por Daniel Oliveira
Se tivéssemos de escolher um símbolo de uma evolução positiva de Portugal desde o nascimento da democracia provavelmente a escolha mais acertada seria a drástica redução da mortalidade infantil.
Portugal tem uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas do Mundo. Estamos no topo, com uma média inferior aos países da OCDE e sendo o 6ª melhor da União Europeia. E éramos, antes do 25 de Abril, o pior país da Europa. Em 1960 morriam 77 crianças com menos de um ano em cada mil nascidas. Números que podemos hoje observar na Guiné Equatorial, na Libéria ou no Sudão. Em 2011 morriam apenas quatro, números muito próximos da Holanda, da Bélgica ou da Dinamarca. Em apenas duas décadas (anos 80 e 90), a mortalidade infantil desceu 79%, a mais rápida evolução que se conhece até hoje no Mundo. Teremos poucos records de que nos orgulhar. Este é, seguramente, um dos mais relevantes. Em pouco tempo passámos do terceiro Mundo para o melhor do primeiro. Num indicador que diz imenso sobre as prioridades de um País.
Para estes números contribuiu, de forma determinante, a criação de uma rede de cuidados de saúde pública materno-infantil, que funciona de forma exemplar. E para a sua construção trabalharam vários governos, do PS e do PSD, naquilo que parecia ser um dos poucos consensos políticos nacionais com vantagens para os portugueses. E dessa rede, um dos símbolos de qualidade e excelência, é a Maternidade Alfredo da Costa. Não é um hotel de luxo. Quem procura conforto não escolherá aquela maternidade. Mas quem se quer sentir seguro, na cidade de Lisboa, não hesita. Foi naquela maternidade que a minha filha nasceu, como nasceram muitos lisboetas.
Os burocratas do Ministério da Saúde falam da possibilidade de encerrar a Maternidade Alfredo da Costa. Como de costume, apresentam números de uma capacidade excedentária nesta área. Mas muitos não ignoram o valor do edifício da MAC, bem no coração da cidade. O desmantelamento das funções sociais do Estado, que os contabilistas deste governo estão a levar a cabo, não poupa vítimas. E nem o que de melhor o Estado fez neste País, motivo de orgulho de profissionais e cidadãos, será poupado. O saque é geral. Nem o essencial do essencial ficará de fora.
Ontem realizou-se uma manifestação popular contra o fecho da instituição. O "Abraço à Maternidade Alfredo da Costa", foi tão grande que em vez de um, conseguiu dois cordões humanos em torno da MAC (Vídeos aqui e aqui). Dia 19 de Abril haverá novo protesto.
Entretanto:
O PCP e Verdes levam o fecho da MAC a discussão no Parlamento, o BE denuncia que os funcionários foram proibidos de falar, mas a Administração Regional de Saúde nega. O ministro da saúde alega que o "anúncio oficial de morte" da MAC "vem desde 2005" e continua a defender que “um hospital monovalente não tem razão de existir”, garantindo que as portas são para fechar ainda nesta legislatura. A administração da MAC rebate-lhe os argumentos. De visita a Moçambique, o primeiro-ministro comenta com os jornalistas em Maputo que a MAC "não pode ficar parada no tempo, tem de evoluir”. Declarações infelizes, repudiadas da sociedade civil à comunidade científica. A Junta de Freguesia de S. Sebastião da Pedreira faz saber que também se opõe ao encerramento e o presidente da Câmara de Lisboa arregaça as mangas e envolve-se no assunto: aqui (vídeo). Carlos Monjardino, neto do fundador da MAC lamenta a decisão. O presidente da República, Cavaco Silva, é o único que – para não variar! – não se pronuncia.
# Sobre o caso: AQUI. Actualização: AQUI.
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