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Município que mais destrói Amazônia adere à causa da preservação

Posted: 31 de mar. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas:

por Carlos A. Moreno

São Félix do Xingu, um município da Amazônia brasileira tristemente reconhecido como o maior "degradador" da principal floresta tropical do mundo, se converteu à preservação e ao desenvolvimento sustentável. Com uma área de 84,2 mil quilômetros quadrados, quase o tamanho da Áustria, São Félix do Xingu, situado no estado do Pará, entrou em uma lista negra de desmatamento por queimar milhares de hectares de floresta para a formação de pastos para a pecuária. O segundo município do Brasil em tamanho, com 90 mil habitantes, tem um rebanho bovino de 2 milhões de cabeças de gado, o maior do Brasil, um fator que transformou o local no principal produtor de carne do país e, principalmente, em um "vilão" da Amazônia, papel que não mais representar.
(clique sobre o mapa para ampliar)
Entre 2001 e 2007, São Félix transformou em pasto 8,4 mil quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente à de Porto Rico. Mas, com a pressão do governo, as autoridades locais e os criadores de gado foram obrigados a reverterem esse panorama. "Reduzimos as taxas de desmatamento em 84%, temos um inventário de áreas ambientais de 80% de nossas propriedades e nos comprometemos com um modelo de desenvolvimento sustentável. Agora esperamos sair dessa lista negra", disse o secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz de Araújo.
Ao fazer um voo panorâmico pelas zonas próximas ao perímetro urbano, o município não parece estar em um território amazônico, já que as áreas de florestas não passam de pequenas moitas no meio dos extensos pastos. Da área total do município, 55% são de reservas indígenas e 19% de reservas ambientais sob ameaça. Para contornar essa ameaça, o governo adotou uma série de medidas preventivas em 2008, como a divulgação da lista negra com os 40 municípios mais "destrutivos" do país, então liderada por São Félix do Xingu. Posteriormente, as autoridades suspenderam o crédito aos produtores destes municípios e cancelaram todas as autorizações de desmatamento, ao mesmo tempo em que iniciaram uma vigilância mais rigorosa e com a ajuda de satélites.
Gado no Parque Nac. da Serra do Pardo (São Félix do Xingu)
As autoridades também proibiram os processadores de carne comprar gado de fazendas que não tivessem um registro ambiental rural, um documento onde cada produtor declara os limites de sua propriedade e a área que mantém preservado, dados que podem ser comprovados via satélite. Essas medidas obrigaram os produtores a adotar uma série de políticas ecologistas para evitar os prejuízos em seus negócios. "No começo foi muito difícil, mas as pessoas foram se conscientizando que estavam fazendo coisas erradas", afirmou Pedrinho do Atacadão, criador de mais 6 mil cabeças de gado e um dos primeiros a implantar a rotação de pastos para não destruir ainda mais a floresta.

Segundo Ruth Correia da Silva, coordenadora local do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), uma ONG dedicada a formação de líderes ecológicos, "há dois anos os grupos que falavam de ecologia eram mal vistos e até agredidos em São Félix. No entanto, nos dias de hoje, todos já sabem que é preciso se adaptar ao modelo".
O governo estabeleceu três condições básicas para retirar esse município da lista negra: reduzir o desmatamento anual para 40 quilômetros quadrados, fazer com que 80% de seus proprietários tenham registro ambiental e que se comprometa com o modelo de desenvolvimento sustentável. Entre os três itens citados, São Félix ainda precisa reduzir seu índice de desmatamento anual para sair da lista negra.
Entre 2007 e 2011, o desmatamento no município caiu de 876 para 145 quilômetros quadrados, uma marca suficiente para tirar o local do topo da lista de inimigos da Amazônia, mas ainda longe da ideal (40 quilômetros). Agora, a lista é liderada pelos municípios de Altamira e Novo Progresso, também no Pará.
O inventário de áreas ambientais acima dos 80% do território foi alcançado com a ajuda de The Nature Conservancy, organização que realiza um estudo para calcular o passivo ambiental do município. Isso porque, em agosto de 2011, 600 representantes das autoridades locais, dos produtores e da ONG assinaram o "Pacto municipal para o fim do desmatamento". "A sociedade está comprometida. Com segurança, o exemplo bem-sucedido de um município tão complexo e que possui o maior rebanho do país será inspirador para outros na mesma situação", resume Mireya Sandrini, diretora do Fundo Vale, entidade vinculada à empresa mineradora Vale, que financia projetos verdes em São Félix do Xingu.

publicado na Agência EFE em 28.03.2012

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