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De como um pequeno-almoço cultural com Sócrates não me matou o jejum de Cultura

Posted: 30 de mai. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , ,

António Mega Ferreira (presidente do Conselho de Administração do Centro Cultural de Belém) e Inês Pedrosa (directora da Casa Fernando Pessoa) foram os dois oradores convidados do pequeno-almoço que a candidatura socialista de José Sócrates dedicou, esta manhã, à cultura (relato na íntegra AQUI). Para abrir a última semana de campanha às Legislativas o PS reuniu cerca de uma centena de 'individualidades' da áreas da artes plásticas, teatro, cinema, música, arquitectura, gastronomia, história, arqueologia e literatura – como por exemplo Rui Vieira Nery, Tito Paris, Manuel Salgado, Ângela Pinto, Maria João Seixas, Sarmento Matos, Filipa Melo, Joaquim Sapinho, Vasco Araújo, Carlos Fragateiro, Lenita Gentil, Carlos Veiga Ferreira, Francisco Mota Veiga, Carlos Monjardino, entre outros.
Havia, como é da praxe nestas coisas, uma lista de presenças mas não foi facultada à imprensa, vá-se lá saber porquê. Talvez por não interessar que se soubesse quem declinou o convite. Como Manuel João Vieira, o mítico fundador dos Ena Pá 2000, por exemplo, que circulava  em sussurro ter sido convidado, mas que ninguém nunca chegou a ver durante o pequeno-almoço.

O prato forte foram as críticas servidas à proposta do PSD de acabar com o Ministério da Cultura. A parte curiosa foi escutá-las na boca de Sócrates, provavelmente o Primeiro-ministro que maior descaso votou ao sector. Basta olhar para a verba que, durante seis anos, lhe atribuiu em Orçamento de Estado. De tão magra, nem sequer consegue ser visível nos gráficos.
Não deixa, aliás, de ser sintomático o facto de ter passado o tempo todo a falar do que fez pela educação e pela saúde, num pequeno-almoço que convocou para falar de... cultura.

Condenar a proposta de extinção do Ministério, que vem da oposição, é curto. Não chega para tranquilizar ninguém. Era para isso preciso que a defesa da sua manutenção viesse acompanhada de uma política cultural que não apenas lhe desse fundamento, como lhe garantisse alicerce. Fora isso, o tão esgrimado Ministério reduz-se a um mero edifício de corredores vazios, um complexo sinuoso de ramificações áridas e sombrias, dos muitos que se agigantam e agora acusam de pesar nas costas e nas contas do Estado, sem sustento que justifique continuarem de pé. Para que o Ministério possua sequer valor simbólico urge que se afirme, ao menos, como signo com alguma correspondência significante. Pretender pela sua manutenção sem qualquer plano de vida que o anime redunda numa teima oca por um mausoléu de pouca ou nenhuma utilidade «pública» e «social», para usar termos caros ao discurso de Sócrates, durante o pequeno-almoço desta manhã.
Tal qual a interpreto, a proposta de extinção do Ministério da Cultura é, sim, correlato de 'algo' que ainda se está para ver, mas que não augura nada de bom. Acontece, porém, que a promessa de defender a cultura assente no pressuposto de que manter-lhe o Ministério dispensa qualquer ideia, determinação, projecto ou política cultural não representa, na prática, ameaça menor à sua sobrevivência e integridade.

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