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Em 1983 a terapia de choque do FMI agravou a crise mas deu resultados, diz o jornal "i"

Posted: 13 de abr. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas: ,

Portugal, em 1983

Os portugueses bem se podem preparar para mais dificuldades nos próximos meses. Se o Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou uma lição em 1983 é que as coisas vão piorar antes de começarem a melhorar. No entanto, apesar de a dureza do programa ter sido inquestionável, acabou por atingir os objectivos que se propunha. Quatro anos depois, Portugal já estava a crescer a um ritmo assinalável, com desemprego em queda e inflação de um só dígito.
Ainda não é conhecido quanto tempo durará a intervenção do FMI e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) em Portugal, mas, segundo afirmou segunda-feira Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, parece certo que a recuperação portuguesa poderá levar vários anos. "[Portugal e Grécia] têm de implementar reformas estruturais, que são duras de aplicar. Vai demorar bastante tempo até que funcionem."
Há 28 anos, o programa aplicado foi muito exigente. Portugal recebeu 650 milhões de dólares do FMI - 3,5% do produto interno bruto da altura - e em troca aplicou cortes nos salários e no subsídio de Natal da função pública, aumentou os impostos e congelou as contratações e o investimento público. Além disso, avançou ainda com a desvalorização do escudo 13%, de forma a ganhar competitividade, tornando as exportações mais baratas e apetecíveis.
As medidas referidas anteriormente provocaram uma recessão em 1984 (queda de 1%), o desemprego subiu em flecha em apenas dois anos, de 7,2% para 8,9%, e a inflação disparou para os 29%. Os salários reais dos portugueses caíram 7,1% em 1983, depois de já terem caído 6% no ano anterior. O programa foi de tal forma duro que a própria Teresa Ter-Minassian, economista que liderou essa missão do FMI, admitiu já este ano em Lisboa que talvez não tivesse sido necessário um ajustamento tão forte. "Em retrospectiva, houve algum overshoot no ajuste das contas externas, à custo da procura interna e talvez do emprego."
como se pode observar no gráfico em baixo - cujos dados são da AMECO, a base de dados da Comissão Europeia -, esta terapia de choque acabou por não demorar muito a dar frutos. A recessão durou apenas um ano e, em 1987, a economia estava a crescer 7,6%, a taxa de desemprego seguia uma tendência clara de descida, tendo atingido os 4,1% em 1992 e, no final da década, os salários já tinham recuperado o que haviam perdido. Depois de ter subido até aos 29% em 1984, a inflação começou também a descer significativamente e, em 1987, estava nos 9,4%. Graças à desvalorização da moeda, a conta corrente externa chegou a terreno positivo em 1986, depois de se ter fixado nos -13% em 1982, registando--se também melhorias assinaláveis no resultado primário.
Estes indicadores podem parecer optimistas em relação ao que Portugal pode esperar nos próximos anos, mas é preciso lembrar que a crise de 1983 e esta estão separada por quilómetros. Na vinda anterior do FMI, a crise pertencia exclusivamente a Lisboa. Neste caso, Portugal é o terceiro país da zona euro a ser resgatado e alguns analistas consideram que não será o último, o que dá a esta crise uma dimensão sistémica.
Neste momento, e ainda sem as novas medidas de austeridade, as previsões para 2011 apontam para uma recessão mais forte que a de 1984 (o FMI estima -1,5%) e a taxa de desemprego em Fevereiro (11,1%) era muito mais elevada do que na década de 80. O mais importante é que Portugal já não dispõe da desvalorização monetária como instrumento para dar uma injecção de competitividade à economia.
"Temos de ter a consciência de que nos últimos 150 anos nunca estivemos tão de cócoras como agora. Nos próximos anos será a política financeira a sobrepor-se a tudo. Será a ditadura das finanças", afirmou ao i José Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social. "Vamos passar períodos de renúncia de muita coisa que gostaríamos de ter."
Para o antigo ministro do Emprego e da Segurança Social, a receita do FMI "será a do costume", esperando, contudo, que haja espaço para políticas anticíclicas, como a descida da taxa social única para as empresas que exportem. O sucesso irá depender da capacidade do governo de negociar.
"Tem-se falado de reformar as lei laborais. Mas como? Querem criar a lei da selva. Não é pela alteração da lei que se cria emprego. A nossa legislação é das mais flexíveis a nível europeu", defende. Quanto aos salários, acrescenta: "Os nossos salários estão na média da União Europeia. Querem pôr-nos ao nível da China ou da Índia?"

publicado no jornal i
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Teresa Ter-Minassian: apoio temporário a Portugal é improvável

A economista que chefiou a missão do FMI que esteve em Portugal em 1983-84, Teresa Ter-Minassian, considera improvável que seja concedido um apoio financeiro temporário a Portugal, para que o próximo Governo pudesse negociar os termos do programa de apoio.
Questionada na rádio TSF sobre se o actual governo de gestão do PS poderia acordar um programa transitório, disse: “Não sei. Normalmente, o apoio do FMI e, imagino, também da União Europeia, tem uma duração mínima de um ano, algo assim. Então, eu acho difícil pensar num programa de transição. Mas não sei…”
Teresa Ter-Minassian, italiana a viver em Washington, onde o FMI tem sede, considera provável que as medidas de austeridade orçamental que se perspectivam levem a um aprofundamento da recessão no país, e diz que o FMI tem noção das repercussões sociais das medidas que leva os governos a adoptar: “Os técnicos e também a gerência do FMI, imagino também da União Europeia, vão estar muito conscientes das repercussões sociais das medidas de ajuste orçamental”, disse ainda, numa curta entrevista àquela rádio.
A economista, que é conselheira especial do director-geral da instituição (o francês Dominique Strauss-Khan) realçou também que será necessário um apoio alargado das oposições às medidas de austeridade que vão ser pedidas a troco da concessão de ajuda financeira da EU e do FMI, atendendo a que há eleições em breve e não se sabe quem ganhará.
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Estela Barbot: Portugal está a ser «visto como país do Terceiro Mundo»

A economista Estela Barbot, que é conselheira do Fundo Monetário Internacional (FMI), está preocupada com a imagem externa do país, que diz estar a ser associado ao “terceiro mundo”.
“O ponto a que chegámos está a afectar a imagem do país, das empresas e a credibilidade do país cá fora. Portugal está a ser visto como um país de terceiro mundo. Como portuguesa, estou preocupada”, diz Estela Barbot, citada pelo site da Agência Financeira.
Estela Barbot, a única portuguesa conselheira do FMI, responsabiliza José Sócrates pela situação do país, pois “gastámos o que não tínhamos e vamos pagar esse preço”. Considera também que o pedido de resgate era a única “solução”, o que terá como consequência que o país ficará estagnado ou em recessão por “muito tempo”.


A economista Estela Barbot, que ainda há umas semanas dizia que não restava outra alternativa ao país senão a ajuda externa, está agora preocupada com a imagem de Portugal no estrangeiro. E aponta o dedo ao Governo de José Sócrates, que tanto gastou, sem nada ter.
«O ponto a que chegámos está a afectar a imagem do país, das empresas e a credibilidade do país cá fora. Portugal está a ser visto como um país de terceiro mundo. Como portuguesa, estou preocupada», alarma Estela Barbot.

«Gastámos o que não tínhamos, vamos ter de pagar»

No regresso de reuniões, no passado fim-de-semana, com os grupos de conselheiros do Fundo Monetário Internacional (FMI) - e não para falar especificamente de Portugal - a economista urge os responsáveis políticos: «Precisamos de tomar decisões rápidas e mostrar sinais de credibilidade», disse Estela Barbot em exclusivo à Agência Financeira.
Para Estela Barbot, já não havia outra solução senão pedir ajuda externa e reconhece que Portugal vai estagnar ou ficar em recessão por «muito tempo», graças aos juros que teremos que pagar pelo resgate. «Mas isso é culpa do Governo de José Sócrates. Gastámos o que não tínhamos e vamos pagar esse preço».
O FMI já está de malas e bagagens em Portugal. As reuniões para preparar o memorando de entendimento que permitirá a Portugal receber apoio financeiro arrancam esta terça-feira. Cabe a Poul Thomsen liderar a equipa que passa assim a pegar em Portugal ao colo, pelo menos durante três anos.

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