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Sugestão web: 'Projecto IOU ' reúne tecelões, artesãos, consumidores e redes sociais

Posted: 17 de mai. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , ,


“Pensar globalmente, agir localmente”. Este mantra tem vindo a ganhar terreno e muitos publicitários, gestores, empresários online e consumidores adoptaram esta maneira de fazer negócios. Num mundo de roupa made in China, num mundo de produtos baratos e descartáveis, que trazem pouca ou nenhuma recompensa para os verdadeiros produtores das matérias-primas, dos quais nada se sabe, o projecto global IOU (I Owe You) quer mudar as coisas. Para melhor.
Imagine que, ao comprar uma camisola, conseguia ter acesso à história por detrás dessa peça de roupa. Provavelmente veria uma linha de montagem intensiva. Pessoas a trabalhar muitas horas por pouco dinheiro. Veria a camisola a percorrer o oceano, enfiada em contentores, até chegar à loja. Veria poluição, desigualdades, injustiças.
E agora imagine um tecelão indiano a ser justamente pago pelo seu trabalho. E imagine que consegue até ver quem foi - e-x-a-c-t-a-m-e-n-t-e - o tecelão que urdiu a peça que comprou e o artesão que a cortou e a coseu. Imagine que podia conhecer um pouco mais das suas vidas e até ver curtos vídeos sobre eles. Isso é o projecto, com base em Madrid, IOU. O I Owe You quer pôr toda a gente a ganhar: o artesão, o intermediário e o cliente, que se poderá transformar em divulgador das peças através das redes sociais e, com isso, ganhar algum dinheiro.
Através do projecto IOU - que ganhou vida esta semana - cada peça de roupa está identificada com o seu próprio código Quick Response (QR). Cada peça é única e os códigos QR - que se conseguem ver com o auxílio de um smarphone, nomeadamente o iPhone, para o qual já há uma aplicação IOU Project - contam como o artesão criou o tecido e como a peça foi cortada.
Cada história começa com um tecido chamado “Madras”, isto é, uma faixa de tecido de algodão (8 x 6,5 metros), entrançada na Índia. A inspiração veio de Ghandi, o homem que com o seu “exército pacífico” conseguiu a independência do Reino Unido. Um tecelão indiano consegue urdir, a cada cinco dias, um destes “Madras” (também conhecido por Madrasi checks), um tecido semelhante à flanela axadrezada, muito em voga durante o movimento grunge e que ressuscitado mais recentemente com a onda hipster. Num vídeo colocado online no site do projecto pode ler-se que, mais de 20 milhões de famílias indianas dependem do negócio da tecelagem e que estas, em conjunto, conseguem urdir 50 milhões de metros de tecido por dia, 250 milhões por semana e mil milhões por mês.
Depois de fabricados (no estado indiano de Tamil Nadu, no sul da Índia), estas grandes faixas de algodão viajam até à Europa - Roménia ou Itália - onde são cortadas e cosidas, até se transformarem em roupa. Cada artigo é original. Não há duas peças iguais, com o mesmo padrão, garantem os mentores do projecto IOU.
Os artigos só podem ser adquiridos através do site do IOU, apesar de, futuramente, se esperar que os artigos possam ser vendidos nas lojas e, nessa altura, cada interessado poderá apontar o seu smartphone para a etiqueta e ver o vídeo da viagem feita pela peça, a partir do produtor.
Não passando os artigos pela cadeia de retalhistas habitual, os tecelões e os artesãos recebem mais dinheiro. Neste aspecto o projecto aproxima-se das iniciativas “comércio justo”.
Apesar disso, os preços de alguns artigos são, talvez, proibitivos para o bolso dos portugueses. Umas calças de ganga de mulher podem custar 89 euros e um blazer reversível 165 euros.
A boa notícia é que cada interessado poderá tornar-se um “revendedor” de artigos, um conceito que aproxima este projecto de negócios clássicos como o da Tupperware e da Avon, em que cada pessoa faz trabalho de porta-a-porta junto dos seus contactos.
No século XXI já não é preciso, porém, andar realmente a bater a portas. Basta ter um blogue conhecido ou muitos contactos no Twitter ou no Facebook e fazer lá o trabalho de divulgação. Quem estiver interessado pode candidatar-se a ser um “trunk show host” (qualquer coisa como um “anfitrião de colecção”) e vai abrindo o “baú” aos seus contactos, sugerindo as peças que mais gosta. Por cada peça vendida a partir deste serviço de divulgação o “anfitrião” recebe uma comissão.
A empresa espera ver bloggers e tradicionais utilizadores das redes sociais envolvidos no projecto e ajudando a espalhar a mensagem acerca dele, indicou à CNN o responsável pela área de desenvolvimento de negócios e tecnologia deste projecto, Enrique Posner. “No processo, eles [os trunk show hosts] podem fazer dinheiro. É um bom negócio para nós e para eles”, frisou.

publicado em O Público


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# Site oficial: I Owe You

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