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Défice da balança alimentar portuguesa disparou 23,7% na última década

Posted: 10 de jan. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas: , ,

Os preços dos produtos alimentares atingiram um novo máximo histórico em Dezembro, com valores superiores aos que em 2008 chegaram a provocar tumultos no Haiti e no Egipto. Há 16 meses consecutivos que os preços se mantêm em alta e novas subidas nos cereais devem registar-se este ano, avisa a FAO.


O mais recente índice mensal da Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO), das Nações Unidas, que agrega 55 matérias alimentares, mostra variações de preço significativas em produtos que incluem cereais, sementes de óleo, lacticínios, carnes e açúcar.
O índice subiu para 214,7 pontos, mais 8,7 do que em Novembro, e passa mesmo os 213,5 de Junho de 2008, quando se deu a crise alimentar arrastada pelos máximos históricos do petróleo e que fez disparar os números da fome e provocou mortos em vários países.
Pelo terceiro ano consecutivo, o açúcar valorizou em 2010, tendo disparado, em Dezembro, para os 398,4 pontos, mais 25 do que no mês anterior.
Os cereais subiram 14,3 pontos, para os 237,6 no último mês de 2010. Só a carne e os lacticínios tiveram ligeiros aumentos, respectivamente, de 141,5 para 142,2 pontos e de 207,8 para 208,4.
E, num contexto de “grandes incertezas, como o actual, é expectável que o preço dos cereais continue a encarecer em 2011, comentou à agência financeira Bloomberg Abdolreza Abbassian, economista da agência da ONU. “Se algo correr mal com a colheita da América do Sul, existe muita margem para os preços crescerem ainda mais”, especificou.
Para responder à procura de cereais entre este ano e o próximo e contrariar a actual tendência de descida, a produção mundial terá de aumentar, pelo menos, em dois por cento, nota a FAO.
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foto: Pedro Cunha

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) revelou na quarta-feira que o índice de preços dos alimentos aumentou, pela sexta vez consecutiva, em Dezembro, atingindo um valor recorde (214,7 pontos, acima do máximo de 213,6 pontos que registou na crise alimentar de 2008), situação que Maria Antónia Figueiredo considera “muito preocupante” para Portugal.

“Se somos muito dependentes, somos muito vulneráveis a qualquer aumento de preços que haja ao nível do mercado internacional”, afirmou a secretária-geral-adjunta da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI).
Maria Antónia Figueiredo sublinhou que Portugal não produz açúcar, depende muito das importações para produzir pão, produz apenas 50 por cento da carne de vaca que consome e apenas está próximo da auto-suficiência no caso dos suínos e das aves, que têm sido também afectados pela subida dos preços porque a base das rações são os cereais.
“Só somos auto-suficientes no vinho e no leite”, apontou a também presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e Importação Agro-Alimentar (OMAIAA).
A engenheira apela, por isso, a que Portugal encare “a agricultura como um sector estratégico”, retomando a produção na “metade do país que está desertificada e despovoada”.
A responsável da CONFAGRI sublinhou que para Portugal manter “um mínimo de segurança na alimentação” é preciso promover a produção nacional.
“A sociedade tem de valorizar o sector agrícola e encarar a profissão com dignidade”, disse.
Hoje em dia, ser agricultor ou ser empresário agrícola já não é como antigamente, já não é ser do campo. No futuro, quem tiver terrenos agrícolas a produzir terá um bem muito importante”, declarou Maria Antónia Figueiredo, acrescentando que a recuperação de terras abandonadas poderia até ajudar a diminuir o desemprego.
A presidente do OMAIAA adiantou que “não há um fenómeno específico” que justifique a escalada de preços, mas antes uma conjugação de factores, entre os quais o facto de os alimentos se estarem a transformar numa forma de rentabilidade, à semelhança do petróleo.
Mas há também que considerar a alteração dos padrões de consumo a nível mundial ou o impacto de catástrofes como os incêndios que devastaram a Rússia no Verão passado e levaram um dos principais produtores mundiais de cereais a fechar as suas fronteiras à exportação.
Apesar de tudo, cenários de ruptura de stocks, como aconteceu com o açúcar em Dezembro, são pouco prováveis, “a não ser que haja uma greve de camionistas”, mas os alimentos deverão ficar mais caros.

fonte: Agência Lusa

foto: Pedro Elias

Portugal vai ter de pagar mais para garantir a alimentação

Temos de importar mais de 60 por cento da carne que consumimos, deixámos de ter produção de açúcar e só há pouco tempo começámos a plantar olival.
E temos de importar praticamente tudo o que consumimos em matéria de cereais, até mesmo para alimentar o gado nacional. Nos últimos dez anos, o défice da nossa balança comercial alimentar disparou 23,7 por cento. Os portugueses estão cada vez mais dependentes do estrangeiro para comer e, por isso, cada vez mais vulneráveis a uma escalada dos preços das matérias-primas alimentares como a que está a acontecer agora.
De acordo com os dados da Organi- zação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), os preços das matérias-primas alimentares nunca estiveram tão altos como agora. O índice da FAO, que reúne 55 produtos diferentes, atingiu em Dezembro o recorde histórico, depois de ter estado a subir durante seis meses consecutivos. O açúcar, os óleos e os lacticínios acumulam as maiores subidas desde 2009, mas os cereais e a carne também estão a aumentar.
O ministro da Agricultura, António Serrano, disse na semana passada ao Jornal de Negócios que esta nova crise pode ser uma oportunidade para Portugal, incentivando os produtores. Mas a verdade é que o país está mais vulnerável do que nunca a um choque de preços deste tipo, devido à elevada dependência do estrangeiro para se abastecer da maioria dos alimentos.
Para já, a escalada dos preços ainda não se traduziu em subidas significativas dos preços finais - a inflação nos produtos alimentares rondava os 2,5 por cento em Novembro - mas já fez aumentar os custos na importação de alguns produtos. É o caso dos de cereais que, só em Outubro, dispararam 76,9 por cento, para os 71 milhões de euros. Os gastos com compra de carne no exterior também subiram 1,4 por cento.
"Todos os factores de produção aumentaram de forma brutal, criando uma situação insustentável para muitas empresas da fileira agro-alimentar", revela Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA).
Problemas climatéricos que afectaram as colheitas ou as produções na Rússia, na Argentina e na Austrália, aliados a um aumento da procura por parte de países como a China e a Índia, ajudam a explicar a subida dos preços das matérias-primas. Aos custos elevados, junta-se, em Portugal, um "problema de soberania alimentar", decorrente "de anos e anos de uma política agrícola comum que nos fez desinvestir na produção", considera o director da FIPA.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o nosso défice comercial (saldo entre as exportações e as importações de alimentos) aumentou 23,7 por cento entre 1999 e 2009, totalizando 3,3 mil milhões de euros (ver infografia). Apesar de as exportações terem crescido mais de 100 por cento nesse período, as importações também subiram mais de 50 por cento e continuam a representar quase o dobro dos produtos que exportamos. Ainda assim, o valor do défice face ao produto interno bruto diminuiu, embora não tanto quanto seria de esperar, passando de 2,3 por cento em 1999 para dois por cento em 2009.
Em 2010 (pelo menos até Outubro), e também em 2009, houve até reduções ligeiras do défice alimentar, mas sobretudo devido à crise, que levou a uma retracção das importações, enquanto as exportações mantiveram o seu fôlego.

Impacto nos preços?

Para Maria Antónia Figueiredo, presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e Importações Agro-Alimentares (OMAIAA), a escalada das matérias-primas alimentares pode conduzir a um aumento dos preços finais para o consumidor, mas isso "vai depender dos agentes do mercado e da existência ou não de stocks suficientes". Alguns sectores, como o da produção de pão e de carne, não tencionam repercutir nos preços finais o aumento dos custos com as matérias-primas (ver textos ao lado). O mesmo se passa com os grandes retalhistas.
"Nos últimos anos, o sector da distribuição tem conseguido acomodar os aumentos das matérias-primas, comprando mais caro ao produtor e não repercutindo isso no consumidor, e é natural que continue a fazê-lo", afirma Luís Reis, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição. O responsável considera que "o aumento da eficiência no sector torna pouco provável a subida dos preços este ano, ainda para mais num cenário em que se prevê uma queda do consumo privado.
Mas, enquanto Portugal ainda só receia um aumento dos preços, outros países já estão a pagar a factura. Moçambique foi o primeiro a dar sinais de alarme, quando, em Setembro de 2010, 13 pessoas foram mortas durante protestos contra o aumento de 30 por cento no preço do pão. Na semana passada, contestação tomou de assalto a Argélia, onde os preços do açúcar e do óleo dispararam. O principal receio é que uma nova onda de agitação social atinja os países menos desenvolvidos como aconteceu durante a crise alimentar de 2007-2008.
Nessa altura, um cocktail explosivo de más colheitas agrícolas, aumento da procura por parte dos países emergentes, maior produção de biocombustíveis, à mistura com a especulação nos mercados, provocou uma subida gigante nos preços das matérias-primas alimentares.
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