Terminou a reunião de emergência da Comissão Política do PS convocada na sequência da demissão de Sócrates, com dois objectivos de calendário cruciais para reorganização do partido: marcar as eleições directas para eleger o futuro secretário-geral e agendar o Congresso Nacional extraordinário, onde será aprovada a moção de estratégia que subordinará a actuação política da nova Direcção.
A noite serviu também para António Costa agradecer o coro entusiasta que desejava vê-lo à frente do partido, mas anunciar que não está disponível por não tencionar abandonar a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. Com Costa fora da corrida, Francisco Assis decidiu avançar, Vai, portanto, disputar a liderança do Partido Socialista com o outro mais que provável candidato, António José Seguro nas directas que a Comissão Política decidiu esta noite marcar 22 e 23 de Julho.
Após a derrota nas Legislativas de domingo, José Sócrates e Almeida Santos retiram-se de cena e dão lugar a um novo ciclo político dentro do PS.
Diretas a 22 e 23 de Julho, Congresso a 9,10 e 11 de Setembro
Na reunião da Comissão Nacional do Partido Socialista, órgão deliberativo máximo da organização política entre congressos, realizada na noite da passada terça-feira, saiu a marcação da data das eleições directas que elegerão o futuro secretário-geral para os dias 22 e 23 de julho.
Os conselheiros nacionais dos socialistas marcaram também o congresso nacional extraordinário, que aprovará a moção de estratégia que subordinará a atuação política da nova direção, para os dias 9, 10 e 11 de Setembro.
Reunião da Comissão Nacional
Esta noite, a Comissão Nacional socialista reúne-se com uma agenda preenchida. Para além da marcação da data para a realização das eleições directas do novo secretário-geral, o órgão tem por tarefa a marcação do XVIII congresso nacional do partido, a apresentação, discussão e votação do regulamento para a eleição do secretário-geral e do regulamento para a eleição dos delegados ao congresso. Finalmente, tem por diante a eleição da comissão organizadora do Congresso.
José Sócrates e Almeida Santos. foto: António Cotrim
Almeida Santos afasta-se e Sócrates despede-se com um emotivo «Eu adoro-vos!»
José Sócrates esteve pouco mais de 10 minutos na reunião de ontem da Comissão Nacional do Partido Socialista de quem se despediu com uma mensagem curta, deixando aos seus companheiros de partido como últimas palavras um emotivo «Eu adoro-vos!».
Enquanto esteve presente na reunião José Sócrates limitou-se a apresentar o calendário para o processo da sua sucessão na liderança dos socialistas, o que abriu desde logo uma frente de discórdia entre as duas já assumidas candidaturas, de António José Seguro e Francisco Assis, depois de terem saído de cena António Costa e Maria de Belém.
O secretário-geral cessante do PS propôs que a eleição do seu sucessor no cargo se faça a 23 de julho e o congresso extraordinário dos socialistas entre 9 e 11 de setembro, datas que acabaram por ser aceites pelos apoiantes de Seguro, que, no entanto, preferiam o congresso mais perto da eleição, enquanto o núcleo associado a Assis apresentou como proposta para a eleição direta o dia 24 de setembro e o congresso extraordinário entre 7 e 9 de outubro.
Esta versão de Assis seria, no entanto, negada pelo próprio já no final da reunião da Comissão Nacional ao afirmar que nem participou nessa votação, mas, durante a reunião, os seus principais apoiantes, como Manuel Pizarro e Marcos Perestrello, bateram-se por esse calendário, ao contrário da corrente oposta de António José Seguro.
O 'núcleo duro' de Seguro preferia o congresso extraordinário logo após a eleição do novo líder para que este não tivesse que conviver muito tempo com os dirigentes ainda escolhidos por José Sócrates, enquanto a corrente ligada a Assis pretendia ganhar tempo ao reconhecer que a máquina da candidatura de António José Seguro já está desde segunda-feira no terreno.
Francisco Assis, António Costa e António José Seguro
António Costa recusa candidatar-se apesar de ser o preferido
António Costa anunciou que se não candidata ao cargo de secretário-geral, reservando-se eventualmente para uma candidatura ao cargo de presidente do partido e um apoio ao seus camarada Francisco Assis. Com Costa fora da corrida, o até agora líder da bancada socialista na Assembleia da República avança na corrida que o oporá a António José Seguro.
António Costa justificou a decisão com o facto de querer cumprir até ao fim o compromisso que assumiu com os lisboetas aquando da sua eleição e levar até ao final o mandato de presidente da câmara municipal de Lisboa.
O antigo ministro da Administração Interna, muito ligado às bases, não deixou de se justificar perante as mesmas. No dia desta quarta-feira muitos milhares de militantes receberem via SMS uma mensagem do edil da capital com a explicação da sua decisão.
“Pensei muito nas palavras de incentivo que me enviaram e que agradeço”, diz Costa referindo-se aos muitos militantes de base que lhe endereçaram por várias vias mensagens de incentivo para entrar na corrida.
“O PS e a câmara municipal de Lisboa precisam de um líder a tempo inteiro e eu devo cumprir os meus compromissos com os cidadãos e continuar a exercer a presidência da câmara com paixão, não dividida”, continua no longo SMS enviado aos militantes.
“Só sei exercer cada função sem calculismo e como se fosse a última coisa que vou fazer na vida. E este é o melhor contributo que posso dar ao PS”, refere.
Costa termina o SMS declarando-se “disponível para integrar uma equipa e, como sempre, para a militância dedicada”.
Francisco Assis, líder da bancada socialista na última legislatura, homem conotado com a direção de José Sócrates recolhe bastantes apoios na superestrutura partidária. António José Seguro, pelo contrário, tem como principal sustentáculo as bases do partido, através das federações e seções junto das quais levou a cabo um profundo trabalho de mútuo conhecimento, que poderá ser determinante na altura de se contarem as “espingardas”. [VÍDEO]
Assis anuncia candidatura às 19h00 de quarta-feira
No final da reunião, Assis comentou a renuncia à corrida eleitoral por parte de António Costa dizendo respeitar a sua decisão.
“Ao tomar essa posição [António Costa] abre um quadro político novo no interior do Partido Socialista. Tenho noção que muitos militantes tinham expectativa na apresentação de uma candidatura por parte de António Costa”, declarou à saída do hotel Altis.
Para Assis, “há que fazer uma ponderação rigorosa e profunda, designadamente se há uma articulação entre a vontade individual e aquilo que são as aspirações de largos sectores do partido”, acrescentou.
Com ponderação ou sem ela, o certo é que anunciou aos seus camaradas da Comissão nacional a intenção de se candidatar e marcou para as 19h00 desta quarta-feira uma conferência de imprensa no Largo do Rato, sede do partido, onde anunciou publicamente a sua candidatura.
Francisco Assis compareceu no largo do Rato sózinho não tendo ainda a seu lado nenhuma das figuras públicas que o apoiam.
"Assumo esta candidatura como sendo simultaneamente de continuidade e de mudança. Continuidade em relação à História do PS, que assumo integralmente, mas também de mudança, porque a melhor forma de respeitarmos a nossa História é sabermos construir os caminhos do futuro e, para isso, há necessidade de fazermos ruturas", declarou Francisco Assis.
O líder parlamentar cessante dos socialistas prometeu que, se for eleito secretário-geral, apresentará "uma alternativa política com tempo, imaginação e consistência", numa lógica de "oposição responsável, que honra os seus compromissos".
"Mas há uma coisa que deve ficar clara: Quem determina quem são as responsabilidades do PS é o próprio PS", advertiu, antes de dizer que os socialistas "têm de iniciar um novo diálogo" com os portugueses.
"A minha primeira prioridade será relançar a discussão e o debate no PS, promovendo de novo a abertura do PS à sociedade. Temos de abraçar novas causas e identificar angústias, porque assistimos a profundas mutações nas nossas sociedades", disse ainda.[VÍDEO]
António José Seguro apresenta razões da candidatura na quinta-feira
Também António José Seguro não deixou os conselheiros nacionais socialistas na dúvida sobre a sua candidatura. Na reunião foi claro a afirmar a sua disponibilidade e disposição paera se apresentar a sufrágio nas eleições de julho.
Já na tarde desta quarta-feira, António José Seguro confirmava na sua página de facebook que se candidatava ao cargo de secretário-geral.
"Caros amigos, agradeço os milhares de mensagens de apoio e de incentivo que tenho recebido de militantes e simpatizantes para me candidatar à liderança do PS. Decidi corresponder ao vosso apelo. Sou candidato a Secretário-Geral do meu partido de sempre. Anunciarei as razões da minha candidatura amanhã, quinta feira, às 13h00, na sede", escreveu Seguro na rede social. [VÍDEO]
[O PERFIL DOS DOIS CANDIDATOS]
António José Martins Seguro
Estudou Organização e Gestão de Empresas, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa,licenciou-se em Relações Internacionais, na Universidade Autónoma de Lisboa Luís de Camões. É Assistente da mesma Universidade. Foi diretor do jornal A Verdade de Penamacor, e chegou a secretário-geral da Juventude Socialista, entre 1990 e 1994. Deputado à Assembleia da República, de 1991 a 1995, integrou os XIII e XIV Governos Constitucionais, tendo ocupado o seu último cargo governativo como Ministro-Adjunto de António Guterres, entre 2001 e 2002. Foi deputado ao Parlamento Europeu, entre 1999 e 2001, dirigiu o Gabinete de Estudos Nacional do PS (2002-2004), e voltou à Assembleia da República, onde liderou a bancada parlamentar do PS (VIII Legislatura), presidiu à Comissão Parlamentar de Educação e Ciência (X Legislatura) e foi presidente da Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Energia (XI Legislatura).
Francisco José Pereira de Assis Miranda
Estudou num colégio católico e licenciou-se em Filosofia, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professor do Ensino Secundário, é militante do Partido Socialista desde 1985, tendo sido presidente da Câmara Municipal de Amarante, de 1989 a 1995. No fim desse ano estreou-se como deputado à Assembleia da República. Foi, pela primeira vez, presidente do Grupo Parlamentar do PS, entre 1997 e 2002. Saiu para ocupar o cargo de deputado ao Parlamento Europeu, onde permaneceu até 2009. Pelo meio foi eleito presidente da Federação Distrital do PS do Porto e candidatou-se a presidente da Câmara Municipal do Porto, nas eleições autárquicas de 2005, sendo derrotado por Rui Rio. Manteve-se como deputado no Parlamento Europeu até ao final do seu mandato, ao mesmo tempo que se mantinha como vereador no Porto. Em Julho de 2009 foi apresentado como cabeça-de-lista do Partido Socialista pelo Círculo da Guarda às eleições legislativas de 27 de Setembro, vindo a ser eleito para o mandato de 2009-2013. Foi, pela segunda vez, líder parlamentar do PS.
para RTP
[ACTUALIZAÇÃO]
Francisco Assis apresenta candidatura (dia 08):
António José Seguro apresenta a candidatura (dia 09):
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