O primeiro-ministro recebeu, em São Bento, jornalistas do The New Yok Times que vieram entrevistá-lo. Disse que está preparado para reduzir o défice em 3 anos, que Portugal está à altura dos desafios, que a situação portuguesa é muito diferente da grega, que passámos por uma reforma estrutural «muito séria» e que, por isso, «ter um défice elevado é normal. Hoje, todos os países desenvolvidos têm défices muito altos». Disse também que «não precisamos de nada de Bruxelas».
No entanto, o artigo final descreve Portugal como uma economia «em luta» contra as dificuldades, um país «melancólico mesmo nos melhores tempos», lembra os alertas do comissário europeu, a propósito do défice de 9,3% em 2009 e sublinha que a dívida pública vai rondar 85% do PIB.
Apesar do esforço parece que a mensagem a passar, afinal, não passou.Ou não pegou.
# Para ler no NYT: Europe Watches as Portugal’s Economy Struggles
[ACTUALIZADA]
Os portugueses andam a suster a respiração, sem saber se a economia vai melhorar ou piorar. A análise é feita pelo “New York Times”, que destacou hoje na sua homepage a situação económica portuguesa, após uma entrevista ao primeiro-ministro José Sócrates.
O jornal explica que Portugal foi inesperadamente atirado para a ribalta, na semana passada, quando os mercados caíram a pique temendo que o país, e Espanha, caíssem na mesma categoria da Grécia - que regista uma enorme dívida, um défice preocupante e sofre de falta de credibilidade financeira -, pondo em causa a confiança na moeda única.
Esta semana - continua o jornal - o primeiro-ministro apressou-se a assegurar aos mercados que irá reduzir o défice para níveis abaixo dos três por cento, o tecto estabelecido pela união monetária europeia até 2013. “Farei o trabalho em três anos”, disse Sócrates numa entrevista ao jornal americano a partir da sua residência oficial. “É um trabalho difícil, claro, mas estou preparado para o fazer”.
Mas os mercados e alguns observadores não têm tanta certeza, escreve o “NY Times”. Para além da crise económica, Sócrates enfrenta ainda intensas pressões políticas para reduzir os gastos com o sector público. Para além disso, tendo perdido a maioria parlamentar, Sócrates tenta ainda lidar com uma oposição que o jornal americano classifica de “desfocada e indisciplinada”.
Na semana passada registou-se uma forte queda nas bolsas portuguesas, depois de o comissário europeu da Economia e Finanças, Joaquín Almunia, ter afirmado que os problemas estruturais da Grécia têm semelhanças com os de outros países, como Portugal e Espanha. Almunia fez referência aos três países como Estados onde houve uma “permanente perda de competitividade” desde que se juntaram à união económica e monetária europeia.
Ao jornal, José Sócrates desmistificou a ideia de que Portugal ficou atrás dos seus parceiros europeus no que toca a produtividade e mão-de-obra especializada: “Isso é um preconceito. Não tem nada a ver com a nossa economia”.
“Porém, depois de várias décadas a contar com mão-de-obra barata, Portugal perdeu a batalha para o Leste europeu e para a Ásia. Hoje em dia luta para competir com os seus vizinhos ricos da União Europeia, tendo conhecido pouco ou nenhum crescimento nos últimos dez anos”, escreve o jornal acerca de Portugal.
“Os países são como as empresas; é preciso estar sempre um passo à frente”, disse ao “NY Times” o comentador económico Camilo Lourenço. “Portugal não reconheceu que se estava a tornar obsoleto com a expansão da UE”, acrescentou. “Ninguém presta atenção até que haja um choque”. O mesmo analista considerou que o Governo não tem nenhuma capacidade política nem nenhum plano coerente para travar o défice. “Isso preocupa-me”, disse.
Sócrates atribui o aumento do défice a um recuo nas receitas provenientes dos impostos, sublinhando que isso está em linha com o que tem acontecido noutros países europeus. Ter défice é “muito normal”, disse Sócrates ao jornal. “Todos os países desenvolvidos têm problemas com os seus défices”.
A dívida externa de Portugal deverá aumentar para 85 por cento do Produto Interno Bruto este ano. Em 2009 situou-se nos 76,6 por cento, por causa do crescente desemprego e dos gastos governamentais em infra-estruturas.
Depois de em 2005 o défice de Portugal ter atingido os seis por cento, o Governo conseguiu reduzi-lo para metade (três por cento) em 2007. “Conseguimos fazer isso no passado, voltaremos a fazê-lo agora”, indicou ao jornal o ministro das Finanças Teixeira dos Santos, numa entrevista telefónica. “Somos as mesmas pessoas. Estamos empenhados em fazê-lo”. “Mas desta vez as mesmas pessoas não têm uma sólida maioria”, observa, porém, o “NY Times”.
Durante a conversa que manteve com a repórter do jornal americano, Sócrates esforçou-se por distinguir Portugal da Grécia. O primeiro-ministro frisou que Portugal levou a cabo reformas estruturais “muito sérias” nos últimos anos, incluindo a redução do sector público, o aumento da idade de reforma e as mudanças no sistema de segurança social. “E, ao contrário da Grécia e da Itália, instituiu sistemas sofisticados de e-banking através dos quais os cidadãos podem pagar impostos nos multibancos”, escreve o jornal.
Numa altura em que se fala num possível auxílio financeiro à Grécia, o primeiro-ministro ressalvou que não precisa da ajuda da União Europeia. “Não precisamos de nada de Bruxelas.”
via O Público
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