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"Cidade grega tenta driblar crise com moeda alternativa ao euro"

Posted: 17 de abr. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , ,

por Mark Lowen

Há alguns meses, uma moeda alternativa foi introduzida na cidade portuária de Volos, na Grécia.
A iniciativa resultou na criação de uma rede com mais de 800 integrantes, em uma comunidade que não estava mais conseguindo manter seu poder aquisitivo com bens cobrados em euros, devido à grave crise econômica que atinge o país.
O local onde o sistema funciona melhor é o mercado central da cidade. Em uma das barraquinhas de artesanato, a moradora Hara Soldatou compra um conjunto de velas decoradas. A transação é feita sem nenhuma moeda ou nota de euro. "Eles me custaram apenas 24 TEM, que eu juntei ao dar aulas de ioga", diz ela.
O TEM é a moeda alternativa de Volos. Com ela, é possível comprar praticamente qualquer coisa no mercado, como joias, comida, roupas e equipamentos elétricos. Na prática, a moeda é baseada num sistema de trocas, onde pessoas que têm bens ou serviços a oferecer podem acumular crédito para usar em determinadas lojas e mercados. A paridade do TEM é de quase um para um com o euro. Mas alguns comerciantes aceitam trocar seus bens diretamente por outros bens ou serviços, como no antigo sistema de escambo, anterior ao uso de moedas. "Eu aceito receber aulas de idiomas ou de computação", diz Stavros Ntentos, que vende roupa íntima em uma barraca no mercado. "É uma ótima ideia, porque precisamos fazer as pessoas entenderem que todos nós podemos comprar ou vender alguma coisa. Nós não precisamos de euros."

Moedas paralelas

O sistema é organizado pela internet. Cada integrante tem uma conta TEM, onde são depositados os créditos de transações virtuais.
O fundador do sistema, Yiannis Grigoriou, passa os dias em frente ao computador no mercado, supervisionando todas as transações. "O sistema é vantajoso porque as pessoas encontram esperança aqui. Elas descobrem coisas para dar e receber." Grigoriou é modesto ao ser perguntado se o TEM pode se tornar a moeda dominante em Volos. "Não sei, nós teremos que ver isso aí."
Nos últimos meses, a Grécia tem discutido cada vez mais a possibilidade de abandonar o euro, devido à grave crise econômica. Muitos em Volos veem o TEM como uma alternativa à moeda europeia. Um feirante chegou a dizer que "o euro é uma coisa do passado". Mas para a maioria, o sistema é mais uma espécie de complemento à moeda europeia.
O prefeito de Volos, Panos Skotiniotis, afirma que o TEM não ameaça de forma alguma a hegemonia do euro. Ele defende o projeto e diz que as duas moedas podem existir simultaneamente. "Nós apoiamos a iniciativa porque é uma boa forma de sairmos de uma profunda crise econômica e social", diz o prefeito. "É uma iniciativa que complementa o euro, mas não o substitui. A Grécia está na zona do euro, e nós queremos continuar lá."

Um novo começo


A rede monetária alternativa está se espalhando pela comunidade, com cada vez mais comerciantes participando do projeto.
Em um cooperativa de produtores de flores, que conta apenas com funcionários com deficiências físicas, os trabalhadores usam TEM para vender sua produção em troca de serviços que eles não conseguiriam adquirir de outras formas. "Nós podemos comprar pão ou carne ao trocar nossos produtos, e nossas meninas conseguem ir ao cabeleireiro", diz Peri Mantzafleri, que administra a cooperativa. Alguns dos clientes, interessados em comprar flores, podem adquirir os produtos sem dinheiro, apenas prestando pequenos serviços, como cortar grama e arrumar cercas. "Eu cresci em um vilarejo, e é assim que as coisas funcionavam antigamente, antes de começarmos a nos envolver com dinheiro. Isso é uma chance para começarmos novamente", diz o administrador da cooperativa.
As crianças também se beneficiam do sistema. Os pais podem matricular seus filhos em oficinas que misturam jogos, música e desenho. Esse tipo de atividade tinha um preço proibitivo antigamente, mas agora pode ser pago graças ao TEM. O coordenador das oficinas, Charalampos Bardas, disse que a moeda local é de grande valor para a comunidade. "É uma grande solução contra a crise. A vida continua, nós temos que continuar lutando", diz Bardas. "Nós temos que ver tudo de forma diferente agora. Não é o fim do mundo se estamos em crise. Nós queremos nos dar bem e seguir adiante."

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