Escreve, e diz tudo, o Daniel Oliveira:
(...) Cavaco é um símbolo. Um símbolo que nos recorda que não temos ainda 40 anos de democracia. Ela é firme e resiste a quem não se sente confortável nela. Mas este símbolo recorda-nos porque suportámos durante tantas décadas um tiranete. Porque, infelizmente, há muita gente que gosta de ser mandada. E que acha, como Cavaco, que eleições, campanhas e tudo o que define uma democracia são uma perda de tempo e de dinheiro.
E esta, mais do que o BPN, que as opções económicas erradas do cavaquismo, que os silêncios e omissões do Presidente, que o seu primeiro mandato cheio de episódios insólitos, é a razão porque nunca Cavaco Silva poderia contar com o meu voto. Porque só dou o meu voto a quem não o vê como uma perda de dinheiro e de tempo. E a quem não se atreve a fazer chantagem para o conseguir. Demasiados portugueses perderam a liberdade e até a vida para eu ter direito a isto. Por isso, como cidadão, exijo um respeito absoluto por este ato. Nenhuma urgência e nenhum dinheiro valem mais do que a democracia. E nenhumas eleições são um plebiscito.
No domingo, votarei por convicção. Uma convicção positiva: votarei em quem me garante que resistirá à ofensiva que aí vem, à boleia da crise, contra o Estado Social, o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, os direitos laborais mínimos e o apoio aos mais pobres que não se resuma à caridade e à distribuição das sobras dos restaurantes. Mas também uma convicção negativa: não quero ter como Presidente da República um homem que olha para a democracia que jura defender como uma perda de tempo e de dinheiro. Quem não compreende a essência do Estado Democrático não tem estatura política para o representar.
Assim sendo:
A razão do meu voto no domingo resume-se depressa: votarei no único candidato que, podendo disputar uma segunda volta para a vencer, tem posições claras sobre o que realmente vai estar em causa nos próximos cinco anos. A saber: gratuitidade e universalidade do Serviço Nacional de Saúde; centralidade da Escola Pública no nosso sistema educativo; defesa de uma segurança social pública; oposição a leis laborais que deixem os trabalhadores entregues aos humores do empregador; e defesa dos poderes eleitos como os únicos com legitimidade democrática para determinar as nossas escolhas colectivas. Não é pouco. É, neste momento, tudo.
(...) O meu voto em Manuel Alegre é um voto coerente, racional e determinado. Mesmo que Cavaco fosse honesto, e ficámos com a certeza de que não o é. Mesmo que Cavaco tivesse um espírito democrático, e sempre soubemos que não o tem. Votarei Manuel Alegre porque não desisto de nenhum combate. Muito menos dos combates que determinarão muito do que será a vida concreta de cada um de nós nos próximos anos.
Vote em quem votar, se a esquerda ficar em casa no domingo não se poderá queixar das derrotas que se seguirão.
Para ler na íntegra AQUI e AQUI.
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