Espumas . Notas . Pasquim . Focus . Sons . Web TV . FB

Policiais e madeireiros entre suspeitos de assassinar o casal de ambientalistas

Posted: 3 de jun. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas:

por Evandro Corrêa *

As investigações sobre o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo, no último dia 24 de maio deste ano, na zona rural de Nova Ipixuna, ganharam novos rumos esta semana com a revelação de um episódio ocorrido no Projeto de Assentamento Praialta Piranheira, em setembro de 2010, quando os madeireiros José Rodrígues e Gilsão, junto com quatro policiais militares e um investigador da Polícia Civil, atearam fogo em duas casas e expulsaram três famílias de colonos.
Os policiais não tinham mandado judicial e agiram à revelia da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá. Há suspeitas de que receberam propina para intimidar, expulsar e ameaçar de morte os trabalhadores rurais. À época, o fazendeiro José Rodrigues ofereceu 2 mil reais para as famílias saírem da área. Após incendiarem duas casas, os policiais embarcaram pertences dos colonos e os transportaram para outra localidade, em uma viatura policial. José Claudio e Maria do Espírito Santo denunciaram o caso à Comissão Pastoral da Terra e às autoridades do Estado e os agricultores expulsos retornaram aos seus lotes. Testemunhas declararam à CPT que o madeireiro Zé Rodrigues ficou furioso e declarou que perderia os lotes, mas José Cláudio "o pagaria".



José Rodrigues vendeu suas terras na região de Anapu e comprou dois lotes no assentamento Praialta Piranheira, ocupados pelas famílias que ele tentou expulsar. Os policiais que participaram da expulsão dos camponeses não estão mais na Delegacia e no Destacamento da PM de Nova Ipixuna. Autores das denúncias, os agricultores Francisco Tadeu Vaz Silva, maranhense, 42 anos, e José Martins Silva, o "Zequinha", maranhense, 57 anos, estão na lista da CPT de pessoas ameaçadas de morte.
A Polícia apurou também que um madeireiro conhecido como Paulino comandava os cortes de castanheiras no assentamento, poucos dias antes da morte de José Cláudio e Maria. Colonos dizem que o próprio Paulino fazia a segurança de seus caminhões madeireiros, trafegando em uma caminhonete, com homens armadas. No período, os extrativistas receberam várias ameaças e telefonemas anônimos. Um motoqueiro foi à casa de José Cláudio, perguntou por ele e deixou um recado ameaçador para Maria: "É vocês que denunciam os madeireiros para o Ibama? É bom vocês encurtarem a língua".

'Laranja' denuncia esquema que envolvia até cartorária de Marabá  

Em 8 de setembro do ano passado, o agricultor José Martins fez várias denúncias à Comissão Pastoral da Terra sobre uma quadrilha que se apropriava de vários lotes do Projeto de Assentamento Praialta Piranheira. As denúncias envolvem vários fazendeiros, pessoas usadas como "laranjas" e a proprietária de um cartório de Marabá, Neuza Maria Santis Freire. De acordo com as cópias das denúncias, obtidas com exclusividade por O LIBERAL, a cartorária Neusa Santis fatiou 86 alqueires de terra dentro do Assentamento e dividiu os lotes entre três "laranjas".
O lote ocupado por José Martins era uma das áreas dividida pela cartorária de Marabá, com o intuito de expulsar os agricultores da região. À época, o agricultor José Martins disse à CPT que um homem conhecido como Durval de Jesus, o "Zé do Bucho", "laranja" da cartorária, o ameaçou de morte dentro de sua residência e deu um prazo de 24 horas para que ele deixasse o assentamento. No dia 24 de novembro de 2010, o sindicalista José Claudio Ribeiro da Silva enviou ofício ao Incra denunciando a farta distribuição de lotes do assentamento extrativista Praialta Piranheira para pessoas que não eram clientes da Reforma Agrária.
Na denúncia, ele afirmou que o comerciante de Nova Ipixuna, Gilvan de Siqueira Freitas, o "Vani da Casa do Campo", usava vários "laranjas" para se apropriar de lotes. "A senhora Neusa Santis, cartorária em Marabá, tomou posse de uma área para assentar famílias. Ela fez o cadastro em nome de laranjas para manter o controle do imóvel", denunciou José Cláudio, ao informar que Neusa Santis fabricava documentos de "desistência" e vendia os lotes para José Rodrigues, um dos "laranjas" da cartorária.

* jornalista da Sucursal do Sul e Sudeste do Pará do jornal O Liberal

0 comentários:

Postar um comentário