Leio no jornal i:
É a radiografia total do país. Partidos, sindicatos, patrões, reguladores, banca, especialistas na economia da saúde e na justiça e agora sociólogos. A troika convocou Portugal de A a Z, antes da aplicação do remédio final, na próxima semana. As propostas que vão estar no memorando de entendimento - essencial para que o país possa aceder ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira - devem ficar definidas até ao final da semana que vem. Por agora, o papel dos representantes do Banco Central Europeu, do FMI e da Comissão Europeia é sobretudo o de um psicólogo: ouvir.
Pelo meio, Sócrates e Passos Coelho seguem a campanha.
A troika esteve em São Bento anteontem à tarde e ontem esteve com PSD e CDS, logo pela manhã. Hoje, José Sócrates vai a Belém actualizar o Presidente da República sobre a evolução das negociações políticas. Os conteúdos são mantidos em segredo, de forma concertada. Mas também ninguém esquece que 5 de Junho está perto e que vai haver um programa-FMI a pesar nos eleitores.
Ontem, Passos e Sócrates voltaram a enfrentar-se na arena política. A propósito dos dados sobre a execução orçamental do primeiro trimestre do ano, o líder do PSD desvalorizou a anunciada redução do défice e o primeiro-ministro já avisa que, ao "desacreditar os números", Passos pode estar a piorar a situação do país. "Parece que o que desejam é que tenhamos um programa ainda pior do que aquele que recusaram", acusou Sócrates. E Passos até confirmou que é isso mesmo que vai acontecer: "O programa que aí vem é mais difícil, com medidas mais difíceis."
Ainda assim, de manhã, no fórum da TSF, Passos Coelho garantiu que o PSD "nunca irá" bloquear o resgate financeiro. Horas mais tarde, da Finlândia vinha mais uma garantia de relevo. O primeiro-ministro recém-eleito, Jyrki Katainen, prometeu que vai exigir à próxima coligação governativa que aceite "o pacote português" - o parlamento finlandês tem de aprovar a libertação de fundos para ajudar Portugal. Mesmo assim, ao fim do dia, na sua página oficial no Facebook, o Presidente da República, Cavaco Silva, rejeitava uma União Europeia de "simples conjugação episódica de interesses de cada um dos estados-membros".
Reguladores visitados
O bloqueio maior - o político - parece estar ultrapassado e a troika já sabe disso, mas falta saber o resto: conhecer as debilidades e os entraves do país real. Por isso, os peritos instalados em Lisboa estão a ir a todo o lado. Ontem mesmo, o Tribunal de Contas confirmou ao i que de manhã teve a visita do FMI. Fonte oficial da entidade disse ao i que se tratou de "uma reunião técnica". Na sexta-feira passada, também houve uma reunião entre membros da troika e a Autoridade da Concorrência. A Anacom, o regulador das telecomunicações, também já foi visitada e fonte oficial avançou ao i que os peritos quiseram obter uma perspectiva geral sobre o sector das telecomunicações e se este é um entrave ao desenvolvimento em Portugal. O i apurou ainda que também a ERSE (Reguladora dos Serviços Energéticos) já terá prestado informações aos peritos do BCE, CE e FMI.
Ontem, para além dos partidos, a troika reuniu-se também com os sindicatos que saíram com a impressão que a legislação laboral vai ter intervenção (ver texto ao lado). Um tema que também será certo na reunião de hoje, com os patrões. Também nesta quarta-feira, a equipa que vai traçar o programa de ajustamento necessário em Portugal vai estar com Boaventura Sousa Santos. Ao i, o sociólogo e coordenador científico do Observatório da Justiça em Portugal confirmou que foi chamado pela troika para mostrar resultados de vários estudos e relatórios que tem feito, nomeadamente na área da morosidade e da ineficiência e no combate à corrupção, bem como o seu impacto na economia. "No entanto, não cabe a actores externos o melhoramento do funcionamento da Justiça em Portugal, que sabemos que é mau, mas, sim, às autoridades portuguesas", diz Boaventura.
Também a Saúde já foi objecto de análise. Os peritos do FMI reuniram-se com Pedro Pita Barros, Francisco Ramos e Céu Mateus, todos especialistas na economia da Saúde, que aproveitaram para manifestar a sua oposição a qualquer reforma estrutural no Serviço Nacional de Saúde. Segundo o site do "Económico", os maiores bancos nacionais estão também a ser contactados individualmente, e pelo menos um já esteve reunido com os peritos: o Santander Totta.
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