Espumas . Notas . Pasquim . Focus . Sons . Web TV . FB

"Escolher o próximo líder do FMI"

Posted: 8 de jun. de 2011 | Publicada por por AMC | Etiquetas: ,

por Joseph E. Stiglitz *

Mais tarde ou mais cedo o Fundo Monetário Internacional vai ter um novo director. Há mais de uma década que venho criticando a forma como o FMI é dirigido e a forma como se processa a escolha do seu líder.
Graças a um acordo de cavalheiros entre os actores maioritários - o G8 - o director deverá ser assim um europeu, com americanos no segundo lugar e à frente do Banco Mundial.
Os europeus sempre escolheram normalmente os seus nomeados atrás dos bastidores, como aconteceu com os americanos, depois de algumas consultas junto dos países em desenvolvimento. Mas o resultado nem sempre foi o melhor para o FMI, para o Banco Mundial ou para o mundo.
O caso mais notório foi a nomeação de Paul Wolfowitz, um dos principais arquitectos da Guerra do Iraque, para liderar o Banco Mundial. A sua capacidade de avaliação e discernimento era a mesma daqueles que levaram os EUA a envolverem-se nessa aventura desastrosa. Depois de ter colocado o combate à corrupção no topo da agenda do Banco, abandonou o cargo a meio do mandato, perante acusações de favoritismo.
Por fim, e quando uma nova ordem parecia ter emergido no rescaldo da Grande Recessão que começou nos EUA, o G20 concordou (aparentemente) que o novo director do FMI deveria ser escolhido de uma forma aberta e transparente. E chegou a pensar-se que acabaríamos por ter um presidente proveniente de um mercado emergente. Afinal de contas, a principal responsabilidade do FMI consiste em combater crises, e a maioria das mesmas decorreram nos países em desenvolvimento - mais de uma centena desde que as políticas desastrosas da desregulação financeira e da liberalização começaram, há 30 anos. E dessas batalhas nos mercados emergentes surgiram muitos heróis.
As crises têm que ser bem geridas. Em 1997, a má gestão da crise no leste asiático por parte do FMI e do Tesouro norte-americano transformou abrandamentos na economia em depressões. O mundo não se pode dar ao luxo de deixar que tal volte a acontecer.
Nos dias que correm, perante esta crise iminente na Europa, o Banco Central Europeu parece estar mais preocupado com os seus balanços e o dos bancos europeus - cheios de dívida da Irlanda, Grécia e Portugal - do que com o bem-estar dos cidadãos dos seus países. Esta dívida vai ter certamente que ser reestruturada mas, depois de permitido que os bancos se alavancassem para lá do que é prudente e se enchessem de derivados tóxicos, eis que o BCE avisa para os perigos das reestruturações.
O BCE considera agora a reestruturação da dívida impensável, mas já vem tarde. Devia ter pensado melhor antes de deixar as coisas chegarem a este ponto. E, mais do que pensar, devia ter implementado regulações para impedir que os bancos europeus tivessem ficado tão vulneráveis.

* Prémio Nobel da Economia
(tradução de Carlos Tomé Sousa)

0 comentários:

Postar um comentário