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Os homens que constroiem canoas na Amazônia

Posted: 1 de abr. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas:


Com quantos paus se faz uma canoa? Quem sabe disso muito bem é seu Manuel Davi, que há 63 anos vive da fabricação de canoas, ofício que herdou do tio canoeiro. Nascido à beira do rio, no município de Janaucá, no Amazonas, Manuel já perdeu a conta de quantas canoas artesanais produziu.
Em 1973, o canoeiro mudou-se para Porto Velho, onde começou a trabalhar como carpinteiro civil na construção da BR-319. “Mas nunca deixei de lado as minhas canoas”, conta emocionado.
Seu Manuel diz que produz em média quatro canoas, mensalmente, com a madeira Tauari, que é "moderadamente mais macia" para o corte e apresenta bom acabamento.  “A melhor é a Itaúba, porém, como é mais cara utilizamos a Tauari que também é boa. Cada tábua sai a R$ 30”, explica. Para reduzir os custos, o canoeiro encomenda as madeiras de Jacy-Paraná. “Lá é muito mais barato”.
Seu Manuel produz canoas de vários tamanhos e para todos os gostos. Ele garante que o processo de fabricação não é difícil. “Faço os desenhos, quando a pessoa não traz, e começo a montar. Por exemplo, uma canoa de 4,60 metros precisa de cinco tábuas. Depois que corto no formato, prego e começo a calafetar (vedar) para impedir a penetração de água. É assim que se faz uma canoa”, vai dizendo.

Segundo o canoeiro, depois de pronta fica a critério do cliente colocar ou não o motor na embarcação. Em média, seu Manuel vende uma canoa de sete metros a R$ 800, e de 10 metros a R$ 1,2 mil. “Dá para tirar uma graninha boa, já que sou aposentado também”. O pedido de cliente mais inusitado que já recebeu foi de um jovem que solicitou uma gaveta para “colocar as cervejinhas”.


Ao contrário de seu Manuel, Francisco de Sousa, 58 anos, morador do bairro Triângulo, herdou o ofício do pai, desde os 15 anos. Francisco confessa que no início não gostava do trabalho, já que as canoas o faziam lembrar do tempo em que o pai ficava fora de casa. “Ele viajava vários dias pelo rio e era uma tristeza só, dentro de casa”, lembra cabisbaixo. "Mas não teve jeito": Francisco “abraçou” a profissão e hoje vive feliz com as embarcações.
Tal como seu Manuel, já perdeu a conta de quantas canoas fabricou ao longo dos anos. Na  sua fábrica encontram-se uma variedade delas, desde o batelão à canoa pequena. “As maiores que produzo são de oito metros. Passou de 10, temos que chamar o engenheiro e a Capitania dos Portos”, esclarece.
Francisco compra a madeira nas serrarias da Capital, que dão prioridade à utilização de tábuas de Cedro Mara e Tauari. Porém, para ele, o melhor tipo para aderir na água é a Itaúba. Já a tinta apropriada para pintar é à óleo. A média de preço de uma canoa de sete metros gira em torno de R$ 1,5 mil.
Na Amazônia, para os canoeiros, as canoas são como uma casa, e por isso ainda devem ser talhadas com cuidado e muito carinho.

publicado no Diário do Amazonas 

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