Folheio os principais jornais e sites de informação brasileiros e descubro que esta é a manchete que circula em todos eles: «Partidos portugueses de esquerda rejeitam reunião com UE e FMI».
A ideia que circula é, portanto a de que a esquerda portuguesa recusa o diálogo e se coloca fora da articulação de soluções, preferindo manter-se à margem das negociações em curso.
Oiço a entrevista de Jerónimo de Sousa à SIC, revejo as declarações do Bloco de Esquerda e dos Verdes. Escuto-lhes os argumentos. Em suma, todos insistem em tratar-se de uma questão de «princípios». Consideram que a intervenção do FMI e da UE é uma má solução e não querem 'sujar as mãos', temendo ficar associados a ela. É uma escolha partidária. Mas é igualmente uma opção política arriscada. Com duas consequências que serão tão difíceis de contrariar junto de potencial eleitorado a conquistar, como de explicar aos eleitores de cada um destes três partidos. Primeiro porque corrobora a ideia que PS, PSD e CDS-PP sempre se encarregam de difundir em campanha: a de que BE, PCP e PV não estão verdadeiramente interessados em governar e que a sua estratégia para o país se esgota numa eterna vocação contestatária que perde sentido fora da oposição. Segundo porque abdicando do diálogo, abrem igualmente mão do direito e do dever de ter uma palavra a dizer, de contestarem, de se oporem, de proporem outras vias alternativas.
Nos media brasileiros a mensagem que passa é a enunciada pelo título reproduzido de forma generalizada: «Partidos portugueses de esquerda rejeitam reunião com UE e FMI». Não creio que seja uma boa estratégia para levar a bom porto uma alternativa credível de esquerda nas eleições de 5 de Junho. Suspeito que caia que nem uma luva ao apelo para o voto útil que os socialistas tanto gostam de bramir nestas ocasiões. Portugal vive um momento terrível. Num tempo de dúvidas e ansiedades extremas, quem vota espera que aqueles a quem confia a sua representação sejam eco da sua voz. Não querem que se auto-demitam dela. Quer sentir que aqueles a quem entrega ou tenciona entregar o seu voto estão na linha da frente, no palco principal, e não distantes dele. Quer ter a certeza que estará presente e vigilante e não que «rejeita» e se subtrai ao diálogo. Quer a segurança de que aqueles a quem confia ou virá a confiar o seu voto de facto o representam, que estarão no lugar certo há hora certa a fazer as perguntas que não pode fazer, a impor limites, a defender exigências, a afirmar os seus interesses, a defender as suas fragilidades.
Podem bloquistas, comunistas e verdes fazer todo o sentido do ponto de vista da coerência teórica com os princípios ideológicos que defendem. Não estão, em meu entender, a fazer sentido algum no que à acção política diz respeito. Não da forma que a entendo: representação efectiva, comprometida e actuante, irrecusável e incontornável - sempre, em toda e qualquer circunstância - dos valores pelos quais se bate.
Marxistas, comunistas e ecologistas portugueses se recusaram nesta segunda-feira a se reunir com a equipe conjunta enviada a Lisboa por Bruxelas e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para discutir os termos do resgate financeiro a Portugal.
Os três grupos parlamentares de esquerda, que nas eleições de 2009 obtiveram 31 das 230 cadeiras em disputa, tomaram esta decisão por não concordarem com a chegada de ajuda externa ao país, que deve ser acompanhada de novos cortes orçamentários.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira, quando as negociações sobre o resgate financeiro entre as autoridades portuguesas, representantes da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI entraram em uma nova fase e adquiriram pela primeira vez uma aparência política, depois dos trabalhos técnicos realizados na semana passada para analisar as contas portuguesas.
Após a recusa das legendas, o grupo manterá conversas com apenas três dos seis partidos com presença no Parlamento: o Socialista (97 deputados), o Social Democrata (81) e o CDS-PP (21).
A ideia inicial era realizar um encontro com cada um dos grupos, começando nesta segunda-feira, com a meta de conhecer as propostas de todos eles para enfrentar as dificuldades econômicas de Portugal, explicou à Agência Efe um porta-voz da Comissão Europeia.
Os marxistas do Bloco de Esquerda justificaram sua postura afirmando que esta negociação compete unicamente ao Executivo, que se comprometeu a informar sobre o avanço nas conversas.
Jerónimo de Sousa, líder do Partido Comunista Português (PCP), destacou em declarações à imprensa que o pedido de resgate representa "uma inaceitável atitude de abdicação e submissão nacional" que, na sua opinião, não solucionará os problemas do país, mas irá aumentá-los.
Já os membros do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), por sua vez, disseram ser contra o resgate financeiro e as negociações que as autoridades mantêm com Bruxelas e o FMI e lembraram que os acordos são baseados em um programa de cortes que foi rejeitado pelo Parlamento português.
A recusa às últimas medidas de austeridade propostas pelo Executivo socialista acarretou na renúncia do primeiro-ministro, José Sócrates, e derivou na convocação de eleições antecipadas para o dia 5 de junho.
Duas semanas depois da queda do governo e com a pressão sobre a dívida soberana portuguesa descontrolada, Sócrates anunciou a decisão de recorrer à ajuda externa, o que, segundo as primeiras estimativas, pode implicar em uma injeção de 80 bilhões de euros nos próximos três anos.
via EFE
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