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A propósito da vaga de frio polar que se instalou em Portugal...

Posted: 23 de jan. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas: , ,

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fonte: IM

Leio em O Público:

[O frio polar vai manter-se nos próximos nove dias]. Em Lisboa foi já activado o plano de contingência para os sem-abrigo, que estão desde sexta-feira a ser encaminhados para o Pavilhão Desportivo da Ajuda. Ali foi montada uma operação especial que prevê o acompanhamento por técnicos da autarquia e a distribuição gratuita de bebidas e refeições quentes. De prevenção está o pavilhão do Casal Vistoso, no Areeiro, que, se for necessário, também começará a ser utilizado.
Outros locais a que esta população costuma afluir, como as estações de Metro do Intendente, Saldanha e Baixa-Chiado e a estação da CP de Santa Apolónia, estão a ser monitorizados por brigadas do departamento de Acção Social da câmara e da Protecção Civil municipal. Uma linha de apoio, disponível através do número 213262646, foi também activada para dar resposta a eventuais necessidades da população.
O plano de emergência irá manter-se activo enquanto as temperaturas mínimas na capital forem de 3ºC ou menos graus, garantiu hoje o vereador com o pelouro da Protecção Civil municipal. Não se prevê que a situação se altere ao longo de toda a semana que aí vem.

A massa de ar frio que se instalou nos últimos dias em Portugal vai permanecer no mínimo por mais 9 dias. Por essa razão, o Instituto de Meteorologia resolveu prolongar até às 12h de amanhã o aviso amarelo em oito distritos. Mantém-se também o mesmo nível de alerta relativamente ao vento, que pode atingir rajadas da ordem dos 80 a 90 Km/h nas terras altas.
À excepção do Algarve, onde as temperaturas mínimas rondam os 10ºC, todo o restante território nacional  registará valores abaixo dos 5ºC, de acordo com a previsão a 10 dias que se pode ler no site do IM.
Já foi o tempo em que Portugal podia, com propriedade, ser classificado como um clima temperado. Pode continuar a figurar nesse parâmetro, mas a experiência real de quem por cá habita deixou de o confirmar. Actualmente derrete em ardor de trópicos durante o Verão e gela sob um frio glaciar no Inverno. Estes extremos prolongam-se meio a meio ao longo do ano. As estações intermédias que faziam a transição, Primavera e Outono, praticamente desapareceram.
A par com as taxonomias climáticas deveriam rever-se também as políticas públicas de ajuda à população carenciada, em particular aos sem abrigo. O número de pessoas que mora na rua não pára de aumentar em Portugal. Sabe-se, aliás, que tende a engrossar, com a crise económica que o país atravessa e com o flagelo do desemprego a atingir percentagens alarmantes e sem precedentes..
Pergunto-me se é razoável, diante do efeito das alterações climáticas tão intuitivamente percepcionado por todos nós no dia-a-dia,  manter esquemas de intervenção concebidos segundo um modelo de clima temperado.
No último Verão, Portugal destilou em temperaturas acima dos 30º e por semanas a fio raiou picos de calor com temperaturas na ordem dos 49º (ler, aliás, aqui e aqui). Por oposição, os períodos ininterruptos de chuva e temperaturas mínimas a rondar os 0º têm-se tornado uma constante dos Invernos mais recentes.
Percebe-se que se torne necessário estipular uma regra para accionar planos de protecção civil. Só não se percebe porque raio os sem abrigo só têm direito a alguns (poucos!) cuidados quando os termómetros descem a fasquia dos 3º. Vá alguém experimentar dormir ao relento, nas noites em que os boletins meteorológicos dizem que estão 5º ou 7º graus, para se ver o quão 'tolerável' é!...
Definir os 3º para patamar de auxílio é, ao limite, de uma tremenda hipocrisia social. Que as médias permitam estabelecer fiéis a partir dos quais a sobrevivência humana fique ameaçada, é uma coisa. Que se proceda como se fosse suportável não ter tecto em circunstâncias já demasiado próximas desse nível mínimo, é outra bem diferente.
Choca-me que a razoabilidade precise de atingir os 3º para ser considerada consensual e digna de alerta geral. A fasquia deveria estar colocada muito, mas muito antes, que é também como quem diz, muito, mas mesmo muito mais acima.

Cf. também:

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