Os governos de Caracas e Havana, que vêem a iniciativa como um ponto estratégico de suas relações bilaterais, passarão a estar conectados por meio de um cabo de 1,6 mil km, que se estenderá da cidade de Camuri, na costa venezuelana, a Siboney, em Santiago de Cuba.
Com a medida, os dois governos dizem ter encontrado uma forma de romper o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba desde 1958.
"Um dia chegará ao fim esse bloqueio a Cuba, injustificado, terrível e arbitrário do governo mais poderoso do mundo, sem nenhuma razão", afirmou Chávez, na semana passada, para ironizar que "quem sabe, o cabo submarino não chega até os Estados Unidos?".
De acordo com o ministério de Comunicação e Informática de Cuba, o cabo submarino ampliará em 3 mil vezes a velocidade de transmissão de dados e deverá reduzir os custos do serviço de internet no país.
Conexão
Apesar disso, o governo cubano indica que por enquanto o acesso à internet será limitado a centros públicos (infocentros), lanhouses e ao próprio governo. Os cubanos não terão acesso à rede em suas casas. A justificativa é a de que não há verba e tecnologia para levar pontos de conexão e computadores para toda a população.
"O impulso para a conexão não se resolve de um dia para outro porque custa muito dinheiro e são necessários outros investimentos", afirmou o vice-ministro cubano de Comunicação, Ramón Linares, à imprensa local.
O vice-ministro cubano, no entanto, disse que no futuro "todo aquele que tiver um telefone deve ter como política o direito à conexão", disse.
O novo sistema de fibra ótica terá um custo de US$ 70 milhões e funcionará de maneira paralela ao sistema via satélite existente na ilha, cujo desempenho é lento e custoso.
'Barreira consensual'
O historiador e analista político cubano Luis Suarez, professor do Instituto Superior de Relações Internacionais da Universidade de Havana, concorda que a dificuldade de acesso à internet em Cuba está relacionada, primeiramente, ao alto custo do serviço e às precariedades de sua plataforma tecnológica, atribuída pelos cubanos ao embargo econômico norte-americano.
"Nenhum país oferece gratuitamente acesso à banda larga e Cuba não tem recursos econômicos suficientes para pleitear o acesso individual a toda a população", afirmou Suarez à BBC Brasil.
No entanto, Suarez também relaciona os limites no acesso à rede ao que ele chama de "barreira conceitual", relacionada ao livre acesso à conteúdos disponíveis na rede.
"O conceitual precisa ser eliminado, que é a restrição a determinados conteúdos. Esse é um debate de anos e que continua presente, de maneira paralela, nas discussões sobre as reformas no sistema econômico", disse.
O acesso à internet em Cuba está centralizado em pontos de uso coletivo do serviço, como infocentros, e o custo ainda é alto.
Nesses locais, o acesso é limitado à servidores de correio eletrônico e uma espécie de intranet, cuja navegação ainda é controlada.
O acesso de organizações sociais e de acadêmicos, no entanto, é diferenciado. Estes grupos têm acesso individualizado ao serviço, sem restrições.
Flexibilização
A chegada do acesso à banda larga, que passará a operar a partir de julho, ocorre em meio a um processo de reforma econômica encabeçado pelo presidente Raul Castro, no qual está prevista uma redução do papel do Estado na economia e a flexibilização para a abertura de pequenas e médias empresas.
Para o sociólogo venezuelano Miguel Angel Contreras, professor da Universidade Central da Venezuela, o acesso à banda larga na ilha, ainda que inicialmente restrito a uso estatal, pode ser um precedente para estimular a população à exigir maior acesso à internet.
"O custo da comunicação vai diminuir e deveria diminuir os custos para os cubanos", afirmou Contreras à BBC Brasil. " Isso tende a fortalecer a ideia, já existente no interior do país, de que é preciso democratizar o acesso à internet e o governo terá de lidar com esta realidade", acrescentou.
O governo venezuelano tem tratado o lançamento do cabo submarino com discrição e certo sigilo sobre a forma de cooperação.
De acordo com fontes, a contrapartida cubana na empresa mista Telecomunicações do Caribe continuará sendo paga por meio de trabalho social.
As relações econômicas entre Caracas e Havana são baseadas na troca de petróleo por um exército de médicos e professores cubanos que atuam na Venezuela, base de sustentação das chamadas missões sociais do governo venezuelano.
publicado na BBC Brasil
[ACTUALIZADA]
Nota minha:Estima-se que a instalação, a cargo da empresa franco-chinesa Alcatel Shanghai Bell, permita o acesso à banda larga a partir de Julho.
O projecto vai desenvolver-se ao abrigo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA). Segundo o site Prensa Latina, o presidente Chávez garante que este cabo terá, no futuro, ligação aberta para outros países do Caribe e da América Central como,por exemplo, a República Dominicana e o Haiti.
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