Cerimónia de posse dos ministros Luiz Sérgio (Pescas) e Ideli Salvatti (Relações Insitucionais). foto: André Coelho
Dilma Rousseff empossou hoje os dois ministros que, embora já fizessem parte do seu Governo,
decidiu trocar de pastas no final da semana passada. A ministra Ideli Salvatti foi nomeada para o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e Luiz Sérgio para o cargo de ministro da Pesca e Aquicultura.
As atenções, todavia, concentram-se de forma desigual. A transferência de Luiz Sérgio não suscita interesse de maior, na medida em que é entendida mais como um prémio de consolação, no desfecho das críticas ao seu desempenho na pasta de que era titular. A de Ideli Salvatti, pelo contrário, é observada com enorme expectativa, uma vez que será ela quem passará a assumir a articulação política do Governo, tendo-lhe Dilma confiado a missão de garantir a unidade da base aliada no Congresso.
Dilma diz que é preciso identificar convergências em lugar de conflitos
No discurso que fez na solenidade que marcou a troca de ministros nesta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff disse que valoriza a política e que sabe que o objetivo de gerar desenvolvimento econômico e social no país só será alcançado se o governo souber lidar com os conflitos e diferenças. Criticada até mesmo entre os aliados por dar mais atenção aos aspectos técnicos que políticos em sua gestão, Dilma afirmou que não vê dicotomia entre um governo técnico e um político. Ela deixou claro, porém, que valoriza muito a capacidade técnica e eficiente, e enfatizou que as decisões políticas constituem a base das opções governamentais.
- Sem dúvida, a afinidade do meu governo com a política se manifesta pelo imenso respeito pelo Congresso Nacional e pelo poder Judiciário, base dos poderes constituídos junto com o Executivo - declarou.
- A importância que meu governo atribuiu a atividade política se reflete na compreensão de que a continuidade das grandes transformações necessárias ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, só pode nascer da negociação, da articulação de interesses e da nossa capacidade de identificar afinidades e convergências onde, à primeira vista, só parecem existir conflitos e diferença.
Em diversas ocasiões, Dilma chamou o ministro da Pesca, Luiz Sérgio, e a de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, de amigos. E fez questão de dizer que não abrirá mão da colaboração de Luiz Sérgio, trocado de Pasta depois que o PT da Câmara lhe dirigiu um fogo amigo e não lhe deu sustentação no cargo. Vários deputados e senadores estiveram presentes na posse dos dois e os deputados trataram de dizer que não havia divergências entre eles.
(Cf. também:
Dilma diz que o governo é a ampla coalizão dos partidos da base)
'Fiz o que era possível', diz Luiz Sérgio ao transferir articulação política para Ideli Salvatti
O troca-troca entre os ministros da Pesca e da Secretaria de Relações Institucionais foi oficializado na tarde desta segunda-feira. Luiz Sérgio discursou como novo ministro da Pesca e disse que "muda de trincheira " após fazer "o que era possível". Já Ideli Salvatti foi empossada no cargo responsável pela articulação política e afirmou que será "firme nos princípios e afável na abordagem". Os novos ministros trocaram elogios e fizeram menções poéticas na cerimônia.
Criticado pela própria base aliada do governo, Luiz Sérgio diz estar mudando de lugar para continuar em defesa do governo:
- Estou apenas mudando de trincheira para dar continuidade ao mesmo combate. Fiz o que era possível. Tenho a honra de suceder e ser sucedido por Ideli Salvatti - disse o novo ministro, que completou o seu discurso com versos de Fernando Pessoa. - Temos um governo sensível às necessidades do setor. Vamos trabalhar. Navegar é preciso. Viver não é preciso.
No discurso, ele destacou o trabalho à frente da SRI e disse que sempre buscou o diálogo com parlamentares e prefeitos.
- Tenho a consciência tranquila que dentro do raio de ação da pasta, fiz o que era possível.
O ministro também deu boas-vindas à ministra Ideli Salvatti. Agradeceu o apoio da presidente Dilma Rousseff , dos líderes da base aliada e também da oposição.
- Vamos arregaçar as mangas - disse Luiz Sérgio, ressaltando que seu desafio agora é fazer o Brasil figurar entre os maiores produtores de pescado do mundo.
(cf. também:
Ao assumir a pesca, Luiz Sérgio diz que está apenas mudando de trincheira)
Ideli propõe diálogo "afável" norteado por "princípios"
Ideli afirmou que seu trabalho será o de conversar e que aceitar a pasta foi o maior desafio de sua vida.
- Minha missão é garantir o diálogo com a presidente Dilma e Temer. Garantir a unidade e o respeito com todos os partidos é tarefa central, mas será sempre acompanhada do debate republicano com os partidos de oposição - disse, completando: - Meu trabalho será o de conversar, conversar, conversar e negociar.
Ela lembrou os oitos anos em que foi senadora, marcados pelo "excesso da paixão", quando travou duros embates com a oposição.
- O caminho que percorri foi intenso, mas de profundo aprendizado. Aceitar a a tarefa é meu maior presente e o maior desafio que já enfrentei na vida. Minha vida política foi marcada pelo excesso de paixão, mas aprendi muito. Aprendemos todos - disse ela, destacando, no entanto, que será diferente na nova função:
- Serei firme nos princípios e afável na abordagem.
Ela observou os orçamentos apertados da Secretaria da Pesca, lembrando que na Secretaria de Relações Institucionais terá que administrar um "cobertor curto". Ideli destacou ainda as ações desenvolvidas como ministra da Pesca e agradeceu ao ministro Luiz Sérgio, com quem trocou de ministério, advertindo-lhe:
- Cuide bem dos peixinhos.
A ministra agradeceu ainda a Deus e a confiança da presidente Dilma.
- Peço a Deus que me ilumine e me dê muito juízo - disse, terminando: - Obrigada, presidenta, pela confiança.
(cf. também:
Ideli assume relações institucionais e promete bom diálogo com o parlamento)
publicado em O Globo (aqui e aqui)
Ao mudar governo, Dilma se rende à política e se afasta do perfil ‘gerentona’
Na posse de Ideli Salvatti na pasta de Relações Institucionais, a presidente admitiu a necessidade de negociar consensos e afirmou que não existe dicotomia entre um ‘governo técnico e um governo político’, não obstante, o Congresso aguarda reflexos da nova gestão.
No momento em que realiza a primeira minirreforma ministerial para refazer pontes com partidos aliados e o Congresso, a presidente Dilma Rousseff deu nesta segunda-feira, 13, sinais claros de que vai dar início a uma nova forma de governar em que a política, e não mais só o perfil gerencial - que foi o norte da administração nos primeiros meses -, será preponderante. A presidente aproveitou a posse dos ministros das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Pesca, Luiz Sérgio, para informar que buscará consensos no Congresso e no Judiciário para aprovar propostas de interesse do governo.
"Do meu ponto de vista, não existe dicotomia entre um governo técnico e um governo político. Valorizo muito a capacidade técnica e a gestão eficiente, até porque nenhum país do mundo conseguiu um elevado padrão de desenvolvimento sem eficiência nas suas atividades governamentais e absorção das técnicas mais avançadas disponíveis. Mas, simultaneamente, tenho a convicção de que as decisões políticas constituem a base das opções governamentais", afirmou, numa clara tentativa de se afastar do perfil de "gerentona".
Lançando pontes de negociação sobre os outros Poderes, a presidente acrescentou: "A afinidade do meu governo com a política se manifesta no imenso respeito pelo Congresso Nacional e pelo Poder Judiciário".
Dilma Rousseff enfatizou que "o governo não é só o Poder Executivo, mas a ampla coalizão" que sua administração representa. Hoje, 15 partidos estão na base de apoio da presidente. Segundo ela, a continuidade de grandes transformações dependem "de negociação, articulação de interesses e capacidade de identificar afinidades e convergências onde, à primeira vista, só parece existir conflito e diferença".
Espera
O Congresso espera a retribuição das promessas de mudança da presidente na articulação política em forma de cargos e emendas parlamentares. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), elogiou o discurso de Dilma. E fez cobranças para a manutenção do clima de paz. "De urgente temos de ver a liberação das emendas dos parlamentares e as nomeações para o segundo e terceiro escalões com os nomes oferecidos pelos partidos aliados."
A retomada das nomeações de aliados começou na sexta-feira, quando Dilma Rousseff atendeu aos pedidos do PSB, PT e PMDB e pôs Jurandir Santiago na presidência do Banco do Nordeste.
Vaccarezza chegou a ser apontado por uma ala do PT como o preferido para ocupar a vaga do ex-coordenador político Luiz Sérgio. Mas Dilma não se interessou pela proposta. Ao contrário. Para dar uma lição ao PT, nomeou a então ministra da Pesca Ideli Salvatti para a coordenação política e, no lugar dela, levou o isolado Luiz Sérgio, que sem poder para negociar foi fritado pelo próprio partido.
Mesmo fora do ministério, Vaccarezza prometeu fidelidade à presidente. "Sou líder, e meu dever é defender o governo; o faria também se estivesse apenas na condição de deputado, como soldado que sou do governo."
Articuladora
A própria presidente Dilma Rousseff comandará a articulação política, de acordo com informação da nova ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Em entrevista publicada domingo na Gazeta do Povo, de Curitiba, a ministra informou também que, ao convidá-la para a Casa Civil, na semana passada, Dilma disse que quer, a partir de agora, mudar a forma de atuação da Casa Civil.
Significa que, ao contrário dos cinco meses e sete dias em que Antonio Palocci esteve à frente da pasta, a Casa Civil não se envolverá diretamente com a coordenação política. "Não quero você nas articulações da política", foi o que Dilma disse a Gleisi, de acordo com relato da própria ministra. "Ela quer que eu faça política de gestão, para dentro do próprio governo", afirmou.
publicado em O Estado de S. Paulo
Discursos da presidente Dilma sinalizam conciliação com o Congresso
A presidente Dilma Rousseff e a nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, reforçaram ontem, durante a posse da petista, o discurso conciliador e a importância de um novo modelo de negociação do governo com o Congresso. Dilma reconheceu que “a continuidade das grandes transformações necessárias ao Brasil só pode nascer da negociação”. E ressaltou que o estilo técnico não pode sobrepor o debate político. Ideli pediu a Deus juízo, chamou os líderes na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de “meus queridos”. Prometeu que os “acordos existem para serem cumpridos”, mas também devem ser “precedidos de muita negociação”. Na tentativa de afastar o perfil de “trator” pelo qual ficou conhecida durante os tempos de CPI do Mensalão, Ideli prometeu inaugurar um novo estilo a partir da posse de ontem. “Sempre ganhei mais batalhas conciliando que divergindo. Serei firme nos princípios e afável na abordagem”, disse.
Os discursos buscam reverter a desconfiança que os partidos aliados têm em relação ao novo perfil da articulação política do governo. Líderes do PMDB admitem que, até o momento, não foi possível perceber mudança concreta. Para eles, as promessas de liberação de emendas e cargos são importantes, mas insuficientes, e o novo modelo precisa ir além: os aliados querem ter peso maior na definição das políticas de governo. “Todo mundo tem inveja de uma base composta por 70% dos parlamentares do Congresso. Mas o governo parece estar querendo destruir essa maioria folgada”, ressaltou um articulador do PMDB no Senado.
Ideli participou ontem, pela manhã, da primeira reunião oficial com a presidente Dilma, na qual foram traçadas as prioridades para o Congresso. Além das duas, estiveram presentes a chefe da Casa Civil, ministra Gleisi Hoffmann, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. O vice-presidente da República, Michel Temer, contudo, não participou do encontro, deixando claro que o PMDB ainda não faz parte do núcleo decisório. “Nós precisamos de alguém que faça uma ponte conosco, não que sirva simplesmente para defender a Dilma das nossas reclamações”, protestou um aliado de Temer.
Sintonia fina
Apesar das ressalvas, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defende que seja dado um voto de confiança à nova ministra. “Prefiro dizer que o governo está convergindo, ampliando a relação com o Congresso, fazendo a sintonia fina.” Jucá participou, após a cerimônia de posse, de uma reunião com Ideli e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), para fazer uma radiografia das pendências solicitadas pelos aliados. No encontro, Ideli foi avisada que prometer a liberação de R$ 250 milhões em emendas é apenas um paliativo, já que a demanda represada supera a casa dos R$ 2 bilhões.
Com a economia em fase de ajuste, um gradual controle da inflação e a necessidade de apaziguar a crise com a base aliada, o governo não poderá mais ancorar-se no discurso de contingenciamento das emendas parlamentares. Mas o Planalto não quer fazer essa transição de afogadilho e sinaliza que as primeiras liberações deverão acontecer em julho. A demora poderá custar caro, já que o Congresso tem matérias delicadas e importantes para o governo e que precisam ser votadas neste mês, antes do recesso parlamentar.
O primeiro desafio ocorre amanhã, quando o governo pretende votar a Medida Provisória nº 527, que cria a nova Secretaria de Aviação Civil. A MP servirá, também, para flexibilizar as regras de licitação para as obras da Copa de 2014(leia mais na página 5). O governo também tem outros grandes desafios na Casa: a PEC nº 300, que equipara o salário de bombeiros e policiais militares aos vencimentos das categorias na União e a Emenda Constitucional 29, que define os percentuais de gastos da União, estados e municípios com Saúde (leia mais na página 3). Líderes aliados reconhecem a possibilidade concreta de derrota do Executivo nas duas matérias.
Ideli teria hoje uma chance de conversar com os deputados, no almoço promovido por Vaccarezza todas as terças com os líderes dos partidos aliados na Câmara. Mas a aproximação terá que esperar. Ela foi convocada pela presidente Dilma para participar de um almoço com senadores do PR e, amanhã, com senadores do PP. A ministra resolveu reunir-se novamente com Vaccarezza, no fim da noite de ontem, para levar aos deputados as propostas para o distensionamento no diálogo.
publicado no Correio Braziliense
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