberal. Tudo tendendo a jogar no aumento da desigualdade”.
Giannotti recusa o rótulo de neoliberal atribuído ao governo Fernando Henrique. Para ele, as privatizações não implicam necessariamente um estado neoliberal: “Dizer que entramos no neoliberalismo por causa das privatizações é falso”, afirma. “Não é preciso ter como projeto o aumento da propriedade estatal. Dizer que é neoliberal é evitar a discussão sobre qual estado nós queremos.”

parte 4:


Este bloco concentra análise sobre a situação do ensino superior no Brasil. Segundo Giannotti, não basta investir na democratização e criar universidades federais, como no governo Lula. A qualidade do ensino saiu do foco. “São escolinhas que receberam o nome de universidade. Houve uma massificação violenta do ensino, com consequências catastróficas.” Giannotti argumenta que todo país que passa pelo processo de democratização de ensino cria um sistema de formação de quadros. “O Brasil tem isso? É claro que não. As questões básicas foram empurradas com a barriga para a dona Dilma, quero ver como ela vai resolver.”
Singer vai na direção oposta. “Na educação e na saúde, é muito claro o que é o neoliberalismo”, diz ele. “Estamos em face de uma disjuntiva: ou ter saúde pública e educação publica universal, ou ter educação privada para aqueles que podem pagar. O governo FHC acelerou isso por meio de um sucateamento das universidades federais.”

parte 5:


A última parte da conversa gira em torno dos limites impostos à industrialização no Brasil. Já é possível pensar num país que deixe de ser agroexportador e se torne capaz de uma produção industrial de ponta? André Singer acredita que sim. Ele afirma que, apesar da situação internacional instável e da extensão ainda indefinida da crise econômica de 2008, a importância do Brasil no cenário internacional mudou. “Estamos diante de uma janela de oportunidade”, diz.
Já Giannotti acredita que não adianta o país investir em tecnologia sem saber antes quais as áreas em que efetivamente pode fazer diferença. “Sabemos que 60% das exportações são de matéria-prima. Precisamos investir nas áreas certas, que agreguem valor”, afirma ele. “Sem um plano de longo prazo que vá além da briguinha entre PSDB e PT, vamos retroceder. É preciso lembrar que há países que dão certo e há países que não dão. Não queiramos imitar os nossos irmãos argentinos.”

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