A cúpula do G8 vai reunir esta semana, na quinta e sexta-feira, com o processo de transição para a democracia de diversos países árabes e a sucessão a Dominique Strauss-Kahn na presidência do FMI, como principais tópicos em agenda. No entanto, abordarão também outros temas, seja no plenário ou nos bastidores. Resta saber quais terão prioridade e o que sairá dessas conversas.
Será particularmente interessante, creio, perceber o que os 'Senhores do Mundo' tencionam concertar quanto às questões da energia nuclear, por exemplo. Em especial no que respeita à srª Merkel e às políticas verdes que, não tendo sido suficientes para lhe evitar a derrota nas eleições do mês passado, a colaram a compromissos populistas de difícil recuo. Ou, por exemplo, saber o que decidirão em relação a Kadhafi e à intervenção militar na Líbia. Sabe-se, por exemplo, que tanto o Egipto como a Tunísia foram convidados para o encontro. A Reuters avançou recentemente que os dois países serão ouvidos numa sessão especial e antecipou um pedido de ajuda na ordem dos 25 e 12 mil milhões de dólares, respectivamente.
Por outro lado, e tendo em conta que Christine Lagarde iniciará logo após um périplo pelos BRIC - na tentativa de angariar simpatias na sucessão no cargo a DSK - será ainda interessante perceber se poderá colocar na bagagem o apoio explícito da cúpula do G8. Se assim for, chegará ao Brasil e depois à Índia com uma força diferente. Em todo o caso, se os grandes do G8 resolverem consumar-lhe o aval, importa também perceber em que termos o farão. A questão não é inócua. Vários BRIC têm expressado o seu desacordo com os critérios de selecção para a presidência do FMI, contestando a tradição europeia ou norte-americana na liderança do cargo. Seguramente que a cúpula não irá querer abrir cisões mundiais e, na eventualidade de se concertar em torno de Lagarde, necessitará de pinças para não afrontar ostensivamente a posição dos BRIC.
Veremos! Os líderes têm encontro marcado em Deauville, na costa da Normandia, já que desta vez a reunião do G8 decorre sob a presidência França.
(fonte: AFP)
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[ACTUALIZADO]
Um compromisso para ajudar o Egipto e a Tunísia com verbas para impedir que dificuldades económicas dificultem o processo democrático deverá ser o principal tema na reunião dos países do G8, que se juntam hoje e amanhã em Deauville, na costa da Normandia.
Na agenda estarão a Primavera Árabe em geral (Líbia e Síria, para além de Egipto e Tunísia) e questões como a segurança nuclear. Espera-se ainda que o encontro seja dominado por conversas laterais sobre quem irá liderar o Fundo Monetário Internacional após a demissão de Dominique Strauss-Kahn.
O ponto alto da reunião deverá ser o "compromisso de Deauville", um pacote de ajuda económica e apoio político aos países árabes que derrubaram os seus líderes de há décadas. "Conseguir uma parceria estratégica com os países da Primavera Árabe vai ser a assinatura da cimeira", garantiu um responsável do Governo francês citado, sob anonimato, pelo Wall Street Journal. O Egipto e a Tunísia, convidados para o encontro, serão ouvidos numa sessão especial e deverão pedir ajuda na ordem dos 25 mil milhões de dólares (Egipto) e 12 mil milhões de dólares (Tunísia), segundo a Reuters.
Os dois países enfrentam dificuldades económicas, especialmente por causa da grande quebra no turismo, dificuldades que poderão prejudicar o processo democrático. O Presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou na semana passada um plano para o Norte de África e Médio Oriente que começa com um perdão de mil milhões de dólares em dívida do Egipto e uma ajuda de outros mil milhões.
Não era claro se o plano do G8 iria definir quantias - antecipava-se que seria difícil conseguir um compromisso concreto devido às dificuldades económicas dos países. Certo é que uma das principais ideias será envolver o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, que ajudou na liberalização das economias de alguns dos países de Leste após a queda da Cortina de Ferro.
A operação da NATO na Líbia deveria ser um ponto de discussão. Cinco membros do G8 (EUA, França, Reino Unido, Itália e Canadá) estão envolvidos na missão militar, a que a Rússia se opõe. E há também a pressão sobre a Síria feita pela UE e ONU; mais uma vez, algo que Moscovo não partilha.
Quanto à nova direcção do FMI, onde se destaca a candidatura oficial da antiga ministra francesa Christine Lagarde (ver pág. 22), os países do G7 (G8 excluindo a Rússia) tentarão evitar dar a impressão de que estão a fabricar um acordo, quando os países dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se opõem a um novo líder europeu para o organismo. Além disso, o G20 é o fórum para a discussão de questões económicas internacionais - o G8 deveria focar-se apenas em questões de segurança e geopolíticas. Mas, admitia um responsável sob anonimato à Reuters, "qualquer decisão deverá ser tomada pelos países do G7, porque os BRICS não se conseguiram unir para apoiar um candidato comum".
Já entre os europeus as discordâncias deverão surgir, quando se debater a segurança nuclear. A França, que obtém grande parte da sua energia da energia atómica e exporta o seu know-how nuclear para todo o mundo, tenta evitar consequências do desastre de Fukushima, enquanto Itália e Alemanha estão a rever os seus programas atómicos.
publicado em O Público
O sucesso de países como Tunísia e Egito em sua transição para a democracia é um problema que atrai atenções no mundo todo. Essa convicção vai colocar o debate sobre uma possível ajuda econômica aos pioneiros da Primavera Árabe no centro da cúpula do G8, que ocorrerá nestas quinta e sexta-feira, em Deauville, noroeste da França. As grandes potências temem que um cenário de instabilidade pós-revolução abra caminho a grupos extremistas, que pretendam instaurar nestes países regimes fundamentalistas ainda mais nocivos à população e ao mundo do que as ditaduras derrubadas pelos protestos.
Contudo, em um semestre extremamente agitado, outros temas devem se impor à cúpula, seja no plenário ou nos bastidores. Um exemplo é a energia nuclear, que vem sendo questionada desde a crise na usina de Fukushima, no Japão. Ou a questão palestina, que voltou aos holofotes internacionais desde o discurso do presidente americano, Barack Obama, defendendo a criação de um estado palestino com base nas fronteiras que existiam antes de 1967 - anterior à Guerra dos Seis Dias. Consulte o quadro no final desta página para mais detalhes sobre os temas em discussão.
Quem é o G8 - Desde 1975, um grupo de chefes de estado e diplomatas das mais ricas e industrializadas nações democráticas do mundo se reúne todos os anos para discutir grandes questões econômicas e políticas. Integram o G8 a França, os Estados Unidos, a Grã Bretanha, a Alemanha, a Itália, o Japão, o Canadá e a Rússia. Enquanto os seis primeiros participaram de todos os encontros desde 1975, o Canadá juntou-se aos demais no ano seguinte. Já a Rússia foi formalmente admitida apenas em 2006, quando sediou a primeira assembleia do G8 em seu território.
Embora sempre entrem na pauta uma série de preocupações domésticas de cada integrante, boa parte do debate é marcada por temas que dizem respeito à comunidade internacional como um todo. Com a globalização, observada especialmente a partir de meados dos anos 90, estas reuniões ganharam cada vez mais importância. Os encontros atraem os olhos de toda a imprensa mundial, bem como um considerável número de manifestações contrárias às ações das grandes potências.
Discussões recentes - Contudo, nem sempre os encontros terminam com decisões claras. Muitas vezes, as reuniões são marcadas por divergências e a declaração final é instatisfatória. Em 2007, por exemplo, a cúpula realizada na Alemanha foi marcada pelas discussões sobre questões ambientais. As potências concordaram que era necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa, mas não fixaram metas.
Em 2006, quando a reunião ocorreu na Rússia, o grupo focou suas atenções sobre o conflito no Oriente Médio, cobrando moderação de israelenses e palestinos - algo que até hoje não se vê. No ano anterior, na Escócia, o G8 prometeu 50 bilhões de dólares à África para combater a pobreza e o fim dos subsídios agrícolas - sem fixar metas, também não houve avanços essenciais. Em meio às explosões no metrô de Londres ocorridas naquele ano, o terrorismo também esteve no centro da pauta.
Já no encontro de 2004, realizado nos Estados Unidos, o Oriente Médio também foi assunto, assim como a guerra do Iraque - houve troca de farpas entre o então presidente francês Jacques Chirac e o americano George W. Bush. Um racha também ocorreu em 2003, na França, pouco depois de os americanos invadirem o país governado por Saddam Hussein. Na ocasião, EUA e Grã Bretanha foram rechaçados por Alemanha, França e Rússia.
Quem e quando - Neste ano, devem comparecer ao encontro Obama, Stephen Harper, premiê do Canadá; Nicolas Sarkozy, presidente da França; Angela Merkel, chanceler da Alemanha; Silvio Berlusconi, premiê da Itália; Naoto Kan, primeiro-ministro do Japão; Jose Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia; Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu; David Cameron, premiê da Grã Bretanha; e Dmitri Medvedev, presidente da Rússia.
A reunião começa às 12h45 (7h45, em Brasília) de quinta-feira e segue até às 14h15 de sexta. Em um momento muito esperado do encontro, líderes de delegações do Egito e Tunísia devem discutir com os membros do G8 às 10h de sexta-feira. Também representantes de países africanos terão uma sessão exclusiva neste dia, às 11h15. O evento deve ser encerrado com uma entrevista coletiva do presidente francês Nicolas Sarkozy.
via revista Veja
Principais tópicos da reunião do G8 em Deauville
- PRIMAVERA ÁRABE: o G8 deve decidir ajudar economicamente a Tunísia e ao Egito a fim de respaldar seus frágeis processos de transição para a democracia. Trata-se de um desafio fundamental para estes países após as quedas de seus governantes - o tunisiano Zine el Abidine Ben Ali e o egípcio Hosni Mubarak, respectivamente - mas também para a comunidade internacional, que teme um fracasso dos pioneiros da "Primavera Árabe" frente às aspirações democráticas das populações com regimes repressivos.
- LÍBIA: a ofensiva internacional lançada no dia 19 de março contra as forças do ditador líbio Muammar Kadhafi - que deveria ser curta - apresentou uma intensificação dos bombardeios nos últimos dias. Este atoleiro de violência provoca divisões cada vez mais evidentes na comunidade internacional. Os líderes do G8 devem abordar uma eventual estratégia de saída do conflito.
- SÍRIA: a repressão aos protestos exercida pelo regime sírio desde março, que já causou mais de 1.000 mortos segundo uma ONG local, será outro grande tema. Os Estados Unidos intimaram o presidente Bashar al-Assad a presidir uma revolução democrática ou então abandonar o poder. Os europeus, por sua vez, decidiram sancioná-lo na segunda-feira. A Rússia, no entanto, já advertiu que não aceitará que o G8 discuta "medidas de pressão ou sanções".
- ORIENTE MÉDIO: americanos, europeus e russos exporão suas propostas para desbloquear o processo de paz entre Israel e Palestina já mirando na assembleia geral da ONU, em setembro, na qual os palestinos querem pedir o reconhecimento de um Estado próprio baseado nas fronteiras de 1967. O presidente americano, Barack Obama, se pronunciou pela primeira vez na semana passada de maneira favorável a um Estado palestino baseado nessas fronteiras, mas com alguns ajustes para que Israel possa manter blocos de assentamento.
- ENERGIA NUCLEAR: os países do G8, que têm todos os reatores nucleares - salvo a Itália - devem confirmar a necessidade de medidas de segurança mais importantes paras as centrais nucleares depois da catástrofe de março na central de Fukushima, enquanto o governo japonês tentará convencer aos seus sócios de que pode resolver a crise nuclear mais grave desde Chernobil, há 25 anos. Alguns membros, como a Alemanha, de onde o movimento antinuclear tem cobrado ações nos últimos meses, devem insistir para acelerar o desenvolvimento de energias alternativas.
- IRÃO: considerado a principal ameaça pelos Estados Unidos, o Irã continua com seu programa nuclear apesar das sanções internacionais. A comunidade internacional segue atenta ao país, apesar dele ter sido posto em segundo plano desde que começaram as revoltas no mundo árabe.
- AFEGANISTÃO: após a eliminação de Osama Bin Laden, os ocidentais debaterão a aceleração do ritmo de retirada de suas tropas do país, o que tem sido exigido pela opinião pública, mesmo com o fato de a situação na região ainda estar longe da estabilidade. As forças afegãs, por sua vez, não estão preparadas para assumir funções importantes de segurança.
- FMI: após a demissão do francês Dominique Strauss-Kahn, acusado de tentativa de estupro nos Estados Unidos, os europeus não querem perder o posto de diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) em plena crise da dívida europeia. Apesar de o tema não figurar na agenda da cúpula, eles tratarão de obter o respaldo os Estados Unidos e Japão à candidatura anunciada da ministra da Economia francesa Christine Lagarde.
- INTERNET: A cúpula do G8 abordará pela primeira vez o tema, apesar deste ser considerado secundário em decorrêcia a realidade internacional atual. Paris queria uma "internet civilizada" e portanto controlada, mas os Estados Unidos se opõem a qualquer tipo de regulação da rede.
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