Álvaro Almeida é economista. Trabalhou no FMI entre 1997 e 2000 e participou na negociação dos programas do México, Arménia e Venezuela. Cruzou-se com Poul Thomsen quando este liderava o departamento do FMI responsável pelos países da antiga URSS. Reconhece que o dinamarquês «tinha a fama de ser muito severo, duro, radical mesmo, e pouco sensível às questões locais» e não crê ter sido por acaso que foi agora destacado para liderar a equipa que negociará com Portugal. Diz que esse radicalismo não é mau de todo porque «pode permitir que o programa que vai apresentar a Washington e a Bruxelas seja mais facilmente aceite pelas instituições internacionais.» No entanto, não tem dúvidas: a «capacidade negocial» é determinante e Portugal está numa posição «enfraquecida».
Avisa ele, que conhece por dentro os procedimentos do FMI: «o governo português pode usar como arma negocial a reestruturação da dívida se considerar que o programa de ajustamento exigido ao país é demasiado severo».
A sugestão já por cá tinha sido avançada por várias vozes. O problema é que nunca ninguém lhes deu grandes ouvidos, da mesma maneira que também ninguém ouve quem lembra que o momento de bater no fundo é o ideal para criar uma estratégia comum entre os países periféricos - todos eles debaixo de fogo e sob ameaça, que a Europa gosta de chamar PIGS - de modo a tentar travar a especulação e os planos de ajuda calamitosos para que, um a um, todos vêm sendo empurrados.
O motivo é evidente para muitos, apesar de tantos teimarem em querer ser-lhe cegos:
«o FMI tem uma especial predilecção por impostos indirectos», pelo que se pode esperar «aumentos no IVA e no imposto automóvel». É previsível um «ajustamento nas pensões de reforma, na linha do PEC IV». Seguem-se as reformas estruturais. É inevitável a «flexibilização do mercado laboral, facilitando os despedimentos, o que pressionará a descida real dos salários - embora também possam baixar por via do aumento dos preços. Aumentar a concorrência no mercado dos serviços, sobretudo na energia e nas telecomunicações - o FMI estima que os preços dos serviços em Portugal têm uma margem 15% superior à média europeia - é outra das medidas». Assim como o «aumento dos preços dos serviços de empresas públicas deficitárias».
António Almeida avisa e sabe bem do que fala. Para quando aproveitar o alerta?
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