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Cobertura especial: Lula recebe cinco títulos de doutor honoris causa no Rio de Janeiro

Posted: 4 de mai. de 2012 | Publicada por por AMC | Etiquetas: , ,


Sem bengala, mas escorando-se ora na ex-ministra Nilcéia Freire, ora na presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, esta na manhã, no Teatro João Caetano, no centro do Rio, mais cinco títulos de Doutor Honoris Causa, desta vez das cinco universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), do Estado do Rio (UniRio), Rural do Rio (UFRRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Ao chamado da mesa, Lula subiu ao palco aclamado pela plateia, que gritava: "Lula, guerreiro, do povo brasileiro". Dilma emocionou-se e enxugou duas lágrimas discretamente. Além da presidente, o governador Sérgio Cabral (mergulhado no escândalo da construtora Delta) e o prefeito Eduardo Paes também assistiram à cerimónia, mas apenas como ilustres convidados e sem lugar a discurso.
Agora, Lula acumula um total de 12 títulos de Doutor Honoris Causa, honraria concedida àqueles que, independentemente de sua formação académica, tenham dado uma grande contribuição à sociedade nas áreas da educação, cultura ou humanidade. O ex-presidente foi presenteado com uma toga vermelha, cor destinada aos graduados em Ciências Humanas, e recebeu os diplomas das mãos dos reitores das cinco universidades.
"Vocês não podem imaginar o que significa para alguém como eu, que não teve as oportunidades escolares que todo jovem deveria ter, mas que sempre acreditou no potencial libertador do conhecimento, e que a vida inteira apoiou a luta pela educação, tornar-se Doutor Honoris Causa dessas magníficas universidades", agradeceu.

O segundo discurso de Lula

Em 22 minutos de discurso, a voz de Lula, que ainda se recupera do tratamento contra um tumor na laringe, falhou apenas uma vez. Nada que o obrigasse a interromper a leitura do texto ou a delegá-la no governador Sérgio Cabral - seu "reserva", nas palavras do próprio ex-presidente. Esta foi a segunda vez que Lula falou em público (Cf. AQUI), desde o silêncio dos últimos sete meses imposto pela doença.
O ex-presidente começou, justamente, pedindo desculpas por falar sentado e sem improviso, ao contrário do que sempre foi seu hábito, justificando ser mais fácil por ainda se encontrar em processo de recuperação. Depois passou a destacar a importância da educação para o País e a prioridade que lhe foi dada pelo seu governo. "A educação é o alicerce sobre o qual se constrói a igualdade social. Sempre insisti que o dinheiro público aplicado em educação é investimento e não gasto, pois ajuda a construir um futuro mais digno para as pessoas e para o País", afirmou. Em tom emocionado, lembrou que ele e o ex-vice-presidente José Alencar foram as primeiras pessoas a chegar à Presidência da República sem um curso superior. "Parecíamos que tínhamos [um diploma universitário], mas não tínhamos", atirou com humor, arrancando risos à plateia.
No seu discurso, Lula citou alguns programas implementados pelo governo federal para ampliar o acesso de jovens ao ensino superior, como o Programa Universidade para Todos (Prouni), que, segundo sublinhou, possibilitou a entrada de mais um milhão de jovens de baixa renda em instituições privadas, a criação de novas universidades federais e a redução da pobreza no País. Citando dados recém-divulgados pelo Censo 2010, do IBGE, o ex-presidente lembrou que, em dez anos, o percentual de brasileiros com ensino superior completo quase duplicou, passando de 4,4% para 7,9%. "Isso aqui é percentual, né? Em números exactos fica mais forte", não deixou de frisar. "Os alunos do Prouni têm se destacado em quase todas as áreas liderando exames do MEC [Ministério da Educação]. Bastou uma chance e a juventude refutou com firmeza o mito elitista de que a qualidade é incompatível com a ampliação de oportunidades”, acrescentou ainda.
Sentado ao lado da presidente Dilma Rousseff, Lula não deixou de dividir com ela o êxito das políticas e medidas citadas, recordando que, na qualidade de ministra chefe da Casa Civil do seu governo, Dilma foi responsável pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O ex-presidente dedicou os títulos que recebeu das universidades a todos os que contribuem “com sua inteligência e esforço” para melhorar a qualidade da educação no Brasil, “dando esperança a milhões de jovens e construindo um país mais justo e solidário”.
"Entendo essa honraria não como um reconhecimento pessoal, mas como uma homenagem ao povo brasileiro que, nos últimos nove anos, realizou uma verdadeira revolução económica e social", disse Lula a respeito das cinco distinções. A "revolução", como lhe chamou, atribuiu-a aos avanços do Brasil e ao que considerou como um novo projecto de desenvolvimento nacional. "Fomos capazes de tirar 28 milhões de pessoas da miséria e de levar cerca de 40 milhões para a classe média, no maior processo de mobilidade social que este país já conheceu", sublinhou.
Sem perder a ocasião, Lula aproveitou ainda para comemorar publicamente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que na semana passada declarou constitucionais as cotas raciais nas universidades. "Tenho certeza de que a política de cotas raciais, que o STF referendou por unanimidade, contribuirá para tornar mais justo o acesso ao ensino superior ”, fez questão de afirmar.

[NOTAS À MARGEM]

Elogios e cobranças dos reitores

Os reitores aproveitaram para rasgar elogios aos governos petistas, mas não deixaram de fazer alguns reparos à presidente Dilma e ao ministro da Educação, Aloísio Mercadante.
O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto de Souza Salles cobrou a consolidação do Reuni, instituído em 2007 pelo governo federal, e o aumento salarial para o magistério.
“O governo tem o ambicioso e admirável plano de alcançar a marca de 12 milhões de alunos em faculdades públicas, mas isso não pode acontecer enquanto professores de redes públicas recebem salários abaixo de 1.400 reais ou enquanto planos de carreira não são implementados. (...) Não podemos aceitar que nem o mínimo para professores da rede pública, previsto no Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação], de R$ 1.400, não esteja sendo acatado pelos governos dos estados e municípios. Além disso, é inaceitável que um professor federal titular [de nível superior] em final de carreira, com regime de dedicação exclusiva, ganhe em torno de R$ 11 mil, enquanto um advogado da União em começo de carreira recebe R$ 18 mil, ou um auditor fiscal recebe como salário inicial R$ 14 mil”, disse.
Salles acrescentou que para alcançar essas metas é fundamental que haja o repasse de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação até 2020.
Já o reitor da Unirio, Luiz Pedro San Gil, preferiu dirigir as críticas aos presidentes anteriores a Lula. "Diferente de governantes letrados que o antecederam, foi o que mais investiu na educação. Programas como o FIES e o Prouni deram mais acesso ao ensino superior no Brasil", reconheceu San Gil.

 Manifestação e reclamação de estudantes

Na porta do teatro, alunos do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro em Macaé, no norte do estado, em greve há um mês, protestavam contra a falta de professores, de laboratórios adequados e de Hospital Escola para práticas clínicas.
Aluna do 6º período de medicina da UFRJ de Macaé, Carla Guedes Braga, disse que os alunos se sentem abandonados pela reitoria. “Somos fruto do Reuni, que é a expansão da universidade para o interior, e o nosso curso não recebeu os investimentos necessários, nem a atenção da gestão da universidade. Estamos há três anos reivindicando uma série de coisas e chegou a um ponto que não podemos mais aguentar e tivemos que vir até aqui para reivindicar por melhorias”, disse.
A assessoria de imprensa do gabinete da reitoria informou que a instituição está em negociação com os estudantes. Segundo avançou, alguns professores da UFRJ na capital fluminense devem em breve reforçar o quadro de Macaé. Além disso, serão implementadas melhorias nos laboratórios e fechados convénios com clínicas especializadas para ampliar a prática médica para residentes.

Um pedido e uma ovação de peso

A apresentadora da cerimónia, a actriz Camila Pitanga, surpreendeu a presidente Dilma Rousseff, convidada de honra do doutoramento honoris causa, pedindo publicamente o veto ao novo texto do Código Florestal, aprovado na Câmara dos Deputados.
"Vou quebrar o protocolo para fazer um pedido: ... 'VETA, DILMA!'" - interveio inesperadamente Pitanga, antes de anunciar Lula da Silva. A presidente sorriu-lhe, mas não respondeu. [VER VÍDEO]

Fim de festa

Após a cerimónia, Dilma, o ex-presidente, o governador do Estado e o prefeito da cidade seguiram para o Palácio Laranjeiras, onde foi servido um almoço vedado à imprensa. 

[ACTUALIZAÇÃO: para ver na íntegra]

1ª parte:
2ª parte:

# Outras coberturas: aqui.

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