A costa brasileira está a tornar-se um perigoso foco de pirataria. Os barcos são aconselhados a permanecerem vigilantes e os velejadores cautelosos, especialmente quando em áreas de fundeio.A pior situação está concentrada na região da Bacia Amazônica - principalmente na Foz do Rio Amazonas - e no porto de Santos, o maior do Brasil, responsável por perto de 1/3 de todo o comércio internacional do Brasil. É, aliás, suficientemente grave para ser listada pela ICC como sendo um dos “pontos quentes” mais activos do mundo, com um crescendo da actividade pirata desde 1999.
Eis a lista dos locais mais perigosos publicada pela ICC, uma organização internacional que monitoriza a actividade pirata em todo o mundo:
“S E Asia and the Indian Sub Continent
Africa and Red Sea
- Bangladesh : Chittagong anchorage and approaches. The area is listed as very high risk.
- Indonesia : Belawan, Tanjong Priok (Jakarta) / generally in other areas.
- Malacca straits
- Singapore Straits
South and Central America and the Caribbean waters
- Africa : Lagos (Nigeria) / generally other areas in Nigeria, Dar Es Salaam (Tanzania)
- Gulf of Aden / Red Sea : Numerous pirate attacks have been reported by ships and yachts in the Gulf of Aden. Some of the vessels were fired upon.
- Somalian waters : Eastern and North-eastern coasts are high-risk areas for attacks and hijackings. Ships not making scheduled calls to ports in Somalia should keep as far away as possible from the Somali coast, ideally, more than 200 nautical miles.
- Brazil – Santos
- Peru – Callao”
No Brasil há alguns tipos de saqueadores aquáticos atuando: um trabalha sozinho e utiliza embarcações pequenas, outro tem barcos potentes e o terceiro age em marinas e iates.
Nas bacias dos rios da Amazônia, estes “piratas”, são chamados de de ratos d’água, são ladrões que agem principalmente nos rios da Amazônia. As quadrilhas contam com olheiros que, por rádio ou celular, avisam os comparsas em terra qual embarcação atacar.
Armados, os ratos d’ água usam voadeiras, encostam nas embarcações e logo tomam a casa do leme, para cortar a comunicação. Depois abrem as carretas e os contêineres e fogem levando as cargas.
No rio Negro, rio Amazonas e Solimões, além do Madeira os assaltos a embarcações têm sido constantes e segundo a Polícia, são praticados na maioria por quadrilhas bem organizadas e que utilizam lanchas bem potentes para a fuga mais rápida. Mortes também já aconteceram dentro de embarcações abordadas e durante a atuação dos bandidos, chegaram a matar passageiros e até comandantes, pura e simplesmente por sadismo, porque não houve qualquer resistência.”
Somente nos primeiros 200 dias do ano de 2011, três grandes ocorrências chamaram a atenção da sociedade pelo modo cruel como os “piratas” agiram nos assaltos a embarcações que navegam à noite pelos rios do Pará, sem nenhuma segurança.
O primeiro ataque fatal dos piratas este ano aconteceu no mês de abril, no furo da Piramanha, entre os municípios de Belém e Barcarena.
Na ocasião, o vendedor de açaí Lourivaldo Pinheiro Gonçalves, de 23 anos, perdeu a vida na ação de piratas. Ele viajava de Limoeiro do Ajuru, no Baixo Tocantins, no barco Kalebe Júnior, com destino a Belém. A embarcação foi invadida por cinco “piratas” que o mataram com um tiro no abdômen.
O “modus operandi” das quadrilhas que atuam nos rios do Pará vem sendo mapeado pela polícias Civil e Militar. Os ataques ocorrem sempre à noite com a utilização de voadeiras e “rabetas” (pequenas embarcações) velozes, tendo como suporte um barco maior que, depois da abordagem, carrega tudo o que é possível das vítimas.
A morte do vendedor de açaí foi acompanhada de perto por Irineu Gonçalves, pai do rapaz assassinado, que na época fez criticas contundentes às autoridades quanto à segurança nos rios do Pará. “Nós barqueiros não podemos andar armados, mas os bandidos podem e se acham no direito de nos matar”, gritava Irineu, agarrado ao corpo do filho.
A partir deste crime, um novo olhar do governo do Estado foi direcionado e estratégias que dessem segurança a quem viaja pelos rios do Pará passaram a ser montadas.
E quando se pensava que os assaltos a embarcações estavam sob controle, novamente 186 passageiros do navio “Soure”, que vinha da Foz do Rio Camará para Belém, viveram um dos piores momentos de suas vidas.
Uma quadrilha com 13 homens armados e violentos em plena tarde do mês de junho atacou o navio na região do Coroa Grande, na entrada da baía do Marajó, roubando e espancando idosos, crianças e deficientes em um dos assaltos mais violentos da história fluvial do Estado.
A resposta da Polícia Civil foi imediata. Em menos de 48 horas, a Divisão de Repressão ao Crime Organizado pela Delegacia Fluvial prendeu cinco pessoas envolvidas no assalto. Com os suspeitos foram encontrados objetos roubados de passageiros e de tripulantes.
As prisões foram realizadas nos bairros da Pratinha I e II, em Belém, e entre os presos estavam Elaine Cristina Silva Costa, 24 anos; o companheiro dela, Carlos Jucivan Santos Queiroz, de 31 anos, conhecido como “Tom”; Francisvaldo dos Santos Pinheiro, de 22 anos; Walber Nazareno Raiol Tavares, de 44, o “Maranhão”, e João Luiz Lima de Souza, de 22, de alcunha “Neguinho”.
Parte da quadrilha está presa em Americano, mas ainda existe o restante, cujos pedidos de prisão preventiva foram formulados e conseguidos, mas a polícia ainda não prendeu.
Na madrugada de sexta, 22, mais uma tragédia manchou de sangue os rios do Pará.
A universitária Rafaelen Sousa Cavalcante, de 20 anos, foi morta dentro da balsa “Arca da Aliança”, que viajava de Belém com destino a Anajás, na Ilha do Marajó. Na embarcação, 50 pessoas entre passageiros e tripulantes sofreram o terror nas mãos dos piratas, a maioria idosos e crianças que vinham a Belém para tratamento de saúde.
A Secretaria de Segurança Pública do Pará criou este ano um grupamento fluvial especializado no combate à ação de “piratas” nos rios do Pará. Segundo o delegado Samuelson Igaki, titular da Delegacia de Polícia Fluvial, vinculada à Divisão de Repressão ao Crime Organizado, a criação do grupo é uma resposta imediata do governo do Estado à ação desses grupos criminosos.
O esquema de policiamento e repreensão reúne a Delegacia Fluvial da Polícia Civil, a Companhia Fluvial da Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros e foi criada logo após o assalto ao navio Soure da empresa Banav, que acabou sendo saqueado por uma quadrilha quando viajava da Foz do Rio Camará, no Marajó, com destino a Belém.
O grupamento contará com homens especializados, lanchas de apoio e rádio para comunicação, armamento pesado, entre outros meios necessários ao enfrentamento dos piratas. “Estamos trabalhando também com a inteligência nos casos destes grupos e vamos combatê-los”, informou o delegado Samuelson Igaki.
O delegado pede que, se alguém tiver informações sobre ações de piratas, entrem em contato com o Centro Integrado de Operações da Polícia Militar pelo número 190 ou ainda o Disque-Denúncia, 181, sendo estas informações de caráter sigiloso.
O caso vem merecendo atenção especial também do promotor de Barcarena Herrison Henriques, que responde também pelo município de Anajás, na Ilha do Marajó, e do juiz Lionel Cavalcante, que vem se reunindo com o “staff” da Segurança Pública no sentido de dar uma resposta convincente e maior segurança para quem viaja pelos rios do Pará.
publicado no Diário do Pará
O ataque, ocorrido no mês passado, não teve como cenário o oceano Índico ou o Golfo de Aden, áreas de atuação de piratas somalis, mas sim o norte do Pará. Suas vítimas, que perderam cerca de R$ 15 mil em dinheiro, além de joias e celulares, viajavam entre Soure, maior cidade na Ilha de Marajó, e Belém, a capital do Estado.
Para impedir ataques como esse – só no primeiro semestre deste ano, foram registrados 18 casos semelhantes nos arredores da Ilha de Marajó –, a polícia do Pará pretende criar uma unidade antipirataria, que agregará policiais civis e militares, além de membros do Corpo de Bombeiros.
Em entrevista à BBC Brasil, o secretário de Segurança do Estado, Luiz Fernandes Rocha, afirma que o grupo reunirá entre 70 e 80 homens e terá como função “agregar forças de todas as instituições policiais para combater a pirataria de forma mais rápida, tornando as ações mais coordenadas e direcionadas”.
Segundo Rocha, um projeto de lei prevendo a criação da unidade, por ora batizada de Grupamento Fluvial, será encaminhado à Assembleia Legislativa assim que terminar o recesso de julho. Ele diz esperar que em até três meses o grupo, que desempenhará as funções de policiamento ostensivo, investigação e atendimento a vítimas, possa tornar-se efetivo.
“Mais do que baixar as ocorrências, nossa intenção é dar tranquilidade aos moradores, mostrar que polícia vai estar próxima deles”, afirma.
Barcos rápidos
Além da realocação de policiais e bombeiros, o secretário conta que a criação da unidade exigirá a compra de embarcações rápidas, para fazer frente à agilidade dos “ratos d’água”, como define os criminosos.
Rocha diz não saber, contudo, quantos veículos novos serão necessários, já que a secretaria deverá primeiro finalizar um levantamento sobre quantos barcos atualmente fora de uso por problemas técnicos poderão ser repassados à unidade.
Mais à frente, o secretário afirma que o grupo antipirataria poderá contar também com helicópteros – segundo ele, uma aeronave já está disponível, e há previsão de comprar outras três.
Rocha atribui a pirataria à disseminação das drogas no Estado. “Notamos que muitos municípios pequenos e distritos onde antes não havia casos relacionados ao consumo de drogas hoje já enfrentam problemas. E muitos usuários recorrem ao crime para sustentar o vício.”
"Notamos que muitos municípios pequenos e distritos onde antes não havia casos relacionados ao consumo de drogas hoje já enfrentam problemas. E muitos usuários recorrem ao crime para sustentar o vício."
Luiz Fernandes Rocha, secretário de Segurança do Pará
Ele nega, porém, que os ataques tenham se tornado mais frequentes, dizendo ter havido redução de 15% dos casos no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2010.
Ainda assim, a própria secretaria admite que muitos casos podem não ser registrados, já que há comunidades ribeirinhas isoladas, longe de delegacias.
Fase de testes
O delegado João Bosco Rodrigues, diretor de Polícia Especializada e encarregado pelas ações da Polícia Civil nos rios paraenses, diz à BBC Brasil que o novo grupamento antipirataria funcionou em caráter experimental há um mês, quando ocorreu a Operação Carnapijó.
Segundo Rodrigues, a operação agregou membros das polícias estaduais e da Marinha e identificou quadrilhas que atuam nas ilhas próximas a Belém.
Ele conta que há, entre os criminosos, grupos organizados, que detêm armamentos pesados e são provenientes de várias regiões do Estado, mas as quadrilhas em geral são compostas por ribeirinhos, que usam revólveres e conhecem muito bem as regiões onde atuam.
“Estamos na maior bacia hidrográfica do mundo. Nossa geografia favorece esse tipo de ação criminosa.”
Proteção armada
Enquanto o grupo não é criado, moradores se mobilizam contra os piratas. Um habitante de Abaetetuba, uma das cidades mais afetadas por ataques, conta à BBC Brasil que ribeirinhos estão comprando armas para se proteger.
Estamos na maior bacia hidrográfica do mundo. Nossa geografia favorece esse tipo de ação criminosa"
João Bosco Rodrigues, diretor de Polícia Especializada e encarregado pelas ações da Polícia Civil nos rios paraenses
O morador conta que a mobilização dos barqueiros ocorreu porque se tornaram frequentes, nos últimos anos, casos de pirataria na região. Os criminosos, diz ele, costumam visar embarcações pequenas, roubando seus motores e deixando os barqueiros à deriva. Por isso, afirma que muitos se recusam a viajar à noite, quando o risco de ataques aumenta.
Além das perdas materiais, os ribeirinhos temem os métodos violentos dos piratas. “Eles agridem de graça, atiram de graça, matam de graça.”
Também em resposta às ações, o morador conta que muitos barcos maiores, de linhas regulares, passaram a circular com seguranças armados à paisana entre os passageiros.
publicado na BBC Brasil
Piratas atacam embarcação no rio Amazonas e matam jovem barqueiro:
A média é de três assaltos por semana, cerca de 70 ocorrências somente no primeiro semestre, segundo dados da Colônia dos Pescadores Z-12 de Manaus.
Os assaltos são realizados no período da noite, tanto na entrada quanto na saída de Manaus, em uma região conhecida como Costa do Tabocal, localizado na área que abrange o Careiro da Várzea até o Rio Madeira.
De acordo com Miguel Oliveira, presidente da Z-12, os assaltantes sempre estão fortemente armados e atuam em embarcações pequenas, como voadeiras.
Miguel explicou que cada pescador recebe o Seguro Defeso no valor de R$ 2.180 por quatro meses, que é o período de reprodução de determinados peixes. No último dia 2 de junho, uma criança foi feita de refém. Os criminosos exigiam o dinheiro do Seguro Defeso de cinco pescadores.
O problema já vem ocorrendo há tempos, mas somente na última sexta-feira, 15, que Miguel foi denunciar, juntamente com Eliesel Alves, que sofreu um assalto em seu barco um dia antes. Miguel destaca que muitos pescadores têm medo de denunciar e pede ajuda as Secretaria de Segurança Pública para que a polícia possa estar dando apoio à classe.
Acção de “piratas” em rios do Amazonas preocupa navegantes
A ocorrência de assaltos em embarcações preocupa ribeirinhos e usuários do transporte fluvial. A Polícia registra uma média de três assaltos a barcos por mês, no Amazonas. A informação é do comandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Almir David. Três prisões nos municípios do Careiro da Várzea, a 26 quilômetros da capital, em Iranduba, a 28 quilômetros, e Rio Preto da Eva, distante 58 quilômetros de Manaus, já foram registradas em 2011.
Segundo o coronel Almir David, a PM montou a operação Nigarani em todos os municípios do interior do Amazonas para tentar inibir a ação dos criminosos. A operação conta com um patrulhamento fluvial, o que o coronel chama de “ronda nos rios”, e está em atividade nas áreas com maior incidência de reclamações de assaltos e em cidades no entorno dos rios Amazonas e Madeira.
Na última quinta-feira (7), o comandante participou de reunião com representantes da Capitania dos Portos e do 9º Distrito Naval da Marinha do Brasil para articular uma medida de combate a criminalidade nos rios. “Fechamos ajuda com eles no sentido de nos unirmos para prendermos os criminosos. Eles foram informados dos locais que teoricamente apresentam perigos e montarão equipes para, de repente, nos avisar de algo”, disse.
Navegantes convivem com medo
Quem depende do rio para se locomover sofre com a violência. O que mais tem amedrontado os donos de embarcações é não saber a quem pedir socorro. Esta é a opinião de Dona Neliane Araújo, 38, proprietária das embarcações São Francisco do Uatumã 12º e 13º. “Nós até sabemos das coisas, mas não sabemos na hora a quem recorrer”, afirmou.
A proprietária da embarcação José Lemos, Aurilene Souza, 32, acredita que a fiscalização da Polícia e da Capitania dos Portos é dificultada por conta da extensão do rio. Aurilene afirmou que os assaltos a barcos são mais comuns no rio Negro, por conta disso ela prefere fazer viagens pelo rio Solimões.
Uma proprietária, que não quis se identificar, contou que o cunhado dela identificado por Raimundo Nonato chegou a ser vítima de assaltantes. Ele conduzia uma embarcação com cerca de 90 pessoas à bordo. “Quatro homens em uma lancha chegaram próximo a embarcação e atiraram. Meu cunhado acelerou e atracou em outro local, ninguém se feriu mas o susto foi grande”, relatou.
De acordo com o comandante da PM, apesar do aumento da média de assaltos de um para três, este ano, os crimes são mais comuns no estado do Pará. “Nestes assaltos, os criminosos roubam mais combustível e dinheiro”, afirmou.
No trabalho de fiscalização fluvial, a Polícia Militar do Amazonas disponibilizou três embarcações e um efetivo de 12 homens que se revezam nas proximidades do Puraquequara, na zona Leste de Manaus.
publicado no Portal Purus
Reportagem: 'Pirataria na Amazônia'
Insegurança. Talvez esta seja a palavra que melhor defina o município de Breves, no Pará. Segundo a Polícia Militar, a cidade está localizada na zona vermelha do estado e sobrevive, basicamente, graças ao Fundo de Participação dos Municípios. Porém, hoje, Breves atravessa uma nova crise. Com o fechamento de boa parte das madeireiras ilegais existentes na região, muitas pessoas ficaram desempregadas e, sem qualquer perspectiva de futuro, gente como José da Silva* entraram na criminalidade.
José conta que se deixou levar pelo que ele chama de “circunstâncias da vida”. Aos 21 anos, é pai de três crianças e a esposa de 19 está grávida do quarto filho do casal. Diz que já fez de quase tudo. Plantou açaí, criou galinha, vendeu peixe na feira, mas foi trabalhando em uma madeireira que conseguiu juntar algum dinheiro. Com o pagamento que recebia da extração ilegal de madeiras nobres, comprou um pequeno barco e intensificou os negócios. Mas, aos poucos, o cerco foi apertando e ele se viu encurralado. “O IBAMA [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente] estava na minha cola. Era chave [cadeia] ou fugir. Não tive dúvida, fugi”, revela.
José passou seis meses foragido. Quando voltou para Breves, um conhecido lhe fez uma proposta. “Dinheiro fácil. Me chamaram para ser pirata. E estou nessa vida há um ano”, confessa.
Pirataria é um termo bastante conhecido no Brasil, mas ao contrário do que acontece em outras regiões do país, no Pará, não significa copiar ilegalmente produtos (CDs e DVDs) já patenteados por outras empresas. “Aqui, pirata é o indivíduo que ataca as embarcações que cruzam o rio e saqueia as mercadorias”, explica Josafá Pereira Borges, coronel da Polícia Militar.
De acordo com dados da polícia local, em 2006, foi registrada uma média de 60 assaltos por mês a embarcações. Um número que justifica a sensação de insegurança entre os marinheiros locais. “Graças a Deus nunca fui assaltado por piratas. Mas, se acontecer, o que eu posso fazer? O jeito é deixar que levem tudo e rezar para não morrer”, diz Olivar Isacksson dos Santos.
O coronel Borges conta que outro agravante é a falta de estrutura e contingente policial para garantir a segurança da população. “Atualmente, Breves conta com um efetivo de 90 policiais. Levando em consideração que são aproximadamente 90 mil habitantes na cidade, é só fazer as contas e perceber que é um policial para cada mil pessoas”, desabafa.
Segundo ele, o jeito é trabalhar na base do improviso. “Temos uma lancha aqui que, devido a potência do motor [60 km/h], inibe a atividade dos piratas na região. De qualquer modo está parada há seis meses. Desde de dezembro esperamos uma peça do motor chegar de Belém, mas até agora nada. Aí, temos que correr atrás de bandido bem estruturado, usando os barquinhos locais. Sem dúvida, a falta de estrutura é nosso pior inimigo”, desabafa.
Inimigo de uns, amigo de outros. Enquanto a polícia trabalha com recursos insuficientes, a pirataria dá exemplo de profissionalização. A reportagem conversou com alguns funcionários das balsas que costumam navegar pelos rios paraenses e, sob a condição de não ter o nome revelado, um deles garantiu que, muitas vezes, os assaltos fazem parte de uma espécie de conchave. Um acordo entre piratas e donos de embarcações, onde os piratas ficariam com a mercadoria “roubada” e os proprietários das balsas com o dinheiro pago pelas seguradoras.
A fonte afirma ainda que, a depender do conteúdo da carga adquirida, os produtos são vendidos para empresários da região a preço de banana e que depois são revendidos para a população como produtos legais.
reportagem do Veleiro Repórter, publicada em 23/03/2008
* Por razões óbvias o nome da fonte foi preservado. O 'Veleiro repórter' acompanhou o rally Iles du Soleil, um clube de cruzeiristas composto por 36 barcos europeus que, pela primeira vez, se aventurou a navegar cerca de mil quilómetros pelo rio Amazonas
Relato de Matthew Mohlke e Corrado Filipponi *
PIRATARIA NA AMAZONIA E nas águas brasileiras...
por Victor Leonardi*
- Para muita gente, pirataria parecia coisa do passado. Mesmo aqueles que conheciam melhor o assunto, lembravam-se apenas de nomes de bucaneiros do Caribe, ou do Atlântico Norte - Francis Drake, Henry Morgan -, desconhecendo, quase sempre, a história da pirataria no litoral brasileiro. Ela existiu e foi um verdadeiro flagelo, nos séculos 16, 17 e 18, envolvendo portugueses e luso-brasileiros em inúmeros episódios sangrentos. Vou mencionar alguns desses ataques de piratas, os mais devastadores, mas antes assinalo que a pirataria nunca terminou por completo e hoje ressurge com uma força que ninguém esperava.
Antes de analisar a pirataria em seu contexto histórico, dou um depoimento: eu estava navegando pelo Rio Solimões, na Amazônia, entre a fronteira do Peru e Manaus, em abril de 1982, quando ouvi pela primeira vez relatos de passageiros de um barco que acabara de ser pilhado violentamente por piratas, no mesmo trecho pelo qual tínhamos acabado de passar com nosso barco, entre Coari e Manacapuru. Os piratas chegaram à noite, em pequenos botes, subiram a bordo e mataram o piloto com barras de ferro, ferindo gravemente, em seguida, vários passageiros. Roubaram objetos pessoais e uma parte da carga. No porto flutuante de Manaus, no dia seguinte, as pessoas só falavam nisso, indignadas. Ouvi muitas outras histórias semelhantes naquele dia e só então despertei para a atualidade do tema, passando a observá-lo com mais atenção. Não conheço nenhum estudo sistemático a esse respeito, mas registrei vários casos lamentáveis nos últimos 27 anos.
O ato de pirataria mais conhecido contra embarcações fluviais ocorreu no Rio Amazonas, nas imediações de Macapá, no dia 6 de dezembro de 2001. Piratas brasileiros mataram Peter Blake, famoso esportista da Nova Zelândia, que havia ganhado vários prêmios em competições internacionais, inclusive um por ter batido um recorde em seu catamarã, velejando ao redor do mundo em 77 dias, 22 horas e 17 minutos. Peter Blake estava na Amazônia em missão científica patrocinada pela ONU. Ele e sua equipe faziam estudos sobre o aquecimento global quando foram atacados por um grupo de oito piratas encapuzados e armados. Vários integrantes da expedição foram feridos com facadas e Peter Blake foi assassinado com um tiro nas costas. O fato foi divulgado no mundo inteiro nos dias seguintes.
No litoral brasileiro, ocorreram vários assaltos a navios cargueiros de grandes dimensões, principalmente nas imediações dos grandes portos marítimos. Eram navios muito maiores do que as embarcações fluviais da Amazônia, o que mostra que a pirataria marítima é mais ousada e está mais preparada tecnologicamente do que a pirataria fluvial. Foram registrados muitos ataques praticados por piratas nos últimos 20 anos em águas brasileiras, mas vou citar apenas alguns, relacionados com o porto de Santos. Em 1983, o navio Agenor, atracado ao cais do armazém número 3, foi invadido por homens armados que efetuaram vários disparos e roubaram muitos aparelhos eletrônicos da carga em trânsito. A tripulação do navio solicitou repatriamento, alegando que faltava garantia de vida nesse porto brasileiro. O fato foi noticiado pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 23 de setembro de 1983. Fatos semelhantes continuaram ocorrendo nos anos seguintes. O navio Angelis Protector foi abordado por quatro piratas encapuzados que usavam armas de grosso calibre. Os tripulantes foram rendidos e presos em uma cabine. O imediato, Sigilos Panagiotis, foi agredido e amarrado. Os piratas roubaram o cofre e pertences da tripulação. O Kapetanissa foi invadido por piratas no terminal privativo da Cosipa, em Cubatão. Oito bandidos aproximaram-se, em uma lancha, e tomaram de assalto o navio. Os tripulantes agredidos foram atendidos no pronto-socorro da própria usina. Na mesma noite, o Almanaz, com bandeira da Arábia Saudita, foi abordado por uma lancha, pelo lado do mar, e dela saíram vários homens portando armas de grosso calibre e barras de ferro. O engenheiro de máquinas levou um tiro na barriga. O primeiro piloto e o contramestre foram agredidos a coronhadas. Muitos outros cargueiros foram vítimas da pirataria moderna em Santos: no Golden Wave, houve roubo de carga e da cabine do comandante; no Thasos Island, roubo de carga; no Ocean Hope, roubo de carga em contêiner.
A situação tornou-se tão preocupante que a Secretaria Especial de Portos, da Presidência da República, preparou, em 2007, um plano para combater assaltos a navios de carga nos portos brasileiros. A iniciativa merece apoio, mas a aplicação prática do plano depende de tantos fatores conjunturais e sociais que seu futuro é incerto. Basta ver o que vem acontecendo, quase sempre impunemente, com o roubo de cargas de caminhões. Milhares de caminhoneiros foram vítimas nos últimos 20 anos de ataques semelhantes a esses que ocorreram nos rios e no mar. Algumas rodovias brasileiras estão mais perigosas do que a costa da Somália...
Conheço bem algumas dessas rodovias, pois durante sete anos fiz pesquisas (para o Ministério da Saúde, com apoio do United Nations Office on Drugs and Crime) nas fronteiras do Brasil com todos os países vizinhos, do Amapá ao Rio Grande do Sul. Entrevistei diversos caminhoneiros, guardas rodoviários, juízes, agentes da Polícia Federal e proprietários de transportadoras, ao longo das extensas fronteiras do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Posso assegurar que a pirataria moderna não é apenas fluvial e marítima. Agora ela é fluvial, marítima e também terrestre. Cito o caso da BR-364: entre a cidade de Cáceres, no Mato Grosso, e a divisa desse Estado com Rondônia, há um trecho de cerca de 500 quilômetros de fronteira seca, na qual a linha divisória não segue o curso de rios, como acontece em outras áreas. Essa fronteira seca torna a BR-364 extremamente perigosa. Era proibido viajar à noite quando por lá passei, em 2000, e os caminhões se agrupavam nas imediações de Cáceres para viajar em comboio. Mesmo viajando durante o dia, os assaltos continuaram frequentes. Roubavam não apenas as cargas, mas os caminhões, caríssimos. Muitos caminhoneiros haviam sido assassinados no acostamento com um tiro na nuca. Os caminhões eram levados por estradinhas de fazenda (as "cabriteiras") até o país vizinho, onde as placas eram trocadas e documentos falsos, providenciados. As pessoas tinham medo de falar desse assunto nos postos de gasolina e churrascarias da 364. Era a pirataria em sua cruel versão terrestre e brasileira. Pouca coisa melhorou.
A pirataria propriamente dita, nas águas, sempre associada a formas violentas de pilhagem, vem recebendo atenção cada vez maior da Secretaria Especial de Portos, da Polícia Federal, da Secretaria Nacional de Segurança Pública e dos guardas portuários federais. Não é para menos: na Amazônia, segundo o Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial (Sindarpa), a ação dos piratas vem ocorrendo, nos últimos quatro ou cinco anos, com um grau cada vez maior de perversidade. Os ladrões chegam a torturar tripulantes e a estuprar mulheres que viajavam como passageiras em rios do Pará. Segundo o jornal O Liberal, de Belém, somente no mês de dezembro de 2007 e primeiros dias de janeiro de 2008, dez grandes assaltos foram praticados por piratas em rios do Estado. Eletrodomésticos e combustível são os produtos mais visados.
Luiz Ivan Barbosa, da transportadora Linave, relata o que aconteceu com três balsas que vinham de Manaus para Belém e encalharam em frente à cidade de Barcarena, considerada um dos pontos mais perigosos do caminho: enquanto as balsas permaneciam ali, a empresa contratou seguranças particulares para proteger a carga. E contou também com a colaboração da Polícia Militar. Nada disso foi suficiente: os piratas vieram em grande número e com maior poder de fogo. Seguranças e policiais foram jogados na água e a carga foi roubada.
No que se refere à pirataria em suas versões mais antigas, teríamos material suficiente para escrever um livro. Recapitularei apenas alguns casos. A vila de Santos foi atacada por Edward Fenton, em 1583, e por Thomas Cavendish, em 1591. Eram corsários ingleses. A cidade de Salvador foi assediada pelo corsário Robert Withring e o Recife, por John Venner e James Lancaster. O episódio mais conhecido é o da invasão de Santos e São Vicente por Thomas Cavendish, em 1591, pois os fatos foram relatados por um dos tripulantes, Anthony Knivet, no livro As Incríveis Aventuras e Estranhos Infortúnios de Anthony Knivet. Os assaltantes chegaram à noite, na véspera do Natal, quando quase todos os habitantes da vila estavam na igreja, para a Missa do Galo. Prenderam Brás Cubas, o fundador de Santos, e vários sesmeiros importantes. Depredaram muita coisa, provocando a fuga dos moradores, e queimaram todas as embarcações que estavam no porto. Depois foram até São Vicente, por terra, saqueando e pilhando todos os engenhos de açúcar que encontraram.
No século seguinte, no ano de 1689, piratas atacaram a Ilha de Santa Catarina, violentaram várias mulheres e mataram o fundador da vila de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), o paulista Francisco Dias Velho. Alguns anos mais tarde, em 1711, o corsário francês René Duguay-Trouin saqueou o Rio de Janeiro e ainda impôs aos moradores um pesado resgate: 610 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois.
Vários corsários mantinham estreitas relações com monarcas e grandes comerciantes daquela época, muitos dos quais participavam dos lucros da pirataria: Thomas Cavendish foi armado cavaleiro, pela rainha da Inglaterra; Duguay-Trouin foi admitido na Marinha Real francesa com patente de capitão de fragata, e hoje existe uma estátua em sua homenagem no Palácio de Versalhes.
A construção naval mudou muito nos últimos 200 anos e as armas usadas pelos piratas hoje são mais poderosas. Porém, algumas continuidades podem ser notadas: a mesma ganância e crueldade e a mesma participação de alguns políticos e empresários mafiosos nos negócios lucrativos do crime organizado, ao qual a pirataria está muitas vezes associada. Esses empresários desonestos são receptadores de cargas roubadas e, sem eles, esse tipo de comércio criminoso não se efetivaria.
Como o setor portuário movimenta 700 milhões de toneladas por ano de diferentes mercadorias, que correspondem a 90% do comércio exterior do País, o mínimo que se pode dizer é o que disse o ministro Pedro Brito, em 2007, quando a Secretaria Especial de Portos anunciou o plano de combate à pirataria: "Os casos de assaltos a navios ancorados em portos brasileiros é um vexame".
publicado originalmente em O Estado de S.Paulo a 14/09/2011
* escritor e historiador, é autor, entre outros, de Violência e Direitos Humanos nas Fronteiras do Brasil. Foi professor da UnB, da Unicamp, da Universidade do Amazonas e da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Pirataria - Da Grécia antiga ao Brasil contemporâneo
por Antonio Carlos Olivieri*
A captura do superpetroleiro Sirius Star em 15 de novembro de 2008, com 25 tripulantes e uma carga de US$ 100 milhões em petróleo, chamou a atenção do mundo para a pirataria que tem como base a costa da Somália, na África. Pouco depois, noticiou-se a captura de um cargueiro do Iêmen que transportava 570 toneladas de material de construção. Dois jornalistas que foram cobrir esses acontecimentos - um britânico e um irlandês - acabaram sendo seqüestrados pelos piratas também.
No caso dos dois navios mencionados, pede-se resgate de, respectivamente US$ 15 milhões e US$ 2 milhões. Pelo resgate dos jornalistas, até a publicação deste artigo, nenhuma quantia ainda havia sido divulgada, mas, em janeiro deste ano, uma médica espanhola e uma enfermeira argentina foram resgatadas aos piratas somalis por US$ 200 mil. Estima-se que a pirataria da Somália tenha arrecadado cerca de US$ 100 milhões no último ano.
Quem se depara com essas notícias pode pensar que se está diante de um renascimento da pirataria, um tipo de banditismo característico do mar do Caribe, no século 18, mas essa é uma visão equivocada. De fato, o Caribe, entre as décadas de 1660 e 1720, conheceu uma grande atividade de piratas, que serviram de base para várias produções cinematográficas, das quais a mais recente é série "Piratas do Caribe", estrelada por Johnny Depp.
O seqüestro de imperador
No entanto, a origem da pirataria remonta à Antigüidade. Não se pode precisar uma data exata para seu surgimento, mas ela deve ter aparecido no mesmo momento em que se desenvolveu o comércio marítimo no mar Mediterrâneo e Egeu, durante o século 13 a.C. Aliás, a palavra "pirata" vem do grego "peirates" e designava o indivíduo que procurava sua fortuna por meio da aventura no mar.
Vale lembrar que já nessa época os piratas praticavam o seqüestro de pessoas a serem libertadas mediante pagamento de resgate. O caso mais célebre é o de ninguém menos que o jovem Júlio César, futuro fundador do Império romano. O barco em que César viajava para a ilha de Rodes foi capturado e os piratas resolveram pedir por ele 20 talentos de ouro. Segundo biógrafos romanos, Júlio retrucou que poderiam pedir 50 e o resgate foi pago. Uma vez em liberdade, o futuro imperador armou uma frota, perseguiu seus seqüestradores, prendeu-os e os crucificou.
No mundo ocidental, durante a Idade Média, a pirataria esteve a cargo dos vikings, que atacavam embarcações e aldeias, particularmente na Grã-Bretanha. Já ao fim dos tempos medievais, quando a República de Veneza monopolizou o comércio no Mediterrâneo, tornaram-se comuns os ataques de piratas sarracenos, nome com que os europeus designavam genericamente os muçulmanos.
Grandes navegações
Foram as Grandes Navegações, em especial a partir do século 16, que deram impulso à pirataria na Idade Moderna. O Brasil, nesse primeiro século de colonização, foi alvo freqüente de ataques piratas. Franceses, ingleses e holandeses, cuja expansão marítima foi posterior à espanhola e à portuguesa, invadiram o Maranhão, o Recife, a Bahia e a vila de Santos, na capitania de São Vicente.
O ataque a Santos ocorreu na noite de natal de 1588 (o ano é discutido pelos historiadores, fala-se também em 1590 e 1591). Enquanto a população celebrava a missa na Igreja matriz, esta foi cercada pelos piratas comandados pelo capitão inglês Thomas Cavendish (1555-1592), que saquearam o local e fizeram prisioneiros os homens mais importantes da vila, entre os quais o capitão-mor Brás Cubas (1507-1592), o fundador da localidade.
A aventura pode ser conhecida em detalhes, pois foi transformada em livro por Anthony Knivet, um dos membros da tripulação de Cavendish. "As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet - memórias de um aventureiro inglês que em 1591saiu de seu país com o pirata Thomas Cavendish e foi abandonado no Brasil, entre índios canibais e colonos selvagens" é o título da edição original de 1625 e dela se encontra uma versão recente em português, publicada por Jorge Zahar Editor.
Rio de Janeiro e Amazônia
O Rio de Janeiro também foi vítima de uma invasão semelhante, que se estendeu por um mês entre setembro e outubro de 1711. Tratava-se de corsários franceses, comandados pelo capitão René Duguay-Trouin. Corsários atuavam da mesma maneira que os piratas. Obtinham, porém, uma carta de corso, isto é, uma autorização de seus países de origem para atacar navios e colônias de outras nações.
Duguay-Trouin sitiou o Rio de Janeiro por um mês e só foi embora depois que a cidade pagou um resgate de 100 mil libras em ouro e libertou mil prisioneiros franceses. Suas "Memórias" também podem ser encontradas em português, em volume publicado pela Editora da Universidade de Brasília.
Mas a pirataria em Santos e no Rio de Janeiro não é somente parte da história. Nos portos das duas cidades, que são os maiores do país, a atividade principal dos piratas contemporâneos é o roubo de cargas dos navios ancorados. Além disso, a navegação fluvial na bacia do Amazonas também é vítima da prática de pirataria, particularmente na ilha de Marajó.
Os piratas amazônicos são conhecidos como "ratos d'água". Em dezembro de 2001, o navegador neozelandês Peter Blake, 53, foi morto por um grupo desses piratas durante assalto a seu veleiro, em um distrito de Macapá (AP). Ele era considerado um dos maiores velejadores do mundo e o caso ganhou destaque internacional.
publicado no Portal UOL Educação
* escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.
Os ratos d’água, também atacam turistas que estão em viagens de lazer para conhecimento da região. Um dos crimes mais recentes, foram dez turistas entre japoneses, americanos e irlandeses, atacados nas imediações do município de Benjamin Constant. A quadrilha chegou numa lancha voadeira, fortemente armada, tomou as bagagens, roupas, dinheiro e até joias de todos os turistas, que ainda foram jogados no rio, para que o bando também levasse a lancha voadeira que estava sendo usada no passeio.
A Policia Militar, afirma que não tem estrutura, para coibir os crimes, a Marinha do Brasil, diz que isso é caso de Policia, enquanto isso as quadrilhas vem fazendo a festa, espantando turistas e prejudicando a economia.
Somente no primeiro semestre do ano passado foram 18 assaltos no Pará, com um prejuízo calculado de R$ 10 milhões para as empresas de navegação.Os tripulantes começam, aliás, a desistir da profissão temendo por suas vidas, pois a insegurança é grande na região, que parece ser terra de ninguém.
No início foi citado o ataque covarde ao iate do navegador Peter Blake, o fato ocorreu num ponto que é a parada obrigatória, e a Policia Federal admite que os assaltos aquáticos são muito comuns naquela praia, onde fundeiam as embarcações estrangeiras que se dirigem ao porto de Macapá para aguardar vistoria. O curioso é que os federais exigem que os barcos fiquem ali sem nenhuma proteção.
Cf. também:
http://cnews.canoe.ca/CNEWS/Canada/2007/05/27/4211658-sun.html
http://www.icc-ccs.org/prc/piracyreport.php
http://findarticles.com/p/articles/mi_m0BEK/is_9_7/ai_55548157
http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=48729&Imprime=on
http://www.oceansatlas.org/unatlas/issues/safety/transport_telecomm/maritime_sec/piracy2k.htm
O último porto
O assassinato de Peter Blake, um dos maiores velejadores da história, no rio Amazonas, coloca o Brasil na rota dos países de risco para a navegação
O crime estarreceu o mundo. Na Nova Zelândia, onde Blake era tratado como um ídolo do quilate de Pelé ou Ayrton Senna, as repartições públicas hastearam as bandeiras a meio pau e os trabalhos no Parlamento foram interrompidos. Além de tirar a vida do capitão que vinha dedicando seu tempo às pesquisas sobre os ecossistemas, os piratas do rio Amazonas feriram o pesquisador Geoff Bollock, 28 anos, e o engenheiro Roger Moore, 55. Bollock levou um tiro nas costas e Moore, uma coronhada no rosto. Ambos foram transportados para o Hospital de Emergências, em Macapá, e liberados três horas depois. A PF alega que um dos bandidos teria sido ferido na mão. Do veleiro, além do relógio de Blake, os ratos d’água levaram equipamentos, um motor de popa de 15 hps e uma bússola, presente dado pela rainha britânica Elizabeth II em 1991, quando o condecorou com a Ordem de Cavaleiro do Império Britânico e o transformou em Sir Peter Blake.
Ratos presos – Na madrugada de sexta-feira 7, a polícia seguiu uma advogada que iria encontrar um grupo e prendeu sete dos oito acusados de pertencer à quadrilha no Porto de Santana, a 30 quilômetros de Macapá. De acordo com a PF, pelo menos quatro deles admitiram ter participado da ação. “Os cabeças se chamam Ricardo Colares e Izael Pantoja”, informou o assessor da PF José Araújo Filho. “Objetos retirados do barco foram encontrados na casa da mãe do Colares, que teria atirado em Peter Blake”, completou o assessor. Apesar de não existirem registros de casos que tenham acabado em morte, a PF admite que os assaltos aquáticos são muito comuns naquela praia, onde ancoram as embarcações estrangeiras que se dirigem ao porto de Macapá para vistoria. O curioso é que os federais exigem que os barcos fiquem ali sem nenhuma proteção.
Na tarde da quinta-feira 6, o presidente Fernando Henrique Cardoso encaminhou telegrama de condolências à primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark – que esteve recentemente no Brasil e encontrou-se com Blake no Seamaster. O governador do Amapá, João Capiberibe (PSB), ecoou o discurso. “Este caso humilha o Brasil, mas aposto que daremos a resposta”, disse. A embaixadora da Nova Zelândia no Brasil, Denise Almoa, acompanha as investigaçõe e trabalha para a liberação do corpo do navegador, que deixou mulher e duas filhas.
Colares e seus parceiros disseram que atiraram porque Sir Blake reagiu. Mas, se depender do que pensam os amigos do velejador, a PF pode estar diante de um mistério com várias hipóteses. “Duvido que ele tenha reagido ou permitido qualquer reação de sua tripulação. Ele sabia que esse tipo de pirata existe no mundo todo e sempre aconselhava os amigos a entregar todo o dinheiro”, diz o iatista Klaus Peters, amigo de Blake desde 1992. Em setembro último, porém, numa entrevista exclusiva a ISTOÉ, o neozelandês mostrou uma disposição diferente. Perguntado sobre os riscos que corria navegando em águas sul-americanas, o velejador foi enfático: “Estamos cientes desta situação e nos preparando muito bem. Estamos falando com as pessoas certas e procurando garantir a nossa segurança. Se o pior acontecer, ofereceremos dura resistência aos ataques. Temos uma tripulação grande e teremos guardas também.” Na Nova Zelândia, velejadores próximos de Blake suspeitam que o campeão tenha sido vítima de pessoas que, por algum motivo, ele conhecia. Algum guia ou mesmo alguém que lhe tenha vendido mantimentos. A hipótese decorre dos hábitos do navegador. Ele sempre tinha o costume de manter um vigia no convés para identificar qualquer aproximação. Na noite do crime, o veleiro só conseguiu pedir socorro depois que a tragédia ocorreu. Às 22h34 a Capitania dos Portos de Macapá recebeu por rádio o pedido de socorro e imediatamente comunicou o caso à Polícia Federal. “Esse é um caso de polícia. Não temos nada com isso, apenas recebemos a informação”, disse o tenente Roberto, da Capitania.
Determinado a dar a volta ao mundo para defender o meio ambiente, Blake partiu de sua terra natal, em novembro do ano passado, esperando documentar os principais ecossistemas do mundo. Passou dois meses nas geleiras da Antártica, e resolveu ver de perto a fauna e a flora da Amazônia. A ‘Blakexpeditions’, sua empresa, tinha o apoio do Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUED) e era patrocinada pela Omega, a fabricante do relógio levado pelos assassinos. Antes de ancorar em seu último porto, na praia da Fazendinha – um vilarejo com cinco mil habitantes-, Blake esteve em Manaus (AM), navegando pelo rio Negro. No Amapá, entraria em contato com a Agência de Desenvolvimento do Amapá (Adap), articuladora de sua visita ao Estado. O previsto era navegar pelo rio Amazonas até o Atlântico e depois seguir para o rio Orinoco, na Venezuela, onde encontraria outro grupo ecológico. Acostumado a enfrentar as tormentas dos mares, foi morto por ratos d’água doce.
UM CAMPEÃO APAIXONADO PELA NATUREZA
Torben levantou cedo na quinta-feira, mas não treinou. Nem ele nem os companheiros da Prada, tampouco os marinheiros das outras cinco equipes instaladas na baía. Atividades em marinas e eventos relacionados ao iatismo foram suspensos. Não era para menos: a bela Auckland, com seus 800 mil habitantes, é a cidade natal de Peter Blake, provavelmente o iatista mais premiado na história da vela. Entre as dezenas de títulos importantes, ele venceu em 1990 a Whitbread, atual Volvo Ocean Race, que chegará ao Rio de Janeiro em fevereiro de 2002. Em 1994, estabeleceu um recorde ao dar a volta ao mundo num veleiro em 74 dias, 22 horas, 17 minutos e 22 segundos. No ano seguinte, tornou-se o comandante do primeiro barco não-americano a vencer a America’s Cup. Em 2000, levou o bi em Auckland como coordenador da equipe Black Magic, que derrotou o Luna Rossa/Prada de Torben por 5 a 0 na melhor de nove final. Foi bicampeão das regatas Fastnet (1979 e 1989) e Sydney-Hobart (1980 e 1984). Entre as honrarias, foi nomeado Cavaleiro do Império Britânico pela rainha Elizabeth II em 1991 e, depois, embaixador do meio ambiente das Nações Unidas. Recebeu também dois prêmios de esportista do ano e quatro de iatista do ano no mundo.
Após o segundo triunfo na America’s Cup, Blake decidiu abandonar as competições formais e transformou o planeta numa grande raia para as pesquisas e aventuras da Blakexpeditions, sua expedição, apoiada pela ONU. Muitos os consideravam o sucessor de Jacques Cousteau. Queria conhecer ecossistemas e descobrir as causas de problemas como o aquecimento do planeta. Fez pesquisas na Antártica e no Mar Cáspio. Radical, proibia a tripulação de usar repelentes nas florestas, para que ela “sentisse na própria pele a intensidade da vida selvagem”. O impacto da morte de Blake foi ainda mais forte entre os velejadores. “O Peter nasceu num país onde 27% da população possui algum tipo de embarcação. É o maior porcentual do mundo. Não é exagero dizer que eles perderam um ídolo supremo, um Ayrton Senna ou mesmo um Pelé”, disse o navegador Amyr Klink de Palma de Mallorca, na Espanha. “Ele era minha referência. O Paratii 2, meu novo barco, é filho do Seamaster. Os dois foram projetados pelos mesmos arquitetos. Fiquei orgulhoso de ver o Peter rumar para as expedições, um caminho que sempre trilhei. O Brasil, infelizmente, está entre os países de risco para a navegação, ao lado da Venezuela, da China e do Panamá”, completou Klink. “Ele unia a sensibilidade do Torben a um talento raro, como o de Amyr, para organizar expedições de exploração”, analisa o secretário nacional de Esportes Lars Grael, irmão de Torben e dono de duas medalhas olímpicas. “A imagem do Brasil no Exterior sofreu um golpe duríssimo”, constata Robert Scheidt, o maior vencedor internacional da história do esporte individual brasileiro. Os comentários dos especialistas não deixam dúvidas: os mares e o meio ambiente perderam um de seus principais defensores.
publicado na revista IstoÉ N° Edição: 1680 | 13.Dez.01
Assassinado no Brasil
Ladrões matam a tiros, na Amazônia, Peter Blake, o maior navegador da atualidadeAFP Peter Blake: fim da viage |
Peter Blake era um herói para os neozelandeses, que comparam seus feitos nas águas à proeza realizada em 1953 por seu conterrâneo Edmund Hillary, o primeiro homem a escalar o Monte Everest. O herói foi morto a tiros em Macapá, a capital do Amapá, na quarta-feira passada, por um grupo de assaltantes que invadiu um dos veleiros mais sofisticados do mundo para roubar um bote inflável, um motor de popa e um punhado de relógios. O médico-legista que examinou o corpo informa que o mais famoso navegador da atualidade, o grande campeão do iatismo mundial e um ídolo que chegou a ser condecorado pela rainha da Inglaterra tomou dois tiros pelas costas. Armado com um rifle de calibre 38, ele reagiu ao assalto e tentava esconder-se do revide dos bandidos ao ser acertado. Blake apareceu no convés logo que os piratas subiram ao barco e estavam tentando render outros tripulantes. Havia uma pequena comemoração no grupo, pelo fim de uma etapa da viagem. Um dos tiros ficou alojado na musculatura do tronco de Blake. Outro atravessou o corpo, rompendo uma artéria e produzindo a morte por hemorragia em menos de três minutos. Os assaltantes foram presos na sexta-feira. Integravam uma das quadrilhas que agem na orla do Amapá assaltando embarcações. Esses ratos-d'água, como são conhecidos, fizeram 43 vítimas em torno na área de Macapá apenas no mês de novembro.
Blake e o grupo de pesquisadores que viajava no veleiro Seamaster tinham ancorado à tarde numa das enseadas mais bonitas da região, atraídos pela mansidão e limpeza das águas e pela brancura da areia. Estavam a 200 metros da Praia da Fazendinha, a 17 quilômetros de Macapá, um ponto que atrai muitos turistas -- e ratos-d'água. No dia seguinte, zarpariam para a Venezuela. Vinham do interior da Amazônia, encerrando mais um estágio da expedição que o navegador iniciou no ano passado com a intenção de explorar os principais ecossistemas do planeta. Na primeira etapa a bordo do superveleiro construído especialmente para essa aventura, o herói neozelandês explorou a Antártica. Ao passar pela Amazônia, chegou a receber a visita a bordo da primeira-ministra de seu país, Helen Clark, em Manaus. Ela passou vinte horas no Seamaster e definiu esse encontro como o ponto alto de sua viagem à América do Sul. "É terrível saber que mataram uma pessoa como Blake por coisas tão irrisórias", disse a primeira-ministra ao saber do crime. Em Macapá, iniciou-se logo depois do homicídio o jogo de empurra entre autoridades para livrar-se da responsabilidade por permitir que o barco parasse num lugar tão perigoso. A Polícia Civil informava que o navegador chegou à cidade sem avisar. A Polícia Federal, cujo posto foi visitado por tripulantes do veleiro para desembaraço de documentos, garantia que eles foram genericamente alertados sobre o risco de assalto. Paulo Matos, um brasileiro que estava a bordo, comunica que, na verdade, foi seguida a indicação de um oficial da Marinha, que os orientou a não ficar no porto, por ser uma área visada por ladrões.
Três homens abordaram o Seamaster enquanto um ficou aguardando ao volante de uma pequena embarcação. Eles tinham planejado o roubo depois de ver o barco ancorado na enseada. Todo de alumínio, o veleiro tem 36 metros de comprimento. Pode navegar em áreas muito rasas e também em mares agitados. Dotado dos mais modernos sistemas de navegação e filmagem subaquática, o barco serviu de inspiração para o novo modelo construído pelo navegador brasileiro Amyr Klink. Os bandidos, que tinham notado a passagem de parte da tripulação em terra durante o dia, chegaram gritando "money" apenas. No tiroteio, feriram outros dois pesquisadores neozelandeses. Um dos assaltantes teve a falange de um dos dedos arrancada por um disparo feito por Blake. A Polícia Federal diz que mais três homens deram apoio logístico à ação dos piratas. Blake, segundo amigos, já tinha enfrentado outros assaltos no mar e, supostamente, sabia como reagir em situações como essa.
Todo o mundo da vela atribui a Blake a profissionalização desse esporte. Em 1990, ele venceu a regata Whitbread de modo pouco usual no iatismo que se praticava até então. Os outros grupos eram compostos de amigos que se juntavam para fazer da volta ao mundo um grande passeio. O capitão tinha uma equipe profissional, com contratos de longo prazo. Planejava cada parte dos deslocamentos, queria recordes, tinha patrocinador que cobrava resultados. "Blake colocava todo mundo na linha sem tirar das pessoas o entusiasmo nem o prazer de velejar", recorda o iatista brasileiro Cacau Peters, que integrou uma equipe instruída pelo herói neozelandês. Entre outros feitos, Blake venceu em 1995 a America's Cup, a copa do mundo do iatismo. Foi a segunda vez que a prova não acabou vencida por americanos, em 145 anos de história. Em 2000, liderou a equipe da Nova Zelândia nessa mesma competição e venceu de novo. Quando decidiu abandonar as provas em nome do projeto ecológico, apoiado pela Organização das Nações Unidas, começou a realização de um sonho. "Agora, sim, estou na regata que importa", disse recentemente. "É uma corrida para ajudar o planeta." Blake tinha apenas 53 anos.
Navegou o suficiente para dar 28 voltas em torno da Terra
Venceu duas America's Cup, a copa do mundo do iatismo
Recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico
Bateu o recorde da regata Whitbread, de volta ao mundo com escalas
Bateu o recorde do Troféu Júlio Verne, de volta ao mundo sem escalas
Realizava havia um ano o projeto de navegar pelos principais ecossistemas do planeta
A praga dos mares
Os oceanos do Hemisfério Sul estão tomados pelos piratas. Só no anopassado, eles mataram 72 pessoas
por Leonardo Coutinho
AFP Execução de um pirata na Ch |
O navio Petro Ranger deixou o porto de Cingapura com uma carga de combustível avaliada em 1,5 milhão de dólares. Os piratas atacaram poucas horas depois. A lancha que emparelhou com o petroleiro não foi percebida pelo radar. Doze bandidos subiram a bordo, por escadas de bambu e pelas cordas do próprio Ranger. Encapuzados, com facões e revólveres, eles renderam e amarraram o capitão escocês Ken Blyth e toda a tripulação. Navegaram treze dias, até encontrar dois navios menores no Mar da China. Eram comparsas dos assaltantes e começaram a transferir o óleo de seus tanques. Um pirata usou o rádio para falar com os parceiros. A comunicação foi interceptada pela guarda costeira. A polícia os alcançou. Os piratas se renderam. Blyth foi libertado. "Eles sabiam o nome de nossos filhos e nossos endereços", contou depois o capitão. "Ameaçavam matar nossa família se reagíssemos." Pouco tempo depois, o navio Tenyu, de bandeira panamenha, foi tomado de assalto no lugar mais perigoso para navegar no planeta, o Estreito de Málaca, na Indonésia. Os tripulantes foram atirados ao mar. Detalhe: antes, foram amarrados com corda. O navio desapareceu, levando 3.000 toneladas de alumínio. Três meses depois, as autoridades portuárias de Zhangjiagang, na China, estranharam um nome pintado de novo no casco enferrujado do Sanei 1. Era o Tenyu, tripulado por indonésios famintos que não sabiam nem quem eram seus patrões.
Essas parecem histórias do século XVIII, mas aconteceram nos últimos três anos. Os ratos-d'água que mataram o velejador neozelandês Peter Blake no Amapá, há duas semanas, são a ralé de uma praga dos mares. Na Amazônia, com seus 1.000 rios navegáveis, eles são como os assaltantes de semáforo das grandes cidades. Roubam os botijões de gás, as correntinhas e os relógios e geralmente não matam suas vítimas. Não fosse a morte de Blake, seriam um dado desprezível nas estatísticas do International Maritime Bureau (IMB), órgão da Câmara Internacional do Comércio, que estima em 200 bilhões de dólares por ano as perdas provocadas pela pirataria. Fenômeno típico do Hemisfério Sul, os assaltos no mar e nos portos deixaram 72 mortos e 99 feridos nas 469 ocorrências verificadas no ano passado. Os casos aumentaram 57% em um ano. Indonésia, Bangladesh, Índia e Equador lideram o ranking dos lugares perigosos. O Brasil, apesar de ter poucos casos e registrar agora a primeira morte desde 1992, também é considerado inseguro porque os portos são vulneráveis e mal vigiados. Como num assalto relâmpago em que o cidadão acha que não vale a pena dar queixa do roubo de um relógio de pulso, capitães também colaboram para manter a estatística aquém dos fatos. Um navio parado pode ter um custo operacional de até 10.000 dólares por dia. "Geralmente é mais negócio seguir viagem que perder tempo esperando uma investigação", explica um oficial da capitania dos portos do Rio de Janeiro.
A pirataria pesada reapareceu nos anos 80 porque o fim da Guerra Fria levou a uma enorme redução no patrulhamento marítimo. Iatistas e navios de carga são os maiores alvos. Barcos de cruzeiro, embora carreguem muito dinheiro, levam gente demais, são praticamente impossíveis de dominar. Os piratas, segundo o consultor de segurança no mar Yp Loke, de Cingapura, dividem-se em categorias, conforme a região do globo. Os do litoral da Índia e da Indonésia, por exemplo, campeões de ataques, agem à noite contra navios em movimento. Com duas lanchas capazes de fugir a mais de 110 quilômetros por hora, passam um cabo de aço diante do barco e se deixam arrastar até encostar para fazer a abordagem. Armados com fuzis russos AK-47 e até com lança-mísseis, não são violentos quando não encontram resistência. Têm por objetivo dinheiro, cargas e equipamentos. Na América do Sul e no oeste da África, roubam-se muitos objetos de embarcações atracadas nos portos. Como no caso de Blake e seu Seamaster, não é raro os bandidos roubarem também um bote para a fuga. No Sudeste Asiático, perto das Filipinas, concentram-se grupos que agem em alto-mar, seqüestram a tripulação e conseguem descarregar em qualquer porto, sob o nariz das autoridades. Os piratas mais violentos estão no Extremo Oriente, nos mares da China e do Japão. Matam os tripulantes e levam o navio, para o qual obtêm documentos falsos. Depois, vendem o barco ou o utilizam para transporte de cargas clandestinas.
Entre velejadores experimentados, não há quem não tenha sido vítima de piratas. Os integrantes da família Schürmann, composta de brasileiros que deram a volta ao mundo num veleiro alguns anos atrás, foram atacados no Equador, nas Filipinas e na Indonésia. Perderam um motor de popa na primeira vez, espantaram os assaltantes na segunda e foram alvo de tiros, sem ser abordados, na terceira. "Os bandidos são mais perigosos que os desafios do mar", resume o capitão Vilfredo Schürmann.
Em viagem científica no Rio Amazonas, Peter Blake, o maior velejador do mundo, é morto por piratas
por Ivan Padilla
"Novamente eu levanto a questão: ‘O que estou fazendo aqui?’" A pergunta do neozelandês Peter Blake, de 53 anos, considerado o melhor velejador de todos os tempos, foi enviada por computador da cabine de seu barco, em algum ponto do Rio Amazonas, na terça-feira 4. Aquela viria a ser sua última mensagem. Na noite seguinte, enquanto jantava com os demais oito tripulantes do veleiro Seamaster, ancorado perto de Macapá, Blake foi surpreendido por oito homens armados — piratas de rio ou ratos d’água, como são chamados na região. Reagiu ao assalto disparando seu rifle e acabou morto com dois tiros nas costas.
Blake era um herói em seu país. Tão celebrado na Nova Zelândia quanto Ayrton Senna no Brasil. Conhecido no meio náutico como o "Pelé dos oceanos", é dele o recorde da volta ao mundo mais rápida num veleiro — pouco mais de 74 dias. Sua fama correu mares. Blake foi condecorado pela rainha da Inglaterra com o título de Cavaleiro do Império Britânico e era um dos três embaixadores das Nações Unidas para o meio ambiente. Há duas semanas, em Manaus, ele recebeu em seu barco a visita da primeira-ministra neozelandesa, Helen Clark. Adepta de esportes de ação como alpinismo e esqui na neve, a ministra antecipou em dois dias a audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso para encontrar seu ilustre conterrâneo. A morte de Blake foi destaque na imprensa internacional, o que em nada contribui para a imagem do Brasil lá fora.
A tragédia expõe um problema pouco conhecido dos brasileiros: os crimes cometidos pelos piratas dos rios da Amazônia. Atuando em bando, eles usam pequenos barcos a motor, para se aproximar à noite de outras embarcações. Roubam cargas, motores, rádios. As companhias de transporte fluvial conhecem as ações dos chamados ratos d’agua. Depois de ser vítimas de vários assaltos, passaram a contratar seguranças para as principais balsas cargueiras. Homens armados e poderosos holofotes fazem a vigília das águas. Os barcos menores, que não contam com esse aparato, são agora o alvo preferencial dos piratas.
A fuga dos criminosos é facilitada pela profusão de pequenos braços de rios e de ilhotas. Como os assaltos geralmente ocorrem perto de vilas de pescadores, as capitanias dos portos recebem poucas notificações. "Casos isolados vêm ocorrendo, mas não esperávamos uma tragédia como essa. Vamos reforçar a vigilância", diz o secretário de Segurança Pública do Amapá, Sérgio Andréa. O velejador e sua tripulação eram aguardados por representantes da capitania e policiais militares no Porto de Santana, ao lado de Macapá. Decidiram antes atracar no balneário de Fazendinha, a 8 quilômetros de distância. Foram então apanhados de surpresa pelos oito homens, que usavam capacetes de motoqueiro e meias para esconder o rosto. Além de Blake, dois integrantes de sua equipe foram atingidos. Um por um golpe no rosto e outro com um tiro que passou de raspão pelas costas. Os piratas roubaram um bote, um motor de popa, quatro relógios e duas câmeras fotográficas profissionais. Na sexta-feira, a Polícia Federal prendeu sete deles.
Peter Blake estava numa fase de luta obstinada pela preservação da biodiversidade. Há dois meses, largou sua tripulação na capital amazonense e pegou um avião até o Rio de Janeiro para participar de um encontro com os ministros do meio ambiente da América Latina e do Caribe. Sua expedição começou em outubro do ano passado e tinha o propósito de estudar a fauna e a flora de diferentes paraísos ecológicos do mundo. O resultado das pesquisas seria transformado numa série de documentários. O veleiro, que levava oito cientistas, partiu da Nova Zelândia, passou pelo continente antártico e contornou a costa brasileira até o Recife. A partir de setembro deste ano, a aventura continuou pelo Rio Amazonas. A intenção era cruzar a América do Sul pelos rios Negro e Orinoco, na Venezuela, e seguir pelas águas do Oceano Pacífico.
Na mesma mensagem enviada pela internet um dia antes de ser assassinado, Blake explicava o que fazia na Amazônia: "Quero que as pessoas voltem a cuidar da natureza".
publicado na Revista Época - 13/12/2010
Quatro homens confessam ataque ao barco de Peter Blake
Quatro homens confessaram na sexta-feira a participação no ataque ao barco onde estava o iatista neozelandês Peter Blake no Rio Amazonas, perto de Macapá, que foi morto na noite de quarta-feira com dois tiros nas costas.
A Polícia Federal em Macapá prendeu sete suspeitos pela morte do iatista mundialmente famoso depois de uma caçada lançada por "ordens expressas" do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na tarde de sexta-feira, três suspeitos foram libertados. Os quatro que permanecem detidos, com idades entre 21 e 27 anos, disseram que invadiram o veleiro de Blake na noite de quarta-feira para roubar a tripulação, mas que não tinham intenção de matar.
"Todos confessaram o ataque ao barco, mas eles não dizem quem foi o responsável (pela morte de Blake). Todos dizem que atiraram", disse o porta-voz da Polícia Federal em Macapá, José Araujo.
Continuam detidos Ricardo Colares Tavares Cardoso, José Jurandir Tavares, Isael Pantoja da Costa e Renê Ferreira Macedo. Três deles têm condenações anteriores por assalto, roubo e tráfico de drogas.
A polícia está procurando mais um suspeito que continua foragido.
MORTE INSTANTÂNEA
O neozelandês Blake, de 53 anos, era um dos mais bem-sucedidos velejadores na história do iatismo. Ele estava a bordo de seu barco Seamaster com a tripulação em uma expedição no rio Amazonas quando foi atacado e baleado, informou um comunicado de sua empresa, a Blakexpeditions.
"Sir Peter aparentemente morreu de forma instantânea apesar das tentativas de ressuscitação por parte de membros de sua equipe", diz o documento.
Uma declaração dos organizadores da expedição informou: "O grupo de sete ou oito invasores encapuzados e armados entrou no Seamaster por volta das 10h15 da noite. Sir Peter foi baleado e morto e dois outros membros da tripulação ficaram feridos, um com um tiro nas costas, outro com um golpe no rosto".
A polícia disse que Blake disparou um tiro de rifle antes de ser atingido duas vezes. Seu corpo foi liberado para a embaixatriz da Nova Zelândia, Denise Almao, para ser entregue à família, disseram autoridades.
O Seamaster participava de uma expedição ambiental de dois meses pelo rio Amazonas.
PERIGO NO AMAPÁ
O governador do Amapá, João Alberto Capiberibe, disse em comunicado na sexta-feira que o Estado está empenhado em ajudar. "É lamentável que o velejador Blake tenha encontrado a morte no Amapá, um Estado que respeita a vida e se preocupa com a preservação do meio ambiente".
A morte do velejador provocou reações ao redor do mundo.
"Ele era um cara diferente, como muitos grandes homens são", disse Grant Dalton, amigo e compatriota de Blake, à televisão Sky.
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, que esteve no Brasil no mês passado e visitou Blake, comparou a vida do velejador com a de Edmund Hillary, neozelandês que foi o primeiro homem a escalar o Monte Everest.
Especialistas dizem que a violência no rio Amazonas pode espantar turistas.
"No momento em que esperávamos um aumento do turismo estrangeiro ao Brasil, acontecer algo assim é muito negativo", disse Roberto Macedo, diretor de vendas da Varig.
O velejador Amyr Klink, que encontrou Blake há algumas semanas, disse que o assassinato revela a necessidade de mais segurança na região.
"Infelizmente o Brasil está entrando no mapa dos países perigosos para velejar", disse ele. "O mapa inclui alguns lugares como Venezuela, partes do Panamá, o Mar da China e agora o Brasil se tornará parte deste mapa".
publicado Reuters, via UOL Notícias - 07/12/2001
Quem foi Peter Blake | ||||||||||||||||||||||||
Além de ser considerado um dos melhores velejadores do mundo, Peter Blake, também era conhecido como ecologista. Nascido no dia 1º de outubro de 1948, em Auckland, Nova Zelândia, Peter Blake era casado e tinha dois filhos. Com um currículo recheado de títulos (veja abaixo) e condecorado sir pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, pelos serviços prestados ao iatismo, recebeu ainda o título de cavaleiro-chefe da Ordem de Excelência do Império Britânico. Peter Blake havia sido nomeado sucessor do oceanógrafo francês Jacques Cousteau, morto em 1997, pela fundação que leva o nome do explorador francês e seria capitão do Calypso 2, navio que daria continuidade no trabalho de Cousteau. Em 2001, participava de uma expedição científica na Amazônia a bordo de seu veleiro, o Seamaster. Nesta época, Blake havia se afastado das competições para se dedicar à defesa da natureza através de pesquisas sobre os ecossistemas. A Amazônia era a quarta etapa da “Blakexpeditions”, projeto apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas). Saindo de Auckland, na Nova Zelândia, (agosto de 2000), seguiu pelo Oceano Pacífico até a Terra do Fogo (dezembro de 2000), partindo para a Península Antártica (janeiro/março de 2001), depois seguiu pela costa brasileira até o Recife (junho/agosto de 2001) e finalmente chegou ao Rio Amazonas (setembro/dezembro de 2001) de onde seguiria para o Caribe. A expedição teria uma duração de cinco anos. Veja a seguir algumas frases do último boletim da expedição, (04/12/2001): “Esta noite há faixas de fumaça, fumaça espessa, jorrando de alguns igarapés e saindo da floresta, formando muros que atravessam o rio de lado a lado. O cheiro da floresta ardendo em chamas enche o ar – e também nossas cabines.” “Antes de chegar até nós, a chuva que caiu deixa o ar repleto dos cheiros da terra úmida e da vegetação morna.” “Queremos levar as pessoas a cuidar do meio ambiente outra vez, do jeito que ele precisa ser cuidado.” “A Moldura da floresta amazônica está sempre presente, contrastando com as chagas de terra vermelha em terreno mais alto e com o barro amarelo à beira do rio.” “Para poder vencer, é preciso acreditar que você consegue. É preciso ter paixão. É preciso desejar realmente o resultado – mesmo que isso exija anos de trabalho. A parte mais difícil de qualquer grande projeto é começar. Nós já começamos, estamos com meio caminho andando, temos paixão pelo que fazemos.” Para saber mais: www.blakexpeditions.com Sobre Peter Blake: - Bateu o recorde de volta ao mundo em um veleiro (74 dias, 22 horas, 17 minutos e 22 segundos); - Foi bicampeão da America’s Cup, a principal competição de vela no mundo (em 1995 e 2000); - Venceu a Whitebread Round the World Race em (1989); - Foi considerado o navegador do ano (1994); - Iatista do ano da Nova Zelândia (em 1982, 1989 e 1990); - Personalidade esportiva neozelandês (em 1990); - Condecorado sir pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra; - Cavaleiro-chefe da Ordem de Excelência do Império Britânico. Peter Blake é assassinado no Amapá O navegador Peter Blake foi morto hoje (cinco de dezembro de 2001), durante um assalto a seu barco, o Seamaster, em um distrito de Macapá. Segundo a Polícia Federal os ladrões teriam chegado ao Seamaster em um barco de madeira. “A base do veleiro é baixa, permitindo o acesso fácil desse tipo de criminoso, conhecido na Amazônia como ratos d ‘água”, relatou um agente da polícia. O policial ainda afirmou que esse tipo de crime é comum na região, mas não costuma ter resultado tão trágico.O veleiro de Blake havia atracado no balneário da Fazendinha (cerca de 15 km de Macapá), no rio Amazonas, por volta de 21 horas. Após duas horas, segundo a Polícia Federal, três homens armados e encapuzados invadiram o veleiro. Segundo o advogado Márcio Jucá, que representava a Embaixada da Nova Zelândia, Peter Blake teria reagido ao assalto e foi atingido com um tiro no peito e morreu na hora. Os ladrões ainda feriram mais dois tripulantes, um com coronhadas na cabeça e outro com um tiro nas costas. “Eles [a tripulação] estavam em maior número e acharam que poderiam dominar os piratas”, disse o advogado da Embaixada da Nova Zelândia. “Pelo que eles me disseram, foi isso que provocou a fatalidade.” Segundo o diário “The New York Times”, Peter Blake havia recebido em março de 2000, cartas anônimas com ameaças de morte. “Nós sempre recebemos cartas estranhas, mas isso tem ido longe demais”, disse Blake. “Então tomamos todas as precauções a que fomos aconselhados.” Governos estadual e federal se mobilizaram para a elucidação rápida do crime devido a forte repercussão que o caso teve em todo o mundo.Quatro acusados do crime foram presos pela Polícia Civil do Amapá,José Irandir Colares Cardoso, 25; Ricardo Colares Tavares, 23, autor dos disparos, segundo a polícia; Izael Pantoja, 27 e Reny Ferreira Macedo, 21. Em depoimento a policiais civis e federais os acusados admitiram a culpa pelo crime. No entanto a família de Tavares disse que a confissão foi obtida através de tortura, o que foi negado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. Macedo e Pantoja já tinham passagem na polícia por roubo e tráfico de drogas. Os acusados foram presos através de uma denúncia anônima e foram reconhecidos pela tripulação do Seamaster. Segundo José Irandir Colares Cardoso, eles não sabiam de quem era o barco assaltado. A polícia apreendeu com os acusados R$ 1.500, um estojo de CDs, um fuzil, uma máquina fotográfica e um relógio, que teriam sido roubados da tripulação. Como foi o assalto: - Aproximadamente às 22 horas e 30 minutos, três homens armados invadiram o veleiro Seamaster e anunciaram o assalto enquanto outros três homens aguardavam em um pequeno barco. - Depois que os assaltantes recolheram dinheiro e objetos pessoais, a tripulação do veleiro reagiu e uma troca de tiros se iniciou dentro da embarcação. - O navegador Peter Blake, que possuía um fuzil teria iniciado o tiroteio quando foi atingido duas vezes nas costas e acabou morrendo no local. Os assaltantes fugiram após o tiroteio. Fernando Henrique Cardoso exige esclarecimento rápido para assassinato de Blake O presidente Fernando Henrique Cardoso exigiu que providências em relação a identificação e prisão dos responsáveis pelo assassinato do velejador Peter Blake, sejam tomadas o quanto antes. As investigações estão sendo feitas pela Polícia Federal. O presidente enviou uma mensagem à primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, manifestando sua “profunda tristeza” pela morte do velejador. “Sei do trabalho importante que ele desenvolvia em favor da preservação do meio ambiente, tema de tão grande interesse para todos os povos e que o havia trazido ao Brasil. Sei também que era, merecidamente, muito respeitado e querido na Nova Zelândia”, disse FHC na mensagem enviada. A primeira-ministra esteve em Brasília no dia 20 de novembro de 2001 de pois de ter passado dois dias no veleiro de Blake, que estava na Amazônia. Em nota oficial do Itamaraty afirma-se que “sir Peter Blake era um dos desportistas mais conhecidos em sua área e vinha realizando expedições de natureza ambiental, a primeira das quais à Antártida, de onde seu veleiro, em setembro, seguiu diretamente rumo à Amazônia”. Velejadores brasileiros lamentam morte de Blake O então secretário nacional de Esportes, Lars Grael, um dos esportistas mais premiados da história no Brasil, disse se sentir consternado com a morte de Peter Blake, de um modo tão violento. “É uma pena que isso tenha ocorrido em solo nacional, é a perda de um grande campeão dos mares”, disse Grael. “O Peter Blake foi o maior velejador de todos os tempos no seu país, a Nova Zelândia. Lá, a vela é o esporte nacional e ele é como o Pelé para o Brasil, é um herói nacional”, completou. Lars Grael ainda destacou que a pirataria é um fenômeno muito antigo e possui registros em todo mundo. “Pela simples intenção de furtar objetos de valor, eles furtaram a vida de um dos grandes nomes mundiais do esporte”, comentou. O iatista ainda salientou a grande importância que teria a expedição pela floresta amazônica e o quanto ela significaria para Blake e para todos nós. Outro iatista famoso, Robert Scheidt, disse ter ficado chocado com a notícia do assassinato de Blake. “É uma tristeza enorme que um fato absurdo como esse ocorra justamente no Brasil. O Peter era um verdadeiro mito em seu país e uma das figuras mais respeitadas da vela e é uma pena que uma tragédia dessas prejudique a imagem do país no exterior”, disse. Robert Scheidt espera que os culpados pela morte do velejador sejam presos e paguem pelo crime. “A comunidade internacional da vela certamente está revoltada com o acontecimento. Essa violência é assustadora.” O navegador brasileiro Amyr Klink disse que assassinato de Peter Blake transformou o Brasil em uma área de risco de navegação. “Infelizmente o Brasil está entrando no mapa dos países de risco de navegação, que inclui lugares como a Venezuela, parte do Panamá, mar da China e, hoje, o Brasil”, disse. O navegador salientou que existem muitas falhas no regime brasileiro. “Não existem procedimentos para os barcos entrarem e não temos instalações seguras para eles ficarem parados. A única solução são as marinas organizadas.” Amyr Klink e Peter Blake pretendiam se encontrar no Ártico, em 2002, ou na China, em 2003. O velejador Torben Grael disse que o noticiário neozelandês preferiu destacar os feitos de Peter Blake e atribui o assassinato a “ratos d’água”, piratas que existem em todas as partes do mundo. Imprensa internacional atribui crime a piratas A morte do velejador Peter Blake teve grande destaque e repercussão na imprensa internacional. “sir Peter Blake killed in Amazon pirate attack” (sir Peter Blake assassinado em ataque pirata na Amazônia) destacou o jornal “The New Zealand Herald”. O “The New York Times” trouxe a manchete “America’s Cup Champion Murdered in the Amazon” (Campeão da America’s Cup assassinado na Amazônia). No jornal francês “Le Monde” a reportagem trazia a manchete “Le navigateur Peter Blake assassiné em Amazonie” (Navegador Peter Blake assassinado na Amazônia). Já o diário espanhol “El País” destacou as conquistas esportivas do velejador, considerado por muitos como um dos melhores do mundo. Todos os veículos de comunicação destacam o assassinato como causa, o ataque de piratas: The New York Times: (Estados Unidos) “Região amazônica é mal policiada” O assassinato do velejador Peter Blake no rio Amazon, no Amapá, mostra que o policiamento na região amazônica é fraco. Apesar de a Amazônia ser vasta, remota e parcialmente policiada, muitas embarcações comerciais e de turismo preferem não manter nenhum tipo de arma. Essa prática representa um grande contraste com a que é adotada no Caribe, onde os ataques a barcos de todos os tipos são muito mais comuns. The New Zealand Herald: (Nova Zelândia) “Floresta camufla ação de criminosos” A floresta serve de camuflagem para ladrões e traficantes de armas e drogas. Quem está familiarizado com os empobrecidos Estados amazônicos diz que a violência é rotina na região. Paulo Adario, coordenador do Greenpeace para a Amazônia, diz que o crime na região está “ligado à miséria”. “As pessoas tentam sobreviver roubando relógios e maletas e não há controle.” El País: (Espanha) “Vida vale menos do que um relógio” O assassinato do Pelé dos veleiros, o homem que já havia vencido tudo e atualmente aumentava a lenda em torno de si, foi resultado de um roubo banal. Blake planejava permanecer na região amazônica até meados de janeiro de 2002, mas deixou sua vida em uma das regiões mais pobres do Brasil, onde a vida vale menos que um relógio. | ||||||||||||||||||||||||
Na última sexta-feira (14 de dezembro de 2001), no enterro de seu pai, o velejador Peter Blake, sua filha Sarah-Jane Blake, 18, recitou o poema “Última Canção de Bilbo”, de J.R.R. Tolkien, autor do livro “O Senhor dos Anéis”. Guiado pela Estrela Solitária, além do maior porto, Eu encontrei os céus justos e livres, e praias no Mar Iluminado pelas Estrelas. Barco, meu barco! Eu busco o Oeste, e os campos e as montanhas sempre abençoadas. Adeus a Terra-Média, finalmente. Eu vejo a Estrela sobre meu mastro! | ||||||||||||||||||||||||
Fonte: Folha de São Paulo (www.folha.com.br) Reportagens feitas por Mauro Albano / Maurício Simionato O Estado de São Paulo (www.estado.com.br) Agência Reuters (www.reuters.com) Secretaria Estadual de Segurança Pública Polícia Civil do Amapá Tripulação do Seamaster Embaixada da Nova Zelândia no Brasil Polícia Federal Fotos: Divulgação / Blake Expedition (www.blakexpeditions.com) Organização: Redação Pick-upau | fonte: link | ||||||||||||||||||||||||
PETER BLAKE O SENHOR DOS MARES |
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