Paulo Apurinã entrou no Aeroporto Eduardo Gomes de cocar. foto de Márcio Melo |
De acordo com o também líder indígena Jair Miranha, que acompanhava Paulo, agente ambiental federal do Ibama Sebastião Souza disse que o indígena não poderia embarcar levando seu cocar, alegando que ele era feito de penas de animais silvestres e não tinham o “selo” do Ibama.
“Isso é um desrespeito aos nossos valores culturais. Nos sentimos humilhados na nossa própria terra, passar por uma situação dessa na frente de todas aquelas pessoas, como se fôssemos bandidos. Mas somos indígenas, e esse é nosso jeito de se vestir. O cocar tem um valor cultural para os indígenas”, disse Miranha.
Segundo ele, Apurinã estava levando o cocar no carrinho de bagagens e chegou a justificar o uso do adereço ao fiscal, apresentando seu Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani), mas o fiscal não permitiu seu embarque mesmo assim e um segurança solicitou apoio da PF.
Miranha criticou a postura dos policiais federais, que foram truculentos ao algemar Apurinã e colocar o indígena dentro do veículo. Do aeroporto, ele foi levado para a sede da PF, no bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste, onde deve prestar depoimento e ser liberado ainda na tarde de hoje.
Com a confusão, Apurinã acabou perdendo o voo para Belo Horizonte, onde participaria da Conferência das Cidades, representando povos indígenas do Amazonas, no evento que começa amanhã.
Apuriña preso e algemado pela polícia federal. foto de Márcio Melo |
De acordo com informações prestadas pelo agente ambiental federal do Ibama, Sebastião Souza, na sede da PF, hoje à tarde, ele chegou a barrar a entrada de Paulo Apurinã no salão de embarque, uma vez que as penas usadas no cocar dele são de araras azuis.
“Foi quando ele se alterou, dizendo que nenhuma lei do branco estava acima da condição dele de índio, e começou a discussão”, relatou. Foi nesse momento que um segurança do aeroporto acionou a PF, segundo o agente.
Sebastião ainda contou ter solicitado a comprovação de que Apurinã era mesmo indígena e, após a apresentação do Rani, vendo que a discussão não cessaria, o agente do Ibama decidiu liberar a passagem do líder indígena, mesmo com o cocar.
Mas antes que os ânimos se acalmassem, os policiais federais chegaram ao local, o que teria feito com que Apurinã se exaltasse ainda mais e ofendesse os federais, segundo o agente da PF e auditor de tráfego internacional do aeroporto, Júlio César Queiroz. “Quando abordado, ele afrontou a polícia”, relatou.
Segundo informou Queiroz na sede da PF, Apurinã chegou a empurrar um dos policiais e recebeu voz de prisão, mas resistiu e passou a insultar os policiais, sendo detido e levado para a sede da PF.
Queiroz afirmou que foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e Apurinã deve responder, em liberdade, pelos crimes de desobediência e desacato à autoridade. Até as 17h, ele permanecia na PF, onde presta depoimento, e depois deve ser liberado.
O agente do Ibama, o policial federal envolvido na ocorrência, o segurança que acionou a PF e Jair Miranhã também continuam na sede da PF.
[ACTUALIZAÇÃO]
Paulo Apurinã no Aeroporto Eduardo Gomes. foto de Alexandre Fonseca |
O indígena Paulo Ribeiro da Silva, 37, o Paulo Apurinã, promete entrar na próxima segunda-feira (28) com uma ação no Ministério Público Federal (MPF/AM), denunciando a Polícia Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pelas práticas de racismo, abuso de autoridade, constrangimento e danos morais, em virtude da prisão sofrida na última quarta-feira (23), no aeroporto internacional Eduardo Gomes, localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus, ao tentar embarcar para Belo Horizonte (BH) com o seu cocar de araras azuis.
“Vou exigir reparação pela exposição de imagem a que fui submetido, bem como os gastos com a viagem que não realizei”, declara.
O indígena reconhece que em meio à confusão elevou o tom de voz, mas nega ter desacatado os policiais federais, o que teria motivado a sua prisão.
Apurinã faz críticas tanto ao Ibama, quanto à Polícia Federal de não darem o treinamento adequado aos seus servidores, no que diz respeito ao conhecimento de legislações específicas, como a lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) e os artigos 231 e 232, da Constituição Federal.
No próximo dia 4 de dezembro, Paulo Apurinã, irá passar novamente pelo aeroporto, em virtude de uma viagem à Brasília, e afirma que irá levar o cocar que causou o mal entendido.
publicado no jornal A Crítica em 25.03.2012
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