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"O país dos cérebros em fuga"

Posted: 3 de jul. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , , ,

por Solange Cosme

Na geração dos meus pais era fácil encontrar na população portuguesa quem não tivesse terminado sequer o ensino primário. Os níveis de analfabetismo para quem tem hoje 60 anos ou mais, e que nasceu em Portugal, são francamente vergonhosos e conhecidos por todos.
Faço parte daquela geração a quem os pais quiseram dar "uma vida melhor". Durante anos, no meu percurso académico, senti na pele as várias advertências de que para "ser alguém" era necessário estudar.
Assisti pessoalmente, e através de pessoas próximas, pais que mal sabiam escrever e que todos os sacrifícios fizeram para que os filhos pudessem estudar e ter uma formação superior. Sacrifícios de famílias inteiras, alguns dos próprios alunos, que estudavam e trabalhavam ao mesmo tempo.
Não estou aqui a defender se pertenço ou não a uma "geração à rasca" e nem é sobre isso que versa este texto. Afinal, defendo sim que não há apenas uma geração mas sim um país inteiro "à rasca". O que considero verdadeiramente preocupante e digno de ser noticiado é a quantidade de pessoas que abandonaram o país recentemente e quantas mais abandonarão nos próximos tempos.
Famílias e Estado gastaram (e gastam) recursos para investir numa educação de pessoas que não beneficiarão o seu país. Tudo porque o país que as formou não oferece saídas profissionais adequadas para se fixarem. Nem aos melhores de todos! E são esses precisamente os primeiros a sair.
Dados revelados recentemente pelo INE mostram que mais de 30 mil pessoas abandonaram o país à procura de um novo emprego em 2010. Este número cresce para 70 mil quando avançado pelo Observatório da Emigração. Mas há mais: a emigração das famílias, na esperança de encontrar uma vida melhor, levou consigo cerca de 2.500 alunos do ensino básico e secundário que não renovarão as suas matriculas em Portugal. A acrescer a este número (ainda de acordo com o INE) temos cerca de 11 mil alunos que solicitaram transferência direta para escolas estrangeiras.
Tudo isto leva-nos a uma dedução rápida e lógica: uma parte significativa do capital humano das novas gerações está a ser levado para fora de Portugal. Pessoas que seguirão os seus estudos, trabalho e, consequentemente, evolução profissional e familiar noutros países e que poderiam criar mais-valias em Portugal.
É urgente inverter este ciclo, já que um capital humano superior ainda é o que faz um país sair do obscurantismo na procura pelo progresso intelectual e material.

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