«Nós não temos uma situação parecida com a da Grécia», assegura Passos Coelho. O importante é evitar os «efeitos de contágio nefastos», adverte Luís Montenegro. «Portugal não é a Grécia», sentencia Paulo Portas, sacudindo a peçonha. «Ninguém faz comparações entre Portugal e a Grécia», diz Miguel Relvas, em meio tom de intimação.
E enquanto as preces são cerzidas umas às outras, para que em uníssono formem uma oração mais poderosa, alguém tenta sondar mais de perto as divindades, para que, caso o exorcismo falhe (não vá o diabo tecê-las), se garanta alguma ajuda lá do alto. A ladaínha, seja como for, não deve parar: «Portugal não é a Grécia, Portugal não é a Grécia, Portugal não é a Grécia».
É no meio deste pânico, em que se crê poder esconjurar o naufrágio renegando o passageiro mais exposto, que alguém com a decência e a lucidez que se impõem lembra o facto de, apesar das diferenças, todos se encontrarem no mesmo barco. De passagem por Lisboa, a ministra irlandesa dos Assuntos Europeus, Lucinda Creighton, sublinha que «seria errado tentarmos demarcar-nos da Grécia ou de outro país que esteja a atravessar dificuldades», invocando assim um dever de solidariedade que decorre, desde logo, da circunstância de os três países estarem nas melhores condições para demonstrar uma «grande compreensão em relação às dificuldades que enfrentam».
E quanto à possibilidade de saída da Grécia da Zona Euro, Creighton é lapidar: «não podemos tolerar essa eventualidade. (...) Temos de ser solidários com a Grécia e mantê-la no euro. Não há alternativa.» À dignidade e sensatez de uma ministra «cautelosamente confiante» contrapõe-se pois o fanatismo medroso dos que se orgulham, irresponsavelmente, de desbravar os mares que ficam «para além da troika».
por Nuno Serra
O New York Times que não é propriamente um caso de visão clara, podendo mesmo ser considerado míope, parece ver de longe o que os nossos míopes não vêm de perto:
“Portugal, ao contrário da Grécia, é uma nação devedora que fez tudo o que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional lhe pediram em troca de um resgate financeiro. E, no entanto, mesmo pela medida mais ampla da capacidade de um país pagar as suas dívidas, Portugal está a fundar-se cada vez mais no buraco”.
É claro que a Grécia não fez tão pouco como o NYT pensa e que em Portugal, se formos a ver, tanto há atrasos e fintas como saltos além tróica. Mas o que importa é o reconhecimento de que, independentemente do nível de cumprimento, o “resgate” nos está a empurrar, tanto gregos como portugueses, para o "buraco".
por José M. Castro Caldas
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