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"Sem olhar a campanhas"

Posted: 21 de jan. de 2011 | Publicada por AMC | Etiquetas: , , ,

por Helena Garrido

A primeira volta para a eleição do oitavo presidente da era pós-25 de Abril acontece num ambiente de desilusão e preocupação sem paralelo na História recente.
Política e economia, tudo se une para o desapontamento e a apreensão.
Domingo, quando colocar o seu voto nas urnas, a esmagadora maioria dos funcionários públicos já terá visto o seu salário encolher depois de a sua conta mensal de despesas ter já aumentado.
E, nestes dias, o que viram? Uma campanha eleitoral, como cada vez mais acontece, a contribuir para aprofundar ainda mais a má imagem da classe política e a abrir ainda mais o espaço de expansão do populismo.
Só há discursos populistas bem-sucedidos quando o terreno é fértil. E a classe política tem tornado o espaço público cada vez mais exposto à generalização fácil da conversa leviana do "eles são todos uns malandros".
Todos clamam por mais profundidade no debate e ninguém dá um passo para esse aprofundamento.
Todos dizem que querem comunicar durante mais do que um ou dois minutos oferecidos pelas televisões e rádios - ou agora até pelo Twitter e Facebook. Ninguém o faz.
Por onde ficaram as entrevistas sobre os temas que preocupam os cidadãos sem os limites do tempo e do espaço? Na gaveta dos candidatos com mais possibilidades de exercerem o cargo de Presidente da República.
A comunicação escrita, em papel ou digital, é cada vez mais deixada para o plano do não desejado. Nas campanhas, como no exercício posterior dos cargos. E o que vai ficando são pequenas histórias sem contexto nem enquadramento, das quais os protagonistas políticos se vão defendendo com acusações de "campanhas sujas".
É já um lugar-comum dizer que as democracias estão doentes. Talvez seja menos um caso de saúde e mais um problema de desajustamento entre a voragem da sociedade de informação e a teimosa atitude dos políticos de exercerem o poder como se estivessem no tempo do telégrafo, e de comunicarem com o eleitorado por pequenas frases.
As tiradas certas para conseguir um bom título ou um bom som ou imagem não é a intervenção necessária para dissipar do horizonte a apreensão que gera a actual crise económica.
O que se vai passando apenas alimenta a descrença nas lideranças. Enquanto os políticos se atacam, vão-se desenrolando aos olhos dos cidadãos casos e mais casos de escandaloso aproveitamento dos dinheiros públicos.
O corte dos salários é necessário mas nunca será compreendido se, ao mesmo tempo, se mantiverem à mesa dos dinheiros públicos fundações, institutos e empresas que ninguém entende para que servem, mesmo sem ser em tempo de crise.
Domingo só pode ser um dia de votar com a consciência do frágil equilíbrio em que vive a democracia.
O estado financeiro a que chegou o País está a criar uma pressão que pode não ser suportável. O frágil estado em que começa a estar a classe política limita perigosamente a sua capacidade para combater a implosão sem controlo da revolta.

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