A informação apanhou todos de surpresa e terá chegado ontem à Maternidade Alfredo da Costa (MAC) através da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale de Tejo (ARSLVT). Hoje, foi o Bloco de Esquerda a denunciá-la em plena sessão da manhã no Parlamento. A MAC vai encerrar. Os médicos e enfermeiros da unidade, que aguardavam uma decisão sobre o destino da maternidade, reuniram-se de emergência. As consultas pararam e os rumores do fecho, somados ao atraso no atendimento normal, juntaram a voz indignada dos utentes às da MAC.
O Governo admite o cenário de encerramento, mas diz que tudo irá decorrer “com todo o cuidado e atenção”. A promessa não acalma. Aliás, na TVI24 está online uma declaração de intenções que não dizendo nada, diz muito: «Eu não sei se a MAC vai fechar ou não. Eu não tenho essa presunção, nem tenho essa informação. O que eu sei é que não posso condicionar decisões que condicionem a qualidade dos serviços de saúde em Portugal porque as pessoas estão apegadas a tijolos e a telhas» [Cf. aqui ao minuto 01:36].
O «apego» das pessoas é a muito mais do que «a tijolos e telhas». O apego das pessoas é à maior e mais bem apetrechada maternidade do país, reconhecida internacionalmente pela excelência dos seus profissionais de saúde e dos serviços que presta, das especialidades que forma e integra, da elevadíssima qualidade científica das investigações que há muito traz em curso, bem como das equipas que as desenvolvem e colocam ao nível das mais avançadas do mundo. O apego das pessoas é à longa história da MAC, ao património de experiência e saber acumulado por décadas e que, a par dos milhões de vidas que já trouxe ao mundo, tem permitido salvar tantas e tantas mães e crianças, tornando-a uma referência incontornável nos progressos da saúde materno-infantil em Portugal.
Mas ainda que fosse também a «tijolos e telhas»? Seria estranho? Seria estranho o «apego» à maternidade que tornou a freguesia de S. Sebastião da Pedreira a mais conhecida do país, tal a quantidade de portugueses que lá nasceram, um afecto estranho?
Vale ver a excelente reportagem do Vítor Bandarra, realizada há poucos dias para a TVI24. Nela se resgata um pouco dos 80 anos de história da Maternidade Alfredo da Costa que o Governo hoje surpreendeu com certidão de óbito já passada.
Um detalhe curioso: na reportagem, o secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde garantia, justamente, que a decisão de encerramento ainda não estava tomada.
# Vídeo na íntegra para VER AQUI.
Em baixo, clicando no link em baixo, seguem alguns vídeos, artigos e actualizações sobre o caso, bem como um texto com a história da MAC.
Mais vídeos:
- Líder do BE anuncia no Parlamento que a decisão está a ser comunicada «agora» na unidade
- PCP junta-se às críticas do BE
- Reacções à porta da MAC: médicos reunidos de emergência e consultas interrompidas para plenparadas
- MAC pode entrar em greve contra encerramento
- Entrevista: Ordem dos Enfermeiros da MAC não foi ouvida
- ARS diz que encerramento passa apenas por edifício
- Cobertura completa para ver aqui (a partir do minuto 21:30)
Denúncia do fecho da Maternidade em pleno Parlamento
Ao final da manhã de hoje, o encerramento da MAC foi criticado pelo Bloco de Esquerda na Assembleia da República durante uma intervenção de Francisco Louçã [VER VÍDEO], que falava no encerramento do debate do Orçamento Rectificativo. “O Governo tentou tornar este debate do Orçamento Retificativo numa discussão literária de um clube de cavalheiros (...), enquanto isso na [Avenida] Fontes Pereira de Melo está a ser comunicado pelo Governo que vai fechar o seu primeiro hospital, a Maternidade Alfredo da Costa. É um golpe nas costas do Serviço Nacional de Saúde, que diz tudo sobre o que o Governo está a fazer ao SNS”, afirmou.
Os bloquistas sublinham que a MAC é “a maior e mais diferenciada maternidade do país, aquela que realiza o maior número de partos e que reúne os recursos humanos e técnicos mais sofisticados no domínio da saúde da mulher e da neo-natologia”.
Ontem, o ministro da Saúde, após ser ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, disse aos jornalistas que o destino da MAC ainda não estava definido, admitindo que o conhecimento dos profissionais desta instituição era o mais importante, independentemente da sua localização geográfica.
Hoje, fontes médicas da MAC confirmaram à Lusa que a ARSLVT comunicou quarta-feira aos directores de serviço que a unidade vai encerrar. O destino da maternidade deveria ser conhecido em breve, já que o assunto é abordado na carta hospitalar, elaborada pela Entidade Reguladora da Saúde, que será conhecida no próximo dia 15.
Após a denúncia do encerramento, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo disse à Lusa que o fecho da MAC é “apenas um cenário” e que, a concretizar-se, irá acontecer “com todo o cuidado e atenção”.
Luís Cunha Ribeiro confirmou que na quarta-feira ocorreu uma reunião entre a ARS e dirigentes da MAC, a qual serviu para “pedir ajuda aos directores” para em conjunto se definir a melhor solução para a maternidade.
Sem adiantar pormenores, Luís Cunha Ribeiro limitou-se a dizer que o futuro da MAC passa “pela reorganização das equipas e dos centros de excelência” desta maternidade.
Para as 12h45 foi marcada entretanto uma conferência de imprensa sobre a reorganização da Maternidade Alfredo da Costa, na qual estará presente Luís Cunha Ribeiro e Teresa Sustelo, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Central.
publicado no Público
Alfredo da Costa fecha depois de investimentos recentes na renovação de serviços
A Maternidade Alfredo da Costa (MAC) teve investimentos recentes, “com renovação total dos serviços de neonatologia, serviço de urgência, ginecologia, blocos operatórios e laboratório entre outros, para competir em qualidade com os melhores centros internacionais”, diz o comunicado dos funcionários da MAC após reunião durante esta tarde.
Recorde-se que todos os funcionários da MAC estiveram reunidos em plenário, depois do anúncio de que esta instituição irá fechar.
De acordo com fontes médicas à Lusa, a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale de Tejo comunicou ontem aos directores de serviço da MAC que esta unidade vai encerrar. A notícia apanhou de surpresa os profissionais desta maternidade, que aguardavam a solução em análise pelo Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), a que pertence a MAC, referia a agência esta tarde.
Também ontem o ministro da Saúde, Paulo Macedo, após ser ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, disse aos jornalistas que o destino da MAC ainda não estava definido, admitindo que o conhecimento dos profissionais desta instituição era o mais importante, independentemente da sua localização geográfica, acrescentava a Lusa.
Agora, após o plenário, foi enviada uma carta às redacções, onde os funcionários da MAC defendem que, apesar do fecho previsto, as unidades não devem ser desmanteladas. A título de exemplo está a unidade de neonatologia, “que é a melhor do país”, disse ao Negócios um funcionário daquela instituição hospitalar. "Sabemos que isto vai fechar, mas não pode haver desmantelamento das unidades", reiterou.
“A MAC pela sua dimensão, pela centralização de recursos e pelo volume de utentes assistidos, é um exemplo de rentabilização de recursos humanos e tecnológicos dentro do SNS”, refere o documento a que o Negócios teve acesso.
Nesse mesmo documento, é referido que houve investimentos recentes na MAC, apesar de não serem avançados valores.
Os funcionários da Maternidade sublinham, nesta carta, que consideram “absolutamente necessário manter como um todo indivisível o funcionamento desta equipa”.
Segundo apurou o Negócios, desde que a notícia do encerramento da MAC foi conhecida, a Maternidade “tem estado um caos, com os telefones sempre a tocar”. “As pessoas estão preocupadas porque não sabem o que vai acontecer”, disse a mesma fonte da MAC ao nosso jornal.
publicado na Agência Lusa via Jornal de Negócios
Não há alternativa válida à Maternidade Alfredo da Costa
O antigo diretor da Maternidade Alfredo da Costa, Jorge Branco, disse, esta quinta-feira, que esta unidade de saúde "não tem uma alternativa válida" e, por isso, não deve encerrar.
O atual diretor de serviço e administrador da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) até março, Jorge Branco, confirmou ter-se realizado, na quarta-feira, uma reunião entre elementos da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo e diretores da instituição.
Esta reunião, adiantou, terá servido para dizer aos profissionais que, caso estejam interessados, poderão "apoiar o corpo clínico" do Hospital São Francisco Xavier.
"Não há qualquer previsão de fecho a curto prazo", disse Jorge Branco, confrontado com as notícias de que a tutela terá intenção de fechar brevemente a MAC.
O fecho da MAC "seria um prejuízo muito grande", disse Jorge Branco, para quem esta unidade de saúde "não tem uma alternativa válida.
A MAC está integrada no Centro Hospitalar de Lisboa Central.
publicado na Agência Lusa via Jornal de Notícias
Esta reunião, adiantou, terá servido para dizer aos profissionais que, caso estejam interessados, poderão "apoiar o corpo clínico" do Hospital São Francisco Xavier.
"Não há qualquer previsão de fecho a curto prazo", disse Jorge Branco, confrontado com as notícias de que a tutela terá intenção de fechar brevemente a MAC.
O fecho da MAC "seria um prejuízo muito grande", disse Jorge Branco, para quem esta unidade de saúde "não tem uma alternativa válida.
A MAC está integrada no Centro Hospitalar de Lisboa Central.
publicado na Agência Lusa via Jornal de Notícias
Cf. também:
- Extinção da Maternidade Alfredo da Costa e Curry Cabral publicada em Diário da República
- Maternidade Alfredo Costa: Médicos e enfermeiros reunidos após anúncio de fecho
- Profissionais da MAC dão mais tempo à tutela mas rejeitam separação das equipas
Mais informações: AQUI.
História da Maternidade
Parece que a obra especial de protecção e defesa da mulher grávida terá tido início no ano de 1775 após o terramoto que destruiu mais de metade da cidade de Lisboa.
Um dos edifícios destruídos, não só pelo terramoto mas também pelo incêndio subsequente, foi o hospital de Todos os Santos, tendo sido os seus enfermos transferidos para o edifício do Colégio de Santo Antão, principal casa dos Jesuítas, que lhes fora confiscada, com todos os outros bens, em execução do decreto Pombalino que do reino os expulsara.
Painel de azulejos representando o antigo Hospital Real de Todos os Santos
O edifício do Colégio de Santo Antão viria a ser convertido no Hospital Real de São José, em memória do monarca que lhe facultou tão amplas instalações. Das nove enfermarias de mulheres, existentes neste hospital, uma foi destinada a grávidas e puérperas. A referida enfermaria, que foi chamada de Santa Bárbara, tinha quarenta e duas camas e situava-se num extenso corredor interior, comprido e estreito, mal iluminado e deficientemente ventilado. Mesmo com péssimas condições aí se ministravam aulas de parto.
Anos mais tarde a enfermaria de Santa Bárbara era transferida para um espaço mais amplo e arejado, num andar superior do mesmo edifício, ficando com cinquenta e cinco camas. A melhoria de condições limitou-se à existência de luz e ar que entravam pelas janelas. Foi neste espaço que o professor Alfredo da Costa, com outros grandes mestres, distribuíram pelas assistidas e alunos o seu saber. Com o decorrer do tempo as deficiências iam-se agravando desde as inadequadas instalações à carência de muito material indispensável ao bom funcionamento da enfermaria de Santa Bárbara. | Antigo Laboratório - MAC |
Desesperado por não conseguir melhorar as condições indignas em que a grávidas e puérperas viviam na Maternidade, elaborou exaustivo relatório, onde na sua introdução começava por questionar "Maternidade ou antecâmara de um inferno feminino?" que dirigiu ao Conselho da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, mesmo sabendo-se sujeito à malquerença "de quem de direito".
Ao fim de anos de luta Alfredo da Costa parecia ter tido eco do seu enorme esforço na construção de uma Maternidade ao ver inscritas verbas para a sua construção no Orçamento de Estado; ter sido escolhido o local da sua construção; ter sido feito o cálculo de despesas assim como o anteprojecto da construção mas, apesar de tudo isto, infelizmente não se veio a concretizar a construção da Maternidade.
Antiga Sala - MAC | Teve conhecimento da autorização dada pelo Governo, pela lei de receita e despesas, para o exercício de 1904 – 1905, publicada no Diário do Governo nº 267, de 24 de Novembro de 1904, para realizar com a Caixa Geral de Depósitos um empréstimo de 300 contos de reis, amortizável em 30 anos, para obras de beneficiação de hospitais, especialmente a adaptação do extinto convento de Santa Marta a um hospital para tratamento de doenças venéreas e a apropriação do antigo edifício da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa a uma Maternidade. |
Em 2 de Abril de 1910 falecia o ilustre professor, sem ter visto realizado o sonho que acalentava desde 1898, ano em que assumiu a regência da cadeira de Obstetrícia da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, para o qual sempre com tanta dedicação e entusiasmo trabalhara. Em 15 de Maio de 1910, amigos e admiradores formam uma comissão de homenagem ao professor Alfredo da Costa, que outra não podia ser do que a efectivação do sonho de toda a sua vida. Após vários reveses, o sonho do professor Alfredo da Costa viria a ser realidade em 5 de Dezembro de 1932.
Maternidade Dr. Alfredo da Costa nos anos 30
Em 6 de Dezembro de 1932, foi admitida na Maternidade Dr. Alfredo da Costa a primeira grávida, chamava-se Glória Virgínia, tinha 18 anos, era natural de Tomar, coube-lhe o boletim nº1, viria a parir um rapaz com 3,500 Kg no dia 23 de Janeiro de 1933.
Entre 6 e 31 de Dezembro de 1932 foram efectuados 96 partos tendo correspondido a 97 nascimentos, o primeiro ocorreu às 23.30 h do dia 8 de Dezembro de 1932. Foi uma rapariga, que nasceu com 2,500 Kg, a quem foi dado o nome de Maria da Conceição. Era o primeiro filho de Flora Martinho, de 19 anos de idade. Mãe e filha tiveram alta no dia 22 de Dezembro.
in Blog dos Técnicos da MAC
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