Vários bancos dos Estados Unidos decidiram encerrar as contas das missões diplomáticas estrangeiras no país, o que está a levantar problemas a vários países, pois não conseguem abrir contas noutros bancos, e a afectar as representações nas Nações Unidas.
A situação afigura-se bizarra e já levou um subsecretário do Departamento de Estado (equivalente ao nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros), Patrick Kennedy, a ter uma reunião à porta fechada na sede das Nações Unidas, para ouvir representantes de mais de 150 países membros para acalmar a sua “a cólera”, segundo a descrição da agência AFP.
O JP Morgan Chase, segundo maior banco dos EUA por activos e com uma forte clientela diplomática por ter uma agência dentro da sede da ONU, enviou no dia 30 de Setembro uma carta às representações estrangeiras a dizer que as suas contas seriam fechadas a 31 de Março, sem explicar a razão da sua decisão. Até agora, foi o único banco que anunciou a sua decisão, que não abrange as contas pessoais dos diplomatas.
No entanto, o Bank of America fechou já cinco contas da Embaixada de Angola e vários outros bancos disseram às autoridades americanas que tencionavam fechar todas as suas transacções com as embaixadas, revelou The Washington Post.
Aparentemente, a decisão, que envolverá também outros bancos não identificados, deve-se aos custos associados às exigências do Governo americano para vigilância das transacções financeiras para prevenir o financiamento do terrorismo, que têm sido apertadas desde os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA.
Esta decisão dos bancos americanos já era pública, pois em Novembro The Wall Street Journal já tinha sugerido que ela teria sido desencadeada pelas dificuldades em cumprirem os regulamentos federais que afectam as transferências internacionais. Agora, a reunião na ONU e as declarações de vários diplomatas deram uma nova actualidade ao assunto.
O embaixador do Egipto nas Nações Unidas, Maged Abdelaziz, disse aos jornalistas que não consegue encontrar outro banco e que os bancos se sentem “sobrecarregados” pelas exigências do Governo. O embaixador da África do Sul, Baso Sangqu, tem o mesmo problema. “Não conseguimos obter serviços bancários. Andamos a tentar por aí.”
O Governo americano está a tentar convencer os bancos em causa a recuar na sua decisão e na reunião de ontem Patrick Kennedy, além de ter “ouvido as suas preocupações”, segundo disse ao Washington Post, deu aos diplomatas “algumas sugestões sobre… abordagens alternativas que podem adoptar para obter outros serviços bancários”.
O embaixador do Irão, Mohammad Khazaee, disse mesmo que a decisão dos bancos ameaça a “existência” da ONU. “Acontece com quase toda a gente”, disse. “As missões não podem funcionar.” Todas têm “procurado um banco para abrir a sua conta, mas infelizmente, do que ouvi de quase toda a gente, nenhum banco tem cooperado”, disse aos jornalistas.
A AFP adianta que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU foram aconselhados a procurar um novo banco com que trabalhar e que as grandes potências, cujas facturas anuais se elevam a dezenas de milhões de dólares, já disseram que esperam encontrar alternativa. Mas dezenas de países africanos estão com dificuldades e, se a situação se mantiver, muitas missões poderão ter problemas para pagar as suas contas e os ordenados dos funcionários.
Regras ainda mais apertadas
Patrick Kennedy reconheceu ontem, citado pela agência Bloomberg, que “alguns” bancos decidiram acabar com as contas diplomáticas por “razões de negócio” que não especificou, o que envolvia uma “significativa” quantidade de dinheiro. E admitiu, após a reunião na ONU, que a decisão da banca levanta “questões muito reais e preocupações muito reais”.
E avançou que quer Hillary Clinton, a secretária de Estado, quer Timothy Geithner, o secretário do Tesouro (equivalente ao Ministério das Finanças) estão a trabalhar com os bancos para resolver o problema. “Tornámos muito claro que era um interesse nacional dos EUA trabalhar com embaixadas em Washington e missões nas Nações Unidas em Nova Iorque”, rematou Patrick Kennedy.
Nos EUA, os bancos “são entidades provadas”, disse ainda. “São regulados pelo Governo, mas não são dirigidos pelo Governo”. A posição dos banqueiros é de que fizeram a sua análise “económica ao negócio” e são “organizações lucrativas”.
As instituições financeiras dos EUA já têm de comunicar às autoridades federais todas as operações em dinheiro acima de dez mil dólares (cerca de 7500 euros) e uma proposta do Departamento do Tesouro prevê o aperto dos actuais regulamentos, exigindo aos bancos que comuniquem semanalmente todas as transferências electrónicas de dinheiro de e para os EUA, seja qual for a quantia, lembra The Washington Post.
O vice-presidente da Associação de Banqueiros Americanos, Robert Rowe, culpabilizou o Governo americano pela situação. “As inspecções são muito agora muito duras”, disse à AFP. “Tornar-se muito difícil para os bancos dizer quem são os bons e quem são os maus.”
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