por Aureny Maria Pereira Lunz *
O látex, extraído do caule dessas árvores adultas, tem fins medicinais, sendo comumente utilizado por populações indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia peruana e brasileira, como coadjuvante na cicatrização de feridas e anti-inflamatório, para diarréias e úlcera estomacal, no tratamento de infecções urogenitais, entre outros.
Pela sua importância farmacêutica, atualmente esse látex é um produto de grande valor no mercado internacional. Uma substância, entre outras, denominada taspina, com propriedades anti-inflamatória e cicatrizante, foi isolada dessa resina. Entre as espécies produtoras desse tipo de resina a mais conhecida e utilizada comercialmente é o Croton lechleri Muell. Arg.
Essa espécie é uma árvore de porte médio a grande e pode alcançar até 20 metros de altura. Há informações de sua distribuição na região norte do Amazonas e na Amazônia peruana, no Equador e na Colômbia. Porém, observações não sistemáticas apontam a sua presença e uso na região de Rondônia e do Acre. Ocorre naturalmente às margens dos rios e igarapés, no entanto não se desenvolve bem em áreas sujeitas a inundações prolongadas. É uma espécie de crescimento rápido, podendo ser também encontrada em áreas antropizadas em processo de regeneração natural.
Na retirada da resina, para fins familiares, efetuam-se pequenos cortes na casca das árvores de onde escorre o látex, similar ao da seringueira. Para fins comerciais é necessário derrubar a árvore, uma vez que o látex extraído por meio de pequenos cortes na casca não proporciona a retirada de grandes quantidades de resina. Os vasos laticíferos, responsáveis pela produção de látex são afetados e não se regeneram. Também não ocorre cicatrização da casca e o local cortado torna-se foco para entrada de micro-organismos, levando frequentemente ao apodrecimento da região afetada. Sua exploração comercial tem ocorrido em maior escala em florestas da Amazônia peruana, com o corte e derrubada da árvore para retirada do látex.
É importante realizar pesquisas para conhecer a estrutura dos vasos produtores de resina dessa espécie, a fim de desenvolver técnicas de manejo para colheitas periódicas de látex de uma mesma árvore, sem a necessidade de derrubá-la. Isso contribuiria para a conservação da espécie e o seu manejo sustentável poderia ser uma fonte de renda para comunidades tradicionais da Amazônia.
Por ser uma planta de crescimento rápido, tem grande potencial para recuperação de áreas degradadas e uso em sistemas agroflorestais, como planta sombreadora. Contudo, o conhecimento agronômico disponível atualmente sobre o sangue de dragão é escasso. Na Amazônia peruana, estudos com essa espécie têm sido mais efetivos; porém ainda são reduzidos no Brasil. A Universidade Federal do Acre desenvolveu pesquisas sobre manejo e extração da resina. Estudos realizados no Peru indicam que a colheita do látex em plantas cultivadas pode ser iniciada a partir do sétimo ou oitavo ano, quando as plantas atingem o diâmetro à altura do peito (DAP) de 30 centímetros, para poder garantir uma boa produção de látex.
São muitos os aspectos que ainda faltam ser pesquisados para o desenho de técnicas agronômicas visando ao seu cultivo racional. Dessa forma, estudos que envolvam ecologia, biologia reprodutiva, propagação, melhoramento genético, manejo e silvicultura de sangue de dragão tornam-se importantes para o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao seu cultivo.
* engenheira-agrónoma, doutorada em Fitotecnia e pesquisadora da Embrapa Acre
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