Leio na Folha de S.Paulo:
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou indiretamente na noite desta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Sem falar o nome do colega, Lula disse, durante um jantar na Embaixada da Angola, em Brasília, "que tem países que quando presidente cai nas pesquisas autoriza ataques a outro país".
Segundo o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), Lula afirmou que os países ricos precisam construir a paz e não patrocinar a matança. O Brasil se abstive na votação do Conselho de Segurança que aprovou ataques aéreos a Líbia, país controlado pelo ditador Muammar Gaddafi, em março. Obama é candidato à reeleição.
Ao comentar a onda de revoltas no Oriente Médio e na África do Norte, o ex-presidente voltou a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU e aproveitou para pedir apoio dos diplomatas presentes no evento para um assento do Brasil no órgão.
No encontro, o ex-presidente recebe uma homenagem pela relação com os países africanos em seus oito anos de mandato. Em seu discurso, Lula disse que é preciso que o mundo tenha um novo olhar sobre a África. Nos próximos dias, ele deve discursar na União Africana.
De acordo com o senador, Lula fez uma reunião ontem em São Paulo com empresários e intelectuais para discutir sua fala para a África. "Lula disse que não vai levar um prato feito, não vai com cabeça de colonizador. Quer propor parcerias. Não vai chegar com receita do Bolsa Família e Luz Para Todos", disse Crivella. Lula não fez referencia as idéias do Instituto Lula para o continente africano. Ao deixar a Presidência, o presidente disse a interlocutores que pretendia promover ações de cooperação do Brasil com a África. Lula disse ainda que ficou frustrado por não ter conseguido fazer com que as companhias aéreas estabelecessem rotas frequentes para a África.
O ex-presidente também informou que deve visitar nas próximas semanas o Egito. Participam da homens diplomatas, ex-ministros do governo Lula, como Franklin Martins, a atual ministra da Cultura Ana de Hollanda, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli, além do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurelio Garcia.
O jantar não foi aberto à imprensa. Segundo o Josias de Souza esclarece no seu blog: «Deve-se o relato das palavras de Lula ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), um dos convidados.»
No mesmo post, Josias relaciona as declarações de Lula da Silva com a reunião realizada na véspera, em São Paulo, onde o ex-presidente se referiu à entidade voltada para África que se prepara para criar, o 'África Instituto de Cidadania'.
Leio no seu blog:
Longe dos refletores, Lula promoveu uma reunião com empresários, representantes de organismos internacionais e especialistas em temas africanos. Deu-se nesta quarta-feira (15), em São Paulo. A portas fechadas, Lula expôs, num salão do Hotel Intercontinental, detalhes da nova entidade que vai criar.
O nome será “África Instituto de Cidadania”. O objetivo, segundo disse, é o de estreitar a cooperação do Brasil com o continente africano.
A certa altura, Lula mencionou a China. Disse que os chineses investem vorazmente na África com objetivos estritamente comerciais. Imagina para o Brasil outro tipo de inserção. Algo que combine o interesse mercantil à cooperação “solidária” em áreas como desenvolvimento social e cultura.
Disse confiar que, sob Dilma Rousseff, o governo brasileiro manterá o mesmo grau de atenção que ele se jacta de ter dado à África em sua gestão. Livre da rotina presidencial, Lula se disse em condições de atuar como “agente catalisador” de uma ação mais intensiva de aproximação. Quer aproveitar, o “prestígio” que passou a desfrutar entre os africanos. Foi o presidente brasileiro que mais viajou à África –12 vezes em oito anos.
Informou que planeja um ciclo de viagens ao continente. Quer recolher subsídios para a nova empreitada.
Absteve-se de dizer de onde virá o dinheiro para o custeio de seu instituto. Entre os convidados de Lula havia duas caixas registradoras de peso. Estiveram no encontro do Intercontinental, hotel assentado na Alameda Santos, paralela à Avenida Paulista, os presidentes da Vale, Murilo Ferreira; e do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht. Compareceram também, entre outros: Makhtar Diop, diretor do Banco Mundial no Brasil; Carlos Lopes, diretor da Unitar (instituto da ONU para treinamento e pesquisa)...
...Davi Uip, da Faculdade de Medicina da USP; Jarbas Barbosa, ex-gerente da área de Vigilância da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde; e Tião Vaiana, médico e governador petista do Acre.
Os convidados de Lula têm em comum o interesse pela África. A Vale tem negócios em Angola. A Odebrecht opera em Angola e na África do Sul. Davi Uip conduz em Angola um programa da USP de combate à Aids. Carlos Lopes estuda há anos os investimentos da China e do Brasil nos países africanos.
Tião Viana e seu grupo político, no poder há 14 anos no Acre, gerem um bem sucedido programa de combate à malária, que Lula imagina “exportar” para a África.
O ex-soberano informou aos presentes que, nas próximas semanas, fará novas reuniões. Serão encontros menores –“setoriais”, segundo disse. Não fixou um prazo para o anúncio do seu instituto africano. Tomado pelo que disse, Lula ainda não tem clareza quanto à formatação jurídica.
Disse apenas que não o agrada o formato de ONG. De resto, afirmou que a entidade não terá vínculos com o governo.
Seja como for, Dilma talvez passe a usufruir de um refresco. Devagarzinho, Lula vai preenchendo o seu ócio pós-presidencial.
Deve sobrar menos tempo para os palpites sobre a administração da sucessora.
Nesta quinta (16), a propósito, Lula desembarca em Brasília. Calma. Oficialmente, vai apenas jantar com embaixadores de países africanos.
Josias remete, a este propósito, para o governador petista do Acre, Tião Viana, presente no encontro, que «levou ao sítio de notícias oficial do Estado um resumo do que assistiu».
Eis o artigo:
Ex-presidente reúne personalidades para discutir iniciativas sobre a África
Enquanto presidente, Lula promoveu uma aproximação com os países do continente africano, pautada por parcerias em diversas áreas. Esta semana, o governador Tião Viana foi um dos 30 convidados do ex-presidente da República, no encontro que aconteceu no Hotel Intercontinental, em São Paulo, para discutir a criação de uma iniciativa sobre a África.
A proposta de Lula durante a primeira reunião organizada pelo Instituto Cidadania sobre a África foi de discutir sugestões a partir da experiência profissional de seus convidados. Sua intenção é de que o instituto se fortaleça de maneira que não siga o modelo não-governamental tradicional, mas também que não seja uma instituição pública.
“O presidente quer que o instituto seja um catalisador das reações globais de cooperação, respeitando as potencialidades africanas a partir de suas especificidades culturais e socioeconômicas”, comenta o governador.
Segundo Tião Viana, único governador convidado para a reunião, o instituto traz um papel ousado, de puxar um movimento global de cooperação que ajude os países africanos, que enfrentam índices alarmantes, mesmo diante dos números que apontam seu desenvolvimento. A África carrega, por exemplo, o peso de ser o continente com maior índice de HIV.
O encontro coordenado por Lula, que abriu a reunião e depois passou a fala para cada um de seus convidados, teve a participação de personalidades dos meios acadêmico, empresarial, governamental e de organismos internacionais, entre eles o subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor executivo da Unitar, Carlos Lopes, que é especialista em desenvolvimento e planejamento estratégico.
Na reunião, Lula deixou claro que pretende manter e aprofundar sua relação de proximidade e fraternidade com a África e sua preocupação em mobilizar esforços para promover o desenvolvimento justo e sustentável naquele continente. No diálogo com os convidados, Lula ressaltou que o encontro teve o objetivo de reunir essas contribuições para refinar a inserção dessa nova iniciativa entre as diversas já existentes voltadas para o continente africano.
Durante seu mandato de presidente, Lula fez parcerias com a África nas áreas de saúde, educação, agricultura, comércio e pelo reforço dos laços de solidariedade. Bons resultados desse movimento são a multiplicação por quatro da corrente comercial entre 2002 e 2010, a criação da Universidade da Lusofonia Afrobrasileira, a construção da primeira fábrica de antirretrovirais no continente africano em Moçambique, entre outras ações.
publicado na Agência de Notícias do Acre
(16.06.2011)
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