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Da série: 'Importa-se de repetir?!' | Passos Coelho sobre as ausências de peso na sessão oficial de comemoração do 25 de Abril

Posted: 24 de abr. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , , , ,


O comentário é tão estonteante que o melhor é ir por partes. Por partes, então.

1. O conteúdo. Este Passos Coelho acha que os capitães dos cravos e a Associação 25 de Abril, mais Mário Soares e Manuel Alegre querem «protagonismo» e só por isso vêm tomar posição numa «data especial». A acusação vem com 38 anos de atraso. Todos tomaram posição antes até desse 25 de Abril de 1974 e, desde então, não perderam nem o gosto, nem o hábito de o fazer. É seguir os links e, de quebra, aproveitar para ler este artigo de Adelino Gomes, jornalista que acompanhou a Revolução enquanto ela acontecia.

2. A forma. O primeiro- ministro pertence a essa casta de gente deslumbrada, cheia de soberba e ambições várias, que sente, pensa e, por conseguinte, age como se o Mundo tivesse começado no dia em que nasceu. Como se para trás não existisse chão. Tão presunçosa quanto enfezada, vive com medo da História e dos outros além de si. Receosa de não se inscrever nas páginas da memória com equivalente ou superior espessura, segue fazendo tábua rasa de tudo (como se água benta fosse!), na desesperada esperança de com isso se poupar ao que mais a aterroriza: ser sujeita a termo de comparação e acabar resultando mais pequena ou 'poucachinha', não obstante as grandes aspirações que guarda no peito.
Passos Coelho já escolheu o capítulo da História de Portugal em que deseja ver perpetuado o seu nome. Quer constar como o 'salvador da Pátria', o homem que veio do nada para resgatar Portugal da crise sem fundo que ameaçava levá-lo ao cepo. Foi por isso que a resposta lhe saiu ressabiada. Na candura do óbvio, a pergunta do jornalista obrigou-o a confrontar-se com a existência de outros 'salvadores da Pátria', esses sim, já consagrados pelos portugueses, ao contrário de si, que ainda anda a ver se consegue a distinção. O que irritou tão profundamente Passos Coelho no embate com o microfone não foi a ausência dos Capitães de Abril, de Manuel Alegre e Mário Soares. Não foi sequer o eventual incómodo que isso possa causar. Foi a alusão ao afecto português que fica pressuposto na importância dada ao caso.

3. O resultado. As palavras falam por si e dizem tudo. Passos Coelho não tem 'ontem'. Seria um problema seu, não fosse o facto de ser primeiro-ministro a decidir dos rumos do Portugal, donde, para lástima, a pessoa-em-projecto que é e pretende ser se torna também um problema nosso. Porquê?  Porque, ao limite, é aí que se determina o conjunto de escolhas e opções que se andam a fazer. Como por estes dias alguém muito bem lembrou, a qualidade do passado pode ser questionada porque ele já está escrito; em contra-partida, a qualidade do futuro há-de ser aquela que se escrever agora. E esta, a avaliar por palavras como as do Passos Coelho percebe-se bem qual é.

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