ilustração © rabiscos vieira
Crónica do Miguel Esteves Cardoso em O Público de hoje:
No PÚBLICO de anteontem, Luís Fernandes, da Universidade do Porto, ironizou sobre a transformação em pasta de papel, pelo grupo Leya, “de dezenas de milhares de livros de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura, publicados pela ASA”.
Sempre quis comprar um dos livros destruídos: a antologia de poesia e prosa que Eugénio de Andrade fez e a ASA editou, com o nome maravilhoso e verdadeiro deDaqui houve nome Portugal. Era um livro bonito, grande, muito bem impresso e encadernado, sob a chancela da Oiro do Dia. Li-o na biblioteca de universidades inglesas mas, para vergonha minha (como já o tinha lido, num prenúncio dos malefícios da Internet), nunca o comprei; apesar de achar que, sendo caro, era barato para o que era. O papel era bom. A selecção era boa. Era um livro perfeito – e até hoje não o tenho.
Tenho ligações sentimentais ao grupo Leya (por causa d”O Independente) e ainda esta semana recebi uma proposta simpática e tentadora da Dom Quixote, que agora faz parte da Leya. Mas que posso fazer quando uma grande editora, recém-formada e sem qualquer tradição literária, transforma um livro que era caro de mais para eu comprar em pasta de papel? É de vomitar. Não podemos dar dinheiro a quem só pensa em dinheiro. José Saramago – mau escritor mas boa pessoa, na minha miserável opinião – foi enganado. Eugénio de Andrade e Jorge de Sena – um grande poeta e um génio – foram ultrajados.
Desejo sinceramente que a Leya se foda.
Miguel Esteves Cardoso, O Ultraje
Convites tentadores acontecem. Irresistíveis, muitas vezes. Aparentemente irrecusáveis, quase sempre. É, aliás, isso que os faz "tentadores". Mas como é próprio da natureza que lhes assiste, qualquer convite depende tanto ou mais do convidado como daquele que convida. Uma vez lançado, resta saber se é aceite ou declinado. E é aqui, exactamente aqui, que a coisa se joga: perceber até onde há coluna vertebral para voltar as costas às mais tentadoras tentações que nos convidam.
E, felizmente: três coisas. Uma coisa: ainda há memória. Duas coisas: ela ainda conta para alguma coisa. Três coisas: nem todos somos moluscos.
* Com a devida vénia ao Caldeirão Voltaire que transcreveu a crónica.
[ACTUALIZADA]
Ministra da Cultura acusa editoras de "massacre" aos livros
05.03.2010- por Sílvia de Oliveira e Ana Rita Guerra
A destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas é "um massacre" que deve ser resolvido a curto prazo. Esta é a reacção de Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura, que explicou ao i a sua posição perante as notícias de que o Grupo Leya destruíu dezenas de milhares de livros antigos de autores como Jorge de Sena, Vasco Graça Moura ou Eugénio de Andrade.
"O Ministério da Cultura irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar a destruição de livros, que afinal é uma prática regular e generalizada", afirmou a ministra ao i ontem à noite, à margem da cerimónia de entrega do Prémio Leya ao escritor luso-moçambicano Borges Coelho, em Maputo. Gabriela Canavilhas reconheceu que há um problema e garantiu que a sua resolução é uma prioridade no regresso a Portugal.
A polémica com o Grupo Leya já tinha surgido em Fevereiro, quando o antigo editor José da Cruz Santos denunciou a destruição de milhares de livros pela editora de Miguel Pais do Amaral ao "Jornal de Notícias". Mas foi esta semana que atingiu proporções de escândalo, por causa de um artigo de opinião no jornal "Público". Precisamente a semana em que o grupo editorial entrega o Prémio Leya em Moçambique.
Isaías Gomes Teixeira, administrador-delegado do grupo, explica porque é que a Leya decidiu destruir os livros. "É uma inevitabilidade e acontece com todas as editoras pelo mundo fora. Torna-se impossível mantê-los pelo custo operacional e de armazenagem." Os livros "não foram para o lixo", sublinha o responsável, "foram destruídos para reciclagem, para obter papel". Chegou a haver uma oferta para que chegassem a Timor, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros "disse não ter dinheiro para o transporte". Nesse lote "havia de tudo, livros amarelecidos, livros escolares que já não estavam de acordo com o plano nacional, amolgados..."
A questão dos custos e dos limites dos armazéns, referida por Isaías Gomes Teixeira, pode ser resolvida com acordos, considera Gabriela Canavilhas. O Governo vai tentar parcerias com transportadoras, para que os livros sejam doados sem que as editoras tenham encargos financeiros.
O presidente do júri do Prémio Leya, nada menos que Manuel Alegre, não quis comentar o caso específico das edições destruídas. No entanto, confirmou saber que esta é uma prática recorrente das editoras. "Fico muito triste, podia encontrar-se uma solução para resolver este problema", afirmou o poeta socialista, editado pela Dom Quixote, também do grupo Leya. "Devíamos enviar os livros, pelo menos alguns, para escolas, hospitais e prisões de países que partilham a mesma língua", frisou, sublinhando que não tem conhecimento de que qualquer das suas obras tenha sido destruída. O i tentou obter uma reacção de Miguel Pais do Amaral, presidente do grupo, mas não foi possível até à hora de fecho.
via jornal i
Canavilhas promete solução para evitar destruição de livros
05.03.2010 - por Alexandra Prado Coelho
A ministra da Cultura considera a destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas um “massacre”. Gabriela Canavilhas fez esta declaração ao jornal i, em Maputo, onde se encontra a acompanhar a visita oficial do primeiro-ministro, e à margem da cerimónia de entrega do Prémio Leya ao escritor luso-moçambicano Borges Coelho.
A ministra, constatando que esta é “uma prática regular e generalizada”, disse que o seu ministério irá “fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar a destruição de livros”, nomeadamente estabelecendo parcerias com transportadoras para fazer doações sem que isso represente um custo adicional para as editoras.
No centro desta polémica está a notícia publicada a 9 de Fevereiro pelo "Jornal de Notícias", segundo a qual a editora Leya terá destruído milhares de livros de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura. A denúncia partiu de José da Cruz Santos, editor que trabalhou com a Asa (que foi integrada na Leya) e que disse ao JN ter sido informado pela editora de que muitos dos títulos que se encontravam em armazém iam ser guilhotinados, sobrando apenas poucos exemplares de cada obra.
Esta semana o assunto voltou a ser abordado, desta vez num artigo no PÚBLICO da autoria de Luís Fernandes, professor da Universidade do Porto. “Que país é este, em que quem manda nos livros os manda guilhotinar para fazer pasta de papel!”, indignava-se. Na sua crónica, Miguel Esteves Cardoso mostrava-se igualmente indignado.
A ministra disse ao i ter recebido estas notícias “com consternação”: “A importância do livro ultrapassa a noção de mera mercadoria. Se visse a biblioteca de Moçambique, com um reduzido espólio, compreenderia quanto a destruição de um livro me constrange”. Sublinhou no entanto que os argumentos “de carácter empresarial” têm que ser respeitados.
Isaías Gomes Teixeira, administrador-delegado do grupo Leya, explicou ao mesmo jornal, que esta é uma prática de “todas as editoras pelo mundo fora” justificada pelos custos de armazenamento dos livros. E revelou que chegou a haver uma oferta para os enviar para Timor, mas não se concretizou porque o Ministério dos Negócios Estrangeiros “disse não ter dinheiro para o transporte”.
via O Público
Grupo LeYa: reciclagem é feita só depois de esgotadas alternativas
05.03.2010 - por Agência Lusa
O grupo editorial LeYa reagiu hoje à polémica desencadeada pela destruição de milhares de livros de autores como Jorge de Sena e Eugénio de Andrade sublinhando tratar-se de uma medida extrema, adotada depois de esgotadas todas as alternativas.
Depois de insistir em que é “já claro à data de hoje que a redução de stock de livros por via de reciclagem é algo inerente ao próprio mercado editorial, português e mundial”, a LeYa reiterou a sua “permanente preocupação de manter vivos todos os catálogos das editoras que a integram”, em comunicado hoje enviado à Lusa.
“Por essa razão [o grupo LeYa] promove iniciativas que permitam manter disponível a obra dos autores que edita, seja através de novos formatos, novas capas ou mesmo renovando e descobrindo novos canais para que cheguem a mais leitores e mais mercados”, lê-se no documento.
A reação da LeYa surge na sequência de declarações feitas quinta feira à noite em Maputo pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao jornal i, segundo as quais a destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas é “um massacre” que o ministério “irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar”.
Um total de 1300 títulos são anualmente publicados pela LeYa e suas editoras, a par de 1800 reimpressões de títulos já publicados em anos anteriores, o que soma mais de 13 milhões de livros por ano, explica o grupo editorial, cujos gastos anuais com armazenamento ascendem a 4,5 milhões de euros por ano.
Quando a capacidade dos armazéns da empresa atinge o seu limite - 35 milhões de livros - e o mercado não mostra interesse, a LeYa tenta, então, “colocar à disposição dos autores os exemplares excedentes; oferecê-los, quando possível, a instituições de solidariedade social ou outras entidades que os solicitem; e apurar do interesse de instituições governamentais na distribuição dos livros por comunidades de língua portuguesa fora do país, desde que não represente custos adicionais para a empresa”.
No comunicado, o grupo editorial de Miguel Paes do Amaral aponta, em seguida, por ordem de importância, “as situações que levam as editoras a optar pela reciclagem dos seus stocks”, a começar pela de livros escolares “cujo período de validade tenha terminado, por terem sido alterados os programas de ensino nos quais se baseavam”.
Em segundo lugar, são destruídos “os livros que, por motivos contratuais com os autores ou seus agentes, as editoras são impedidas de vender, doar ou mesmo armazenar” e, por último, “os muitos livros devolvidos pelas livrarias às editoras, que se encontram deteriorados pelo seu manuseamento e que não estão em condições de voltar a ser utilizados”, indica o documento.
“Esgotadas ou não sendo possíveis nenhuma das anteriores situações, os livros são reciclados, não sem antes terem sido informados os autores e salvaguardados os seus direitos”, conclui a LeYa.
A polémica em torno das práticas de reciclagem da LeYa surgiu no dia 09 de fevereiro, quando o antigo editor José da Cruz Santos denunciou ao Jornal de Notícias que milhares de livros daquele grupo editorial tinham sido guilhotinados, mas alastrou esta semana, devido a um artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso no jornal Público em que este crítica ferozmente a atuação do grupo de Miguel Paes do Amaral.
via jornal i
Grupo LeYa admite destruição de milhares de livros
05-03-2010
O grupo editorial LeYa reagiu hoje à polémica desencadeada pela destruição de milhares de livros de autores como Jorge de Sena e Eugénio de Andrade sublinhando tratar-se de uma medida extrema, adoptada depois de esgotadas todas as alternativas.
Depois de insistir em que é "já claro à data de hoje que a redução de stock de livros por via de reciclagem é algo inerente ao próprio mercado editorial, português e mundial", a LeYa reiterou a sua "permanente preocupação de manter vivos todos os catálogos das editoras que a integram", em comunicado hoje enviado à agência Lusa.
"Por essa razão [o grupo LeYa] promove iniciativas que permitam manter disponível a obra dos autores que edita, seja através de novos formatos, novas capas ou mesmo renovando e descobrindo novos canais para que cheguem a mais leitores e mais mercados", lê-se no documento.
A reacção da LeYa surge na sequência de declarações feitas quinta-feira à noite em Maputo pela ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, ao jornal “i”, segundo as quais a destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas é "um massacre" que o Ministério "irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar".
Um total de 1300 títulos são anualmente publicados pela LeYa e suas editoras, a par de 1800 reimpressões de títulos já publicados em anos anteriores, o que soma mais de 13 milhões de livros por ano, explica o grupo editorial, cujos gastos anuais com armazenamento ascendem a 4,5 milhões de euros por ano.
Quando a capacidade dos armazéns da empresa atinge o seu limite - 35 milhões de livros - e o mercado não mostra interesse, a LeYa tenta, então, "colocar à disposição dos autores os exemplares excedentes; oferecê-los, quando possível, a instituições de solidariedade social ou outras entidades que os solicitem; e apurar do interesse de instituições governamentais na
distribuição dos livros por comunidades de língua portuguesa fora do país, desde que não represente custos adicionais para a empresa".
No comunicado, o grupo editorial de Miguel Paes do Amaral aponta, em seguida, por ordem de importância, "as situações que levam as editoras a optar pela reciclagem dos seus stocks", a começar pela de livros escolares "cujo período de validade tenha terminado, por terem sido alterados os programas de ensino nos quais se baseavam".
Em segundo lugar, são destruídos "os livros que, por motivos contratuais com os autores ou seus agentes, as editoras são impedidas de vender, doar ou mesmo armazenar" e, por último, "os muitos livros devolvidos pelas livrarias às editoras, que se encontram deteriorados pelo seu manuseamento e que não estão em condições de voltar a ser utilizados", indica o documento.
"Esgotadas ou não sendo possíveis nenhuma das anteriores situações, os livros são reciclados, não sem antes terem sido informados os autores e salvaguardados os seus direitos", conclui a LeYa.
A polémica em torno das práticas de reciclagem da LeYa surgiu no dia 9 de Fevereiro, quando o antigo editor José da Cruz Santos denunciou ao Jornal de Notícias que milhares de livros daquele grupo editorial tinham sido guilhotinados, mas alastrou esta semana, devido a um artigo de opinião de Miguel Esteves Cardoso no jornal Público em que este crítica ferozmente a actuação do grupo de Miguel Paes do Amaral.
via RR
Leya acusada de destruição de edições históricas
2010-02-09 - por Sérgio Almeida
Dezenas de milhar de livros da autoria de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura, publicados pela ASA ao longo da última década, foram destruídos recentemente pelo Grupo Leya. Inclusive, o "abate" de duas das obras poderá implicar a existência de ilegalidade.
A acusação é de José da Cruz Santos, editor que colaborou com a ASA nesse período, tendo assegurado a publicação de mais de uma centena de títulos em géneros como a poesia, o ensaio e os álbuns.
No ano passado, Cruz Santos, que, entretanto, cessou a colaboração com a editora fundada por Américo Areal, foi informado pelos novos proprietários da decisão de guilhotinar parte significativa das edições em armazém. Em média, foram destruídos 90% dos livros disponíveis, restando escassas dezenas de exemplares de cada obra.
Nos 96 títulos atingidos, incluem-se obras marcantes como "Daqui houve nome Portugal", uma antologia de verso e prosa sobre o Porto organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade, e "21 retratos do Porto para o século XXI", uma edição comemorativa dos 150 anos da morte de Almeida Garrett que inclui textos, pinturas, desenhos e fotografias de dezenas de autores. É devido à destruição destes dois títulos que o editor portuense resolveu interpor uma acção judicial contra o grupo detido por Miguel Pais do Amaral.
"Sou o proprietário das referidas obras, pelo que a ASA, responsável apenas pela distribuição, não poderia ter feito o que fez", reforçou Cruz Santos, que garante nunca ter "destruído qualquer livro nos 46 anos de editor".
Ainda segundo o actual responsável da editora e livraria Modo de Ler, a medida "é um acto anticultural gravíssimo" e poderia ter sido evitada se a Leya tivesse seguido a sua sugestão de oferecer os livros em causa a escolas, hospitais ou prisões".
Além de suspeitar que "vários dos autores afectados por essa medida não foram sequer informados", Cruz Santos aponta ainda a ironia de o Grupo Leya, na sequência da falência da Quasi, estar agora a ponderar editar os livros de Eugénio de Andrade, após ter ordenado a destruição de centenas de exemplares de obras do poeta falecido em 2004.
Contactado pelo JN, o Grupo Leya, através do gabinete de comunicação, limitou-se a informar que o caso está entregue ao gabinete jurídico, recusando-se a tecer mais comentários.
via JN
No ano passado, Cruz Santos, que, entretanto, cessou a colaboração com a editora fundada por Américo Areal, foi informado pelos novos proprietários da decisão de guilhotinar parte significativa das edições em armazém. Em média, foram destruídos 90% dos livros disponíveis, restando escassas dezenas de exemplares de cada obra.
Nos 96 títulos atingidos, incluem-se obras marcantes como "Daqui houve nome Portugal", uma antologia de verso e prosa sobre o Porto organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade, e "21 retratos do Porto para o século XXI", uma edição comemorativa dos 150 anos da morte de Almeida Garrett que inclui textos, pinturas, desenhos e fotografias de dezenas de autores. É devido à destruição destes dois títulos que o editor portuense resolveu interpor uma acção judicial contra o grupo detido por Miguel Pais do Amaral.
"Sou o proprietário das referidas obras, pelo que a ASA, responsável apenas pela distribuição, não poderia ter feito o que fez", reforçou Cruz Santos, que garante nunca ter "destruído qualquer livro nos 46 anos de editor".
Ainda segundo o actual responsável da editora e livraria Modo de Ler, a medida "é um acto anticultural gravíssimo" e poderia ter sido evitada se a Leya tivesse seguido a sua sugestão de oferecer os livros em causa a escolas, hospitais ou prisões".
Além de suspeitar que "vários dos autores afectados por essa medida não foram sequer informados", Cruz Santos aponta ainda a ironia de o Grupo Leya, na sequência da falência da Quasi, estar agora a ponderar editar os livros de Eugénio de Andrade, após ter ordenado a destruição de centenas de exemplares de obras do poeta falecido em 2004.
Contactado pelo JN, o Grupo Leya, através do gabinete de comunicação, limitou-se a informar que o caso está entregue ao gabinete jurídico, recusando-se a tecer mais comentários.
via JN
o editor José da Cruz Santos
Leya guilhotina livros exemplares do editor José da Cruz Santos
05.03.2010 - por Júlio Gago, Presidente do CCT/TEP
José Cruz Santos, o maior amante fiel dos livros em Portugal está a comemorar 45 anos como editor, um espaço de tempo que nos permitiu não só ler como ver obras sem paralelo. E a Leya, essa cultora de hipermercados do livro quis assassiná-lo. A ganância de um inculto grupo que viu no livro, não um veículo de cultura mas um negócio, guilhotinou-lhe algumas das suas obras mais fascinantes. Ávidos de lucros cevados e aviltantes, artífices da promoção de subprodutos literários, que tentam guindar a moda, o grupo Leya, desse senhor Pais do Amaral que trouxe os “bigbrothers” e quejandos para a TVI, apostando na estupidificação de um povo que encarneirava e lhe proporcionou bons lucros, aposta agora na subliteratura , não sabendo distinguir um Musil de um Paulo Coelho ou parentes, ou um Thomas Mann ou um Rilke de um qualquer Rodrigues dos Santos, que dominam as mentes mais primárias de um povo, durante décadas arredado da Cultura. Mas, esses livros de um lazer obtuso e inculto, que o grupo Leya enfileira ou amontoa no seu mercado editorial, compra-os quem quer ou não foi motivado para melhor. E que, numa lógica do capitalismo mais primário e obsoleto, destina edições de Pérolas da Literatura à guilhotina, para manter o preço das suas edições mais aberrantes, colocando-se ao nível do nazismo e da limpeza étnica que essa escola da infâmia provocou.
Vem isto a propósito das notícias recentemente vindas a público de que o grupo dito editorial Leya, do senhor Pais Amaral, destruiu, pela guilhotina, obras fundamentais da literatura e da edição em Portugal de autores como Fernão Lopes, Garrett, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, António Ramos Rosa, Hölderlin, Goethe, Rilke, Urbano Tavares Rodrigues, Vasco Graça Moura, Luísa Dacosta, Yvette Centeno, Teresa Balté. Obras que José da Cruz Santos concebeu e distribuiu através da ASA, que o grupo Leya comprou há pouco, e os apaniguados de Pais do Amaral resolveram destruir. Como dizia, no Jornal de Notícias, Manuel António Pina: “Ao menos os nazis queimavam livros em nome de uma ideia de cultura, o que sempre é um pouco mais respeitável que fazê-lo por mera ganância”.
Entre as obras concebidas por José Cruz Santos agora destruídas, estão dois dos mais belos e importantes livros produzidos em Portugal:
- “Daqui Houve Nome Portugal”, antologia de verso e prosa sobre o Porto, organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade (edições em português e inglês), considerada “o mais belo retrato das pedras e das gentes do Porto”.
- “21 Retratos do Porto para o Século XXI”, edição comemorativa dos 150 anos da morte de Garrett, com textos, pintura, desenhos e fotografias, e apresentação de Eduardo Lourenço.
Quando milhares de pessoas, em centenas de bibliotecas, sem meios, poderiam usufruir de alguns dos mais belos textos publicados em Portugal, o mercantilismo tratante do grupo Leya destrói edições fundamentais. Perante isto, e, em defesa da cultura contra as trevas a única atitude digna é boicotar a compra das edições do grupo Leya. E, que nos perdoem os autores dignos, por ela editados. Aliás, autores do meu País, já que aos outros esta notícia quiçá não chegue, o que vos resta de digno se não denunciar os vossos contratos com esses assassinos do Livro e da Cultura em Portugal…
José da Cruz Santos, personalidade que foge do seu próprio prestígio ausentando-se dos seus momentos marcantes, é para toda a gente da cultura o Editor, o seleccionador da nata das obras primas mundiais, um fazedor de livros que junta as ideias às imagens, que alia o belo e eficaz da literatura às artes plásticas e afins, o esboçador de obra a que alia os mestres das edições. José da Cruz Santos, ao longo de 45 anos, têm-nos dado livros que o são não só para leitura como para deliciar os olhos e os sentidos.
Conheço-o há mais de 40 anos, anos em que me tem distinguido com a sua amizade. Tivemos períodos das nossas vidas, espaços longos nos anos, em que nos encontrávamos pelo menos uma vez por dia. A vida e as nossas intervenções em áreas distintas, embora complementares da cultura não nos permite hoje fazê-lo diariamente, como eu desejava. Mas as cartas do Zé e as juras da nossa amizade vão chegando pelo correio, umas atrás das outras, numa amizade que sabemos pura. Com o meu amigo Zé Cruz Santos, apesar de algumas divergências de opções na vida, tenho apreendido muito e é sempre com mágoa que cotejo os momentos em que temos convivido menos. Com ele aprendi a amar a literatura alemã oitocentista e precursora. Hoje Hölderlin é o meu poeta, como Rilke, Goethe ou Kleist; mas, também, o vi apaixonar-se pelos meus gregos de há quase três milénios. Com o Zé, eu, ateu, aprendi a reverenciar e amar a obra do Padre Américo, ajudando-o na sua difusão. Sem o Zé Cruz e as edições das obras indispensáveis deste padre que faz parte da memória do Povo Português, os seus belos textos de intervenção na Sociedade não teriam a mesma qualidade.
Meu caro Zé Cruz, estou contigo na luta contra o mercantilismo dos livros, cerceador da liberdade de expressão e cultura, como estive contigo na luta contra um regime que nos castrou e parecia destruído em 25 de Abril.
E, mesmo o TEP não se esquece de ti, que já integraste os nossos Corpos Gerentes, como uma das personalidades mais notáveis que passaram pela instituição.
E, aos amigos do Facebook, que pelas redes sociais electrónicas ousam defender a Cultura contra o mercantilismo e a sanha destruidora de livros, também competirá a sua defesa. O acto de censura assassina perpetrado pelo grupo Leya não poderá ficar sem a resposta que essa monstruosidade merece e a relegará para outra História Mundial da Infâmia.
Vem isto a propósito das notícias recentemente vindas a público de que o grupo dito editorial Leya, do senhor Pais Amaral, destruiu, pela guilhotina, obras fundamentais da literatura e da edição em Portugal de autores como Fernão Lopes, Garrett, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, António Ramos Rosa, Hölderlin, Goethe, Rilke, Urbano Tavares Rodrigues, Vasco Graça Moura, Luísa Dacosta, Yvette Centeno, Teresa Balté. Obras que José da Cruz Santos concebeu e distribuiu através da ASA, que o grupo Leya comprou há pouco, e os apaniguados de Pais do Amaral resolveram destruir. Como dizia, no Jornal de Notícias, Manuel António Pina: “Ao menos os nazis queimavam livros em nome de uma ideia de cultura, o que sempre é um pouco mais respeitável que fazê-lo por mera ganância”.
Entre as obras concebidas por José Cruz Santos agora destruídas, estão dois dos mais belos e importantes livros produzidos em Portugal:
- “Daqui Houve Nome Portugal”, antologia de verso e prosa sobre o Porto, organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade (edições em português e inglês), considerada “o mais belo retrato das pedras e das gentes do Porto”.
- “21 Retratos do Porto para o Século XXI”, edição comemorativa dos 150 anos da morte de Garrett, com textos, pintura, desenhos e fotografias, e apresentação de Eduardo Lourenço.
Quando milhares de pessoas, em centenas de bibliotecas, sem meios, poderiam usufruir de alguns dos mais belos textos publicados em Portugal, o mercantilismo tratante do grupo Leya destrói edições fundamentais. Perante isto, e, em defesa da cultura contra as trevas a única atitude digna é boicotar a compra das edições do grupo Leya. E, que nos perdoem os autores dignos, por ela editados. Aliás, autores do meu País, já que aos outros esta notícia quiçá não chegue, o que vos resta de digno se não denunciar os vossos contratos com esses assassinos do Livro e da Cultura em Portugal…
José da Cruz Santos, personalidade que foge do seu próprio prestígio ausentando-se dos seus momentos marcantes, é para toda a gente da cultura o Editor, o seleccionador da nata das obras primas mundiais, um fazedor de livros que junta as ideias às imagens, que alia o belo e eficaz da literatura às artes plásticas e afins, o esboçador de obra a que alia os mestres das edições. José da Cruz Santos, ao longo de 45 anos, têm-nos dado livros que o são não só para leitura como para deliciar os olhos e os sentidos.
Conheço-o há mais de 40 anos, anos em que me tem distinguido com a sua amizade. Tivemos períodos das nossas vidas, espaços longos nos anos, em que nos encontrávamos pelo menos uma vez por dia. A vida e as nossas intervenções em áreas distintas, embora complementares da cultura não nos permite hoje fazê-lo diariamente, como eu desejava. Mas as cartas do Zé e as juras da nossa amizade vão chegando pelo correio, umas atrás das outras, numa amizade que sabemos pura. Com o meu amigo Zé Cruz Santos, apesar de algumas divergências de opções na vida, tenho apreendido muito e é sempre com mágoa que cotejo os momentos em que temos convivido menos. Com ele aprendi a amar a literatura alemã oitocentista e precursora. Hoje Hölderlin é o meu poeta, como Rilke, Goethe ou Kleist; mas, também, o vi apaixonar-se pelos meus gregos de há quase três milénios. Com o Zé, eu, ateu, aprendi a reverenciar e amar a obra do Padre Américo, ajudando-o na sua difusão. Sem o Zé Cruz e as edições das obras indispensáveis deste padre que faz parte da memória do Povo Português, os seus belos textos de intervenção na Sociedade não teriam a mesma qualidade.
Meu caro Zé Cruz, estou contigo na luta contra o mercantilismo dos livros, cerceador da liberdade de expressão e cultura, como estive contigo na luta contra um regime que nos castrou e parecia destruído em 25 de Abril.
E, mesmo o TEP não se esquece de ti, que já integraste os nossos Corpos Gerentes, como uma das personalidades mais notáveis que passaram pela instituição.
E, aos amigos do Facebook, que pelas redes sociais electrónicas ousam defender a Cultura contra o mercantilismo e a sanha destruidora de livros, também competirá a sua defesa. O acto de censura assassina perpetrado pelo grupo Leya não poderá ficar sem a resposta que essa monstruosidade merece e a relegará para outra História Mundial da Infâmia.
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