por Wilson Lima
Segundo dados da Pastoral do Migrante de Manaus, entidade que acompanha a situação de perto, aproximadamente 100 haitianos por mês tentam recomeçar a vida apenas no Amazonas. Hoje, estima-se que pelo menos 1,6 mil refugiados do terremoto estejam legal ou ilegalmente no Estado.
A viagem dos haitianos para o Brasil não é fácil. São pelo menos três meses de peregrinação pela América antes de chegar ao Brasil. Até Tabatinga, cidade amazonense distante 1.105 quilômetros da capital, os haitianos passam pelo Panamá, Equador e Peru. Uma viagem que custa pelo menos US$ 4,5 mil (cerca de R$ 7,2 mil) a cada um.
No Haiti, muitos deles são aliciados por coiotes - como são chamadas as pessoas que prometem facilitar a entrada das pessoas no Brasil - que prometem uma vida próspera em terras brasileiras, especialmente em Manaus.
Há aproximadamente duas semanas, um haitiano foi preso acusado de aliciar compatriotas para trabalhar no Brasil. Um padre da Igreja Católica em Tabatinga é suspeito de fazer parte de uma quadrilha internacional especializada em trazer haitianos de forma ilegal para o Brasil.
Em Tabatinga, que fica a 1.105 quilômetros de Manaus, eles esperam pelo menos um mês por um visto provisório expedido pela Polícia Federal na região. Nem todos conseguem.
Hoje existem, apenas em Tabatinga, entre 480 e 500 haitianos esperando por um visto provisório como refugiado no Brasil. A Polícia Federal não tem estrutura para analisar muitos pedidos. Em média, são analisados entre 25 a 30 pedidos de permanência provisória diariamente em Tabatinga. Por isso existe essa grande concentração de haitianos na cidade de 52 mil habitantes.
A preocupação com essa população de haitianos em Tabatinga chegou ao ponto de o governo do Estado do Amazonas mandar uma equipe para a região para fazer um trabalho de diagnostico preventivo contra um possível surto de cólera.
No local, a Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) não detectou foco da doença. Em Tapatinga, segundo as autoridades locais, os haitianos não provocam tumulto, mas muitos deles se concentram na atividade informal. Alguns deles ingressam nessa atividade apenas para conseguir levantar dinheiro suficiente para chegar até Manaus.
Em Manaus
Na capital do Amazonas, pelo menos 250 haitianos estão em abrigos mantidos pela Igreja Católica. Geralmente, encontram emprego com facilidade, trabalhando como operários na indústria de base e construção civil e recebendo um salário mínimo. Eles são absorvidos pela alta demanda de pessoal, criada pela expansão da economia brasileira.
Há pessoas de todos os perfis. Muito deles têm cursos superior e falam, pelo menos duas línguas. Mas há casos mais inusitados. Nesta quinta-feira, por exemplo, segundo a Pastoral do Migrante, chegou a Manaus um jogador da seleção haitiana de futebol que também deixou a ilha em busca de emprego no centro industrial, que concentra algumas das maiores multinacionais em operação no Brasil.
Porém, nos abrigos, a vida não é das mais fáceis. A comida é limitada e a Igreja Católica precisa de doações para conseguir alimentar tanta gente que procura ajuda.
Nesta sexta-feira (22), o padre Gelmino Costa, que coordena os abrigos dos haitianos em Manaus, não tinha macarrão e alguns temperos para a população de haitianos que depende dos abrigos e que acabou de chegar ao Brasil.
“De alguma forma a gente dá um jeito. Sempre aparece uma alma caridosa para nos ajudar nesses momentos complicados”, afirmou Costa.“Os haitianos antes fugiam do terremoto, hoje fogem da miséria mesmo. Já se passou um bom tempo e tudo que eles conseguem aqui eles mandam para a família. Há casos de pessoas que ganham um salário e não ficam com nada. Mandam tudo para os parentes no Haiti. Quando termina a peregrinação para o Brasil, eles precisam aprender uma nova profissão, arranjar casa pra morar. Eles têm outras necessidades. Saem de um sofrimento e começam outro”, finaliza o padre.
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