Na Base Aérea de Brasília, presidenta Dilma Rousseff (de partida para o Uruguai) despede-se do vice-presidente Michel Temer. foto: Roberto Stuckert Filho
Desde ontem que essa foto está a fazer furor nos bastidores e na ribalta dos holofotes que cercam o Palácio do Planalto. Os analistas e comentadores políticos, então, têm usado e abusado do mote para extrair ilações e medir o pulso ao Governo Dilma.
Saiba como e porquê, lendo em baixo e na íntegra alguns exemplos.
Êpa! Não está dando liga...
por Ricardo Noblat
Combina com a personalidade de Dilma pedir a Lula que desembarque em Brasília para ajudá-la a salvar Antonio Palocci, chefe da Casa Civil, suspeito de tráfico de influência, e acalmar o PT e os demais partidos aliados insatisfeitos com o seu governo?
Não combina. Seria admitir que não tem competência para enfrentar crises políticas. Que não estava preparada para ocupar o cargo.
Combina com Lula, que monitora todos os passos do governo, chamar a atenção de Dilma para as dificuldades políticas que ela atravessa e se oferecer para ajudá-la voando até Brasília?
Aí combina, sim. E diante do oferecimento, Dilma não tinha como dizer não.
O que ela talvez jamais imaginasse é que Lula acabaria sendo tão indiscreto como foi, a ponto de ter comentado com senadores do PT que Dilma não tem experiência política, e que ele a aconselharia a se comportar melhor.
Combina com a personalidade amena de Palocci, ainda mais de um Palloci enfraquecido, telefonar para o vice-presidente Michel Temer e ameaçar demitir os ministros do PMDB caso o partido não votasse o novo Código Florestal de acordo com a orientação do governo?
Palocci tem experiência de sobra para saber que a ameaça não funcionaria.
De resto, dependendo do PMDB, como depende, para não ter que ir ao Congresso explicar seu súbito enriquecimento, o que menos lhe interessava era trombar com o presidente licenciado do partido.
Trombou porque fez o que Dilma mandou. E ouviu de Temer o que não esperava ouvir.
A Dilma mais próxima da verdadeira Dilma é a que pensou em dobrar o PMDB via Palocci. Não é a Dilma que abandonou o proscênio para que Lula ali pontificasse alegre como um pinto no lixo
Há governos que começam antes da data marcada no calendário. Foi o caso, por exemplo, do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Começou quando ele ainda era ministro da Fazenda e lançou o Plano Real.
Há governos que acabam antes da data marcada. Foi o caso do segundo governo de Fernando Henrique. Acabou quando ele desvalorizou o real tão logo foi reeleito.
O governo Dilma precisa começar de novo. Só depende dela.
publicado em O Globo
PMDB vê enfraquecimento de Palocci e cobra mudança na articulação política
por Christiane Samarco O PMDB quer mudanças na articulação política do Palácio do Planalto e duvida da sobrevivência no cargo do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
O diagnóstico, que atinge em cheio o núcleo político do governo, começou a ser propalado ontem por líderes do partido como efeito colateral do desgaste provocado pelas cobranças ásperas do Planalto ao partido depois da derrota na votação do Código Florestal.
A cúpula peemedebista avalia que houve quebra de confiança na relação com o PT e a presidente Dilma Rousseff.
Foi neste clima que Michel Temer reuniu ontem a bancada do PMDB no Senado para um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. Dos 18 senadores do partido, apenas Jarbas Vasconcelos (PE) avisou que não compareceria.
Pela manhã, a presidente entregou o cargo interinamente a Temer antes de viajar para o Uruguai.
Havia sido combinado que os dois fariam da ocasião um momento de armistício entre o PMDB e o governo após os sucessivos desencontros de articulação política da semana passada, mas a foto oficial divulgada pela Presidência mostra uma tentativa de um abraço distante.
publicado em O Estado de São Paulo
Dilma e Temer tentam evitar que crise com PMDB se alastre
A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer mantiveram mais uma conversa nesta segunda-feira, seguindo um roteiro acertado no fim de semana, para tentar impedir que a crise entre membros do governo e o PMDB se alastre na base aliada.
Do ponto de vista político, a semana passada foi o pior período do governo de cinco meses de Dilma Rousseff, na avaliação de um auxiliar próximo da presidente, que falou com a Reuters sob a condição de anonimato.
Dilma está se reaproximando do vice, depois de ele ter discutido com ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, durante um telefonema. Seguindo orientações da presidente, Palocci pressionou Temer para que o PMDB não se colocasse contra o governo na votação do Código Florestal na Câmara.
Em um encontro na Base Aérea de Brasília nesta segunda, antes de partir para o Uruguai, Dilma pediu a Temer, em sinal de confiança, que coordenasse uma reunião sobre conflitos fundiários na Região Norte, tema que antes estaria sob o comando do ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho.
Nessa reunião, Temer comentou com os ministros presentes que o governo está pacificado e que a ríspida discussão com Palocci é "assunto do passado" e que "nem é mais assunto", segundo relato de um membro do governo que participou do encontro, mas não quis ter seu nome revelado.
O roteiro da pacificação interna do governo e da relação com o Congresso fez com que a presidente começasse a incluir na sua agenda reuniões com os aliados do Congresso. Nesses encontros, ela buscará se aproximar dos congressistas, como aconselhou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e vai negociar diretamente a mudança do texto do Código Florestal aprovado na Câmara que a desagradou e agora será analisada no Senado.
Na quarta-feira, por exemplo, a presidente se reunirá com os senadores peemedebistas, assim como fez com os petistas na última quinta. Antes, porém, os senadores do PMDB reúnem-se com Temer, no Palácio do Jaburu.
Nesse jantar desta segunda, no entanto, os peemedebistas têm a missão de reduzir suas próprias divergências internas, segundo relato de assessores. A maioria da bancada está descontente com a proeminência que apenas alguns colegas têm nas negociações com o Palácio do Planalto e quer equilibrar as ações. Ministros peemedebistas também devem participar.
Afinação política
A negociação em torno do Código Florestal, que agora será comandada por Dilma, foi o que motivou a conversa telefônica em tom de briga entre Temer e Palocci. A crise ocorreu no momento em que o ministro é alvo de pressão da oposição para que se investigue seu aumento patrimonial.
Segundo relato de um assessor do Palácio do Planalto, que pediu para não ter seu nome revelado, a conversa entre ambos foi áspera e dura, mas não houve ameaças explícitas de demissão de ministros, como chegou a ser divulgado pela mídia.
Depois do episódio, que gerou uma grande preocupação dentro do governo, tentou-se evitar o que poderia se tornar um incêndio fora de controle. A visita de Lula está diretamente relacionada ao clima pós-telefonema entre Palocci e Temer.
Uma outra fonte do Palácio do Planalto, que pediu para não ser identificada, disse que a avaliação da presidente sobre o episódio é que não evidencia que a coordenação política do governo não funciona, ou que seja necessário substituir pessoas, ou ainda exija uma mudança na estratégia de negociação com o Congresso.
A presidente avalia, segundo a fonte, que questões conjunturais, como os pedidos de investigação do patrimônio de seu principal ministro ou a rebeldia do PMDB, conduziram o governo para uma derrota na Câmara. O PMDB negociou uma emenda, que acabou sendo aprovada e altera o texto do relator, negociado com o governo.
Segundo relato dessa fonte, Dilma ficou muito irritada com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), tanto que na terça-feira passada, horas antes da votação do Código no plenário, teria se recusado a recebê-lo.
"Disputa entre PMDB e PT sempre foi complicada" por Merval Pereira
"Crise entre governo e PMDB é ainda mais grave que o caso Palocci" por Kennedy Alencar
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