A propósito disto, sublinha a Joana Lopes:
Passou-se com a Myriam Zaluar, mesmo que ela diga que apenas lhe interessa contar «um caso verídico do ponto de vista de uma mulher qualquer». A mesma Myriam que, há alguns meses, escreveu esta Carta aberta ao Senhor Primeiro Ministro, que eu publiquei neste blogue.O «caso verídico» está detalhadamente contado AQUI. Deve ser lido na íntegra.
comenta o Sérgio Lavos:
Duas pessoas decidem juntar-se à porta de um lugar público frequentado a distribuir folhetos. As pessoas passam, umas aceitam, outras recusam, algumas não chegam a parar. Se os folhetos forem de publicidade a uma cadeia de supermercados ou a uma loja de uma marca de luxo, essas duas pessoas poderão distribuir até ao fim a sua publicidade. O mesmo acontecerá com os distribuidores de jornais gratuitos, no meio do trânsito ou na rua. Se essas duas pessoas forem distribuir esses folhetos publicitários em frente a um Centro de Emprego, poderão fazê-lo à vontade, ninguém as incomodará. Mas se essas duas pessoas estiverem a distribuir folhetos com informação ao desempregados que entram e saem do Centro, informação sobre os seus direitos, sobre a melhor forma de se organizarem, então correrão o risco de serem identificadas pela polícia (que todos nós pagamos) e serem levadas a tribunal pelo crime de "manifestação sem a devida autorização". (...) Mas este caso, que se soma a tantos outros acontecidos nos últimos meses, é mais um sinal de que alguma coisa insidiosamente preocupante começa a emergir neste país em plena suspensão da democracia.
vai pensando o Ricardo Noronha:
(...) Enquanto me esforço para manter ao largo todo e qualquer transeunte que tenha a nefasta ideia de se aproximar (os tempos são, recorde-se, de “tolerância zero”) e vou redigindo os necessários avisos prévios de todos os encontros planeados para a semana que começa (a dúvida inquieta-me: receberemos um comprovativo para provar aos zelosos agentes da autoridade que aquela troca de beijos no jardim seguiu os canais apropriados ou importa fazê-lo apenas no tribunal?), consulto um dos muitos textos subversivos que possuo na minha biblioteca.
Tem o inquietante título de “Constituição da República Portuguesa” e o que nele se dispõe fala-nos de um tempo e lugar remotos: 1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização. 2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação. (Artº 45).
Chegará porventura o dia em que, como profetizou Auden, os jovens poetas explodirão como bombas e percorreremos de noite os subúrbios em corridas de bicicletas. Os encontros deixarão talvez de constituir um acto subversivo. E os beijos serão, como devem ser, despreocupados e sem aviso prévio. Mas amanhã não será esse dia.
E repete-se o Conexão: em 2012, na véspera do Dia Mundial do Trabalhador – assinalado em Portugal desde 1890, sob repressão até 1974, e em liberdade desde então – volta a ser necessário bulhar pelos direitos dos que são obrigados a trabalhar e impedidos de o celebrar.
Para que conste e se some à lista de sintomas do 'Portugal alterado'.
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