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O Convento dos Capuchos, na Serra de Sintra

Posted: 5 de mar. de 2010 | Publicada por AMC | Etiquetas:


1. O Alverne lusitano 2. Portão 'megalítico' do Convento dos Capuchos 3. A entrada do Convento 4. Vista do Terreiro das Cruzes


Conto um bocadinho do que sei:

O Convento de Santa Cruz dos Capuchos foi mandado construir em 1560 por D. Álvaro de Castro, que foi conselheiro de Estado de D. Sebastião e vedor da Fazenda, para dar seguimento à vontade do pai D. João de Castro, 4º vice-rei da Índia, de ali erguer um ermitério. Diz a lenda que o patriarca se terá perdido na Serra enquanto caçava um veado e que se deitou sob um penedo à espera que o nevoeiro levantasse.Assim adormecido, ter-lhe-á sido comunicada em sonho a importância de ali se construir um altar cristão.

D. João de Castro morreu antes de cumprir o desígnio, mas o filho chamou a empreitada a si.
Em pleno séc. XVI intensificara-se em certas correntes da Igreja um certo culto pela austeridade e pela introspecção, que sempre encontrou terreno fértil em Portugal. Estava nesta linha pietista a ordem de Franciscanos, seguidora dos ensinamentos do pregador de Assis, da Província da Arrábida, de onde saíram os frades que vieram habitar o Convento.
Hoje há estradas ao correr da Serra de Sintra – há até um parque de estacionamento esventrado ao arvoredo, que muita polémica causou e se crê ter sido um dos maiores atentados paisagísticos infligidos a um património natural reconhecido pela UNESCO – mas quem a conhece, emaranhada e densa, facilmente faz um exercício de imaginação e conclui que não podia haver lugar mais inóspito para albergar o altar exigido em sonho a D.João de Castro.
Supõe-se, na verdade, terem sido justamente essas características de isolamento que definiram a perfeição do lugar para a sua futura localização.

Em 1787, o aristocrata inglês (abundante e generosamente educado para a literatura e as artes) William Beckford em viagem pela Europa, aportou em Lisboa para ganhar fôlego, rumo às propriedades da família na Jamaica, destino alternativo que lhe restava, após a sua bissexualidade se ter tornado pública e o ter feito protagonista do maior escândalo sexual que animou a corte de George III e lhe forçou o exílio.
Mas isso são outros quinhentos.

Por ora, importa que logo o ilustre visitante fez furor fácil na capital e rapidamente se tornou popular entre a nobreza portuguesa. Conhecida a atracção que a Serra de Sintra sempre exerceu (e continua a exercer) sobre nobres e artistas, não espanta que a elite que acolheu o inglês rapidamente tivesse tratado de lhe mostrar o seu lugar de eleição e Beckford fosse iniciado na descoberta dos encantos Sintra.
Com o Romantismo no auge, o cenário embrulhado em esotéricas brumas e neblinas verdejantes, com todas as sugestões de exotismo e mistério que tinha para oferecer em redor, não tinham como não seduzir uma personagem como Beckford que ali resolveu passar a morar.

E se a excêntrica profusão barroca do romantismo exacerbado de Beckford é aqui convocada ao assunto, é só para continuar a dar nota da localização agreste escolhida para a fundação do Convento dos Capuchos.
Escreve ele no seu diário de viagens, Letters from Italy with Sketches of Spain and Portugal, publicado posteriormente em 1835:

…seguimos durante várias milhas um atalho estreito sobre uma colina selvagem e deserta que nos levou ao Convento dos Capuchos, que à primeira vista corresponde à imagem que se tem da morada de Robinson Crusoé.

in "William Beckford e Portugal. A viagem de uma paixão". Catálogo de Exposição. Palácio Nacional de Queluz, 1987, p. 159

Com a morte do cardeal D. Henrique e a crise de sucessão que fez Portugal perder a Independência para Espanha até 1640, D.Filipe I de Portugal chegou a visitar o Convento, em 1581. Terá então comentado:

De todos os meus reinos, há dois lugares que muito estimo, o Escorial por tão rico e o Convento de Santa Cruz por tão pobre.

O convento serrano de Sintra ficou famoso pelo extremo da sua pobreza, seja a da construção, seja a das próprias condições de vida. Os corpos de habitaçâo rasgam-se por entre as fragas com dimensões inferiores às de um homem em pé, de modo a induzir a genuflexão, acentuando as intenções de meditação. A portaria do convento, um simples telheiro com tecto e traves de madeira forradas de cortiça – tal como sucede também com a igrejinha, as celas e o refeitório – de imediato elucidam acerca da pobreza e do rigorismo ascético que orientaram esta construção rústica e primitiva.

A mata do Convento, com os seus velhos carvalhos e arbustos de grande porte, beneficiou seguramente do carinho e protecção dos religiosos.
Constitui talvez o mais representativo testemunho e a mais bem conservada relíquia da floresta primitiva da Serra de Sintra. Basicamente é constituído por uma formação arbórea submediterrânica dominada por carvalhos caducifólios, com elementos do maquis mediterrânico no sub-coberto e grande profusão de fetos, musgos e plantas epífitas e trepadeiras que tudo envolvem e recobrem num denso emaranhado vegetal.

Deixou de ser habitado em 1834, com a extinção das ordens religiosas que o regime liberal determinou.


No site da Parques de Sintra há um pdf  "Saiba + Capuchos", mas é uma desilusão para quem queira realmente "saber mais". O documento tem 22 páginas, mas sobre o Convento a leitura disponível não vai além das duas primeiras. As restantes são dedicadas às actividades de exploração do local pela Parques de Sintra, entidade a quem o Convento está atribuído. Nesse aspecto, em contra-partida, não faltam detalhes e pormenores, desde a indumentária recomendada aos participantes nas visitas, passando pelas modalidades de pagamento e descrição de passeios organizados em duas modalidades sui generis: 'A Floresta Relíquia' e 'Os Guardiões do Tau'. Explica-se o que acontece se estiver mau tempo, se o grupo se atrasar, se não comparecer à marcação do passeio, etc.


Morada:
Situado a 9 Km do centro histórico, na Estrada dos Capuchos.

# Blog S.O.S. Capuchos
# no site da Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A


O Convento dos Capuchos da Serra de Sintra, cujo nome original é Convento da Santa Cruz, foi fundado por D. Álvaro de Castro, filho do vice-rei da Índia D. João de Castro, no ano de 1560. A sua história encontra-se envolta em mistério, que remonta pelo menos ao momento em que D. João de Castro decidiu a sua construção. Diz a lenda que o nobre se terá perdido na Serra durante uma perseguição a um veado, e que debaixo de um penedo adormeceu cansado. Em sonhos ter-lhe-á sido comunicada a necessidade de ali se erigir um templo cristão.
D. João de Castro morreu antes da concretização do convento, mas o seu filho D. Álvaro de Castro honrou a vontade do pai e o Convento foi mesmo construído.
Nele habitaram sucessivas comunidades de frades franciscanos, dedicados ao trabalho interior. A primeira comunidade era composta por oito frades, sendo o mais conhecido de todos Frei Honório (nome que poderá ter adoptado após a sua entrada na comunidade), que de acordo com a lenda viveu até perto dos 100 anos apesar de ter passado as últimas três décadas da sua vida tendo como «casa» uma pequena gruta dentro da cerca do convento, cumprindo penitência.
A pobreza foi levada ao limite na sua construção. O convento possui uma área relativamente reduzida e várias das suas celas têm portas revestidas a cortiça com altura inferior à de um homem, de modo a induzir a genuflexão. Os elementos decorativos são também escassos, tendo sido mantidos ao mínimo. No refeitório existe uma grande laje de pedra a servir de mesa, oferta do cardeal-rei D.Henrique.
Após a sua vista ao convento, em 1581, D.Filipe I de Portugal terá comentado : "De todos os meus reinos, há dois lugares que muito estimo, o Escorial por tão rico e o Convento de Santa Cruz por tão pobre".
Com a extinção das Ordens Monásticas em 1834, a comunidade de religiosos franciscanos viu-se obrigada a deixar o convento. O espaço foi adquirido pelo Visconde de Monserrate e mais tarde passou para a posse do Estado Português. Desde essa altura assistiu-se a uma degradação de ordem material. O Convento encontra-se hoje em avançado estado de degradação. Está desde 2000 sob a responsabilidade da sociedade "Parques de Sintra, Monte da Lua, S.A.", que tem como um dos objectivos centrais da sua actividade a recuperação do espaço.

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