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O potencial das espécies medicinais da Amazônia: o caso do sangue de dragão

Posted: 27 de fev. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas:

por Aureny Maria Pereira Lunz *
 

Na Floresta Amazônica existe uma grande biodiversidade, na qual se encontram muitas plantas com propriedades medicinais, que são usadas por comunidades nativas no tratamento de várias doenças. Sangue de dragão, também conhecida como sangue de grado, sangue de drago e sangre de dragon é o nome dado a várias espécies arbóreas do gênero Croton, da mesma família da seringueira e mandioca (Euphorbiaceae), que produzem uma resina de cor avermelhada, semelhante a sangue, o que explica a origem de seu nome popular.
O látex, extraído do caule dessas árvores adultas, tem fins medicinais, sendo comumente utilizado por populações indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia peruana e brasileira, como coadjuvante na cicatrização de feridas e anti-inflamatório, para diarréias e úlcera estomacal, no tratamento de infecções urogenitais, entre outros.
Pela sua importância farmacêutica, atualmente esse látex é um produto de grande valor no mercado internacional. Uma substância, entre outras, denominada taspina, com propriedades anti-inflamatória e cicatrizante, foi isolada dessa resina. Entre as espécies produtoras desse tipo de resina a mais conhecida e utilizada comercialmente é o Croton lechleri Muell. Arg.
Essa espécie é uma árvore de porte médio a grande e pode alcançar até 20 metros de altura. Há informações de sua distribuição na região norte do Amazonas e na Amazônia peruana, no Equador e na Colômbia. Porém, observações não sistemáticas apontam a sua presença e uso na região de Rondônia e do Acre. Ocorre naturalmente às margens dos rios e igarapés, no entanto não se desenvolve bem em áreas sujeitas a inundações prolongadas. É uma espécie de crescimento rápido, podendo ser também encontrada em áreas antropizadas em processo de regeneração natural.
Na retirada da resina, para fins familiares, efetuam-se pequenos cortes na casca das árvores de onde escorre o látex, similar ao da seringueira. Para fins comerciais é necessário derrubar a árvore, uma vez que o látex extraído por meio de pequenos cortes na casca não proporciona a retirada de grandes quantidades de resina. Os vasos laticíferos, responsáveis pela produção de látex são afetados e não se regeneram. Também não ocorre cicatrização da casca e o local cortado torna-se foco para entrada de micro-organismos, levando frequentemente ao apodrecimento da região afetada. Sua exploração comercial tem ocorrido em maior escala em florestas da Amazônia peruana, com o corte e derrubada da árvore para retirada do látex.
É importante realizar pesquisas para conhecer a estrutura dos vasos produtores de resina dessa espécie, a fim de desenvolver técnicas de manejo para colheitas periódicas de látex de uma mesma árvore, sem a necessidade de derrubá-la. Isso contribuiria para a conservação da espécie e o seu manejo sustentável poderia ser uma fonte de renda para comunidades tradicionais da Amazônia.
Por ser uma planta de crescimento rápido, tem grande potencial para recuperação de áreas degradadas e uso em sistemas agroflorestais, como planta sombreadora. Contudo, o conhecimento agronômico disponível atualmente sobre o sangue de dragão é escasso. Na Amazônia peruana, estudos com essa espécie têm sido mais efetivos; porém ainda são reduzidos no Brasil. A Universidade Federal do Acre desenvolveu pesquisas sobre manejo e extração da resina. Estudos realizados no Peru indicam que a colheita do látex em plantas cultivadas pode ser iniciada a partir do sétimo ou oitavo ano, quando as plantas atingem o diâmetro à altura do peito (DAP) de 30 centímetros, para poder garantir uma boa produção de látex.
São muitos os aspectos que ainda faltam ser pesquisados para o desenho de técnicas agronômicas visando ao seu cultivo racional. Dessa forma, estudos que envolvam ecologia, biologia reprodutiva, propagação, melhoramento genético, manejo e silvicultura de sangue de dragão tornam-se importantes para o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao seu cultivo.

* engenheira-agrónoma, doutorada em Fitotecnia e pesquisadora da Embrapa Acre

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