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Seca de 2010 na Amazônia provocou intensa perda de vegetação e emissão de carbono

Posted: 4 de fev. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas:

Trecho do rio Negro, em Manaus, totalmente seco, em imagem registrada em outubro de 2010. foto: Euzivaldo Queiroz

De acordo com estudos de investigadores brasileiros e britânicos, a seca de 2010 provocou mais perda de vegetação do que a de 2005. O impacto atingiu mais de 50% de todo o bioma da região.
A ocorrência de dois eventos climáticos semelhantes num intervalo tão curto pode apontar um futuro sombrio para a Amazônia na avaliação do pesquisador Simon Lewis, da Universidade de Leeds, um dos coordenadores do estudo sobre a seca de 2010 na Amazônia, cujo resultado foi publicado na edição desta sexta-feira (04), na revista Science.
A pesquisa usou como metodologia os impactos da seca na vegetação, fazendo um comparativo entre a vazante de 2005 e a de 2010. O estudo, que teve a participação de dois pesquisadores da ong brasileira Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Daniel Nepstad e Paulo Brando, revela que a seca do ano passado fez com que a Amazônia aumentasse a sua contribuição na emissão de gases de efeito estufa.
Os dados apurados indicam que a mortalidade das árvores em 2005 atingiu 2,5 milhões de km quadrados, ao passo que em 2010 o impacto atingiu 3,5 milhões de km quadrados. Ainda de acordo com o estudo, sabe-se agora que, há seis anos, o total de emissões de gases foi de 1,6 bilhões de toneladas de carbono quer devido às queimadas, quer à decomposição das árvores. Em 2010, a região liberou 2,2 bilhões de toneladas de carbono.
Modelos climáticos globais analisados pelos pesquisadores sugerem que estiagens como estas, na Amazônia, se tornarão mais frequentes no futuro em decorrência das emissões de gases de efeito estufa.
De acordo com Simon Lewis, em entrevista publicada no sítio do IPAM na internet, as alterações em ciclos climáticos como o El Nino e o aquecimento do Atlântico Norte causadas pelas mudanças climáticas também podem aumentar a intensidade e frequência de secas na Amazônia. «A ocorrência de dois eventos dessa magnitude em um intervalo tão curto é extremamente incomum, mas, infelizmente, coincide com os modelos climáticos que prevêem um futuro sombrio para a Amazônia», afirma Lewis.
Num ano normal, as florestas intactas remanescentes absorvem cerca de 1,5 bilhão de toneladas de CO2, o que tem ajudado a abrandar as mudanças climáticas nas últimas décadas.
Apesar seu impacto, a vazante de 2005 do rio Negro ocupa o 8º lugar no ranking medido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
As 10 maiores secas continuam a ser as de 2010 (1º), 1963 (2º), 1906 (3º), 1997 (4º), 1916 (5º), 1926 (6º), 1958 (7º), 2005 (8º), 1936 (9º) e 1998 (10º).
Em 2005, a região foi castigada por uma seca que matou árvores de grande porte em regiões de floresta primária na Amazônia, prejudicando a sua capacidade de acumular o dióxido de carbono da atmosfera. Para piorar a situação, recorde-se que, à medida que entram em decomposição, também as árvores mortas liberam CO2.
À época da seca de 2005, os cientistas descreveram o evento como uma «seca que ocorre uma vez a cada 100 anos». Porém, a região foi atingida por uma segunda seca extrema apenas cinco anos mais tarde.
A previsão dos estudiosos é a que a floresta amazônica não irá absorver 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera em 2010 e 2011, e que serão emitidas 5 bilhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono na atmosfera uma vez que as árvores mortas pela seca apodreceram.
Para se ter uma dimensão desse impacto, em 2009 os Estados Unidos emitiram 5,4 bilhões de toneladas de CO2 resultantes da queima de combustíveis fósseis.
O pesquisador Paulo Brando, do IPAM, afirma que as perdas de carbono não serão imediatas, uma vez que o processo de decomposição de árvores mortas pela seca pode demorar décadas.
«A ocorrência de duas grandes secas, separadas em um intervalo de dez anos, pode compensar largamente o carbono absorvido pelas florestas intactas da Amazônia durante esse período. Se eventos como esses se tornarem mais frequentes, a floresta amazônica chegará a um ponto crítico, no qual deixará de ser um valioso reservatório de carbono para se tornar uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa», esclarece Paulo Brando. O cientista acrescenta que muita insegurança e certa controvérsia ainda pairam em torno dos impactos da mudança climática na Amazônia. Segundo ele, essa nova pesquisa soma-se a um conjunto de evidências, sugerindo que as estiagens se tornarão mais prolongadas, mais intensas e mais frequentes durante o século 21.

publicado no jornal A Crítica

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