Clareira desmatada na região de Sinop, no Mato Grosso. foto: Eliária Andrade
Após o pico do desmatamento, as áreas de floresta no Mato Grosso enfrentam uma nova ameaça. São as queimadas, que já começaram a causar destruição no estado. O boletim de monitoramento da Amazônia Legal, elaborado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) registrou focos de calor em 36 cidades do estado na quinta-feira. A pior situação é a do município de Gaúcha do Norte, porta de entrada para o Parque Nacional do Xingu, com 10 focos identificados pelos satélites. Em Nova Ubiratan, cidade que registrou o maior número de alertas no Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) em abril passado e teve segunda maior área desmatada do estado, eram quatro áreas sendo queimadas.
Dos 38 focos de fogo detectados pelo Inpe na Amazônia Legal nesta sexta-feira, 20 estão no Mato Grosso.
- O estado do Mato Grosso concentrou nas últimas 48 horas 38% de todos os focos de queimada do país, num total de 74 pontos detectados - confirma Fabiano Morelli, pesquisador do setor de queimadas do Inpe.
A situação é mais preocupante nas áreas estabelecidas como unidades de conservação. Os satélites do Inpe indicam a presença de fogo em quatro terras indígenas. Na terra indígena Parecis, no noroeste do estado, foram registrados 17 focos de incêndio na quinta-feira. Ela é a mais atingida até agora. Entre os dias 1 e 3 deste mês, ocorreram queimadas também nas reservas Aripuanã, Maraiwatsede, Enawenê Nawê.
Entre as áreas de proteção federais, houve fogo na Área de Proteção Ambiental do Rio Araguaia e no Jaru. Nas áreas sob proteção do estado, focos foram detectados no Parque Estadual do Cristalino e na Área de Proteção Ambiental do Salto Magessi.
De janeiro até agora, o Mato Grosso registrou 595 focos de fogo, a maior quantidade do país. No ano passado, foram 1.200 registros no período, mas as condições climáticas deste ano estão melhores. No ano passado, uma cidade quase inteira - Marcelândia - ardeu em chamas no pior período da seca, tendo combustível o pó das madeireiras e os detritos acumulados no lixão do município.
Para Morelli, do Inpe, as queimadas tendem a aumentar muito a partir deste mês, não apenas por conta do período seco do estado.
- Como o desmatamento aumentou, as queimadas também devem ser maiores. Depois de tirar a mata, as pessoas colocam fogo para usar a área - diz o pesquisador, referindo-se às áreas abertas para plantio ou criação de gado.
Na área da Amazônia Legal, depois de Gaúcha do Norte, as cidades com maior número de alertas são Vila Bela da Santíssima Trindade, Tangará da Serra, que abrange parte de terras indígenas.
Nesta época do ano, além do calor e do tempo seco, Mato Grosso é varrido por fortes ventos, o que facilita a propagação do fogo e aumenta a possibilidade de queimadas autorizadas atingirem áreas de preservação.
- Corremos risco de ter uma queimada mais intensa ainda do que a de 2010 em função do desmatamento. No Pará e no Amazonas o desmatamento não foi tão grande quanto no Mato Grosso. O que era verde passou a ser lenha pronta para queimar - diz Ramiro Martins Costa, superintendente do Ibama no Mato Grosso.
Segundo ele, as equipes que integram a megaoperação contra o desmatamento no estado já detectaram diversas áreas de fumaça nos sobrevoos na região.
- Já temos bastante fumaça, mas temos de ir verificar por terra. O fogo, em 99,9% dos casos, é proposital, por ação humana - explica.
O governo do Mato Grosso ainda não baixou decreto proibindo queimadas no estado. Normalmente, o decreto é assinado em julho e, caso seja necessário, pode ser antecipado, mas o Ibama depende das autoridades locais.
O superintendente do Ibama explica que também os índios causam queimadas.
- Temos também várias tribos que adoram fogo, para o roçado e para facilitar a caça. É um trabalho de conscientização de longo prazo - diz ele.
Para realizar queimada em propriedades particulares é preciso licença ambiental. No período de proibição total, qualquer foco detectado por satélite já pode ser identificado como ilegal. Por enquanto, porém, para saber se há ou não autorização é preciso verificar in loco - o que torna difícil o trabalho num estado de extensão tão grande quanto o Mato Grosso.
A megaoperação federal contra o desmatamento no Mato Grosso também já sofre percalços. Um caminhão do Exército foi fechado por um veículo e tombou na MT-242, quando retornava de uma operação do município de Nova Ubiratã para Sinop, na quarta-feira. Treze militares ficaram feridos e um deles corre risco de morrer. A polícia investiga o caso.
publicado em O Globo
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