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Ainda a propósito dos sintomas perturbadores de um Portugal alterado

Posted: 30 de abr. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , , ,

A  propósito disto, sublinha a Joana Lopes:

Passou-se com a Myriam Zaluar, mesmo que ela diga que apenas lhe interessa contar «um caso verídico do ponto de vista de uma mulher qualquer». A mesma Myriam que, há alguns meses, escreveu esta Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro, que eu publiquei neste blogue. 
O «caso verídico» está detalhadamente contado AQUI. Deve ser lido na íntegra.

comenta o Sérgio Lavos:
Duas pessoas decidem juntar-se à porta de um lugar público frequentado a distribuir folhetos. As pessoas passam, umas aceitam, outras recusam, algumas não chegam a parar. Se os folhetos forem de publicidade a uma cadeia de supermercados ou a uma loja de uma marca de luxo, essas duas pessoas poderão distribuir até ao fim a sua publicidade. O mesmo acontecerá com os distribuidores de jornais gratuitos, no meio do trânsito ou na rua. Se essas duas pessoas forem distribuir esses folhetos publicitários em frente a um Centro de Emprego, poderão fazê-lo à vontade, ninguém as incomodará. Mas se essas duas pessoas estiverem a distribuir folhetos com informação ao desempregados que entram e saem do Centro, informação sobre os seus direitos, sobre a melhor forma de se organizarem, então correrão o risco de serem identificadas pela polícia (que todos nós pagamos) e serem levadas a tribunal pelo crime de "manifestação sem a devida autorização". (...)  Mas este caso, que se soma a tantos outros acontecidos nos últimos meses, é mais um sinal de que alguma coisa insidiosamente preocupante começa a emergir neste país em plena suspensão da democracia.

vai pensando o Ricardo Noronha:
(...) Enquanto me esforço para manter ao largo todo e qualquer transeunte que tenha a nefasta ideia de se aproximar (os tempos são, recorde-se, de “tolerância zero”) e vou redigindo os necessários avisos prévios de todos os encontros planeados para a semana que começa (a dúvida inquieta-me: receberemos um comprovativo para provar aos zelosos agentes da autoridade que aquela troca de beijos no jardim seguiu os canais apropriados ou importa fazê-lo apenas no tribunal?), consulto um dos muitos textos subversivos que possuo na minha biblioteca.
Tem o inquietante título de “Constituição da República Portuguesa” e o que nele se dispõe fala-nos de um tempo e lugar remotos: 1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização. 2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação. (Artº 45).
Chegará porventura o dia em que, como profetizou Auden, os jovens poetas explodirão como bombas e percorreremos de noite os subúrbios em corridas de bicicletas. Os encontros deixarão talvez de constituir um acto subversivo. E os beijos serão, como devem ser, despreocupados e sem aviso prévio. Mas amanhã não será esse dia.

E repete-se o Conexão: em 2012, na véspera do Dia Mundial do Trabalhador  – assinalado em Portugal desde 1890, sob repressão até 1974, e em liberdade desde então – volta a ser necessário bulhar pelos direitos dos que são obrigados a trabalhar e impedidos de o celebrar.
Para que conste e se some à lista de sintomas do 'Portugal alterado'.

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