por Daniel Oliveira
Um privilégio destas eleições: conhecemos o programa que PS, PSD e CDS vão seguramente aplicar. Um esconde-o, outro orgulha-se dele e quer mais e o outro passeia barretes e não se compromete com nada. Mas está escrito, traduzido e assinado.
O segundo privilegio destas eleições: conhecemos as consequências desse programa. Estão à vista na Grécia. Num ano, o desemprego aumentou, o PIB caiu e o défice público cresceu. Não por falta de empenho na aplicação de tresloucada receita dos sociopatas europeus. Mas pela sua aplicação. Os sacrifícios exigidos aos gregos pioraram a situação dos gregos, cada vez mais longe de honrar os seus compromissos.
Perante o descalabro da sua receita, a Europa não arrepia caminho. Quer mais. Depois de destruir a economia grega quer destruir a sua democracia. Porque a democracia é o que pode levar os gregos a pôr um travão nesta loucura. Para emprestar, a juros altos, o o que falta do dinheiro acordado inventou uma nova regra a meio do jogo: a oposição tem de apoiar as medidas que sempre, e com toda a razão, como se viu pelos resultados, condenou. Toda ela. Tem de deixar de ser oposição. Se a oposição tem razão acaba-se com a oposição através da chantagem. A Europa quer fazer da Grécia uma ditadura pluripartidária. Para estar no Parlamento é obrigatório subscrever a receita extremista dos liberais.
Mas a coisa não acaba aqui. O neocolonialismo é imaginativo e novas propostas são feitas por vários países europeus: criar uma agência externa para cobrar os impostos aos gregos e ser a Europa a tratar das privatizações no País. Ou seja, a mesma Europa que é incapaz de ter uma política fiscal comum ou um orçamento que se veja quer ocupar a Grécia. Só quando tudo isto estiver feito é que se dará o ultimo passo: correr com a Grécia do euro, tornando o pagamento da divida impossível mas sacando tudo o que houver para sacar. Depois de saquear os cofres públicos gregos para recapitalizar uma banca fragilizada pela crise de 2008, depois de destruir a economia e a democracia gregas, larga-se o moribundo na berma da estrada.
É esta a política europeia para lidar com a crise das dívidas soberanas. É esta a gente a quem estamos a entregar o nosso futuro. É a isto que temos chamado de "ajuda externa" e de "resgate". É este o caminho que PS, PSD e CDS querem trilhar.
As simulações de ódio entre os futuros parceiros não me impressionam. O meu desagrado com algumas opções dos partidos que se opõem a este caminho não chegam para me demover. O que está em causa é bem mais importante: é a nossa economia e a nossa democracia. E o voto é a arma que me resta contra os rufias que tomaram conta da Europa e os que por cá se contentam em ser seus diretores-gerais. Não o usarei para determinar quantos ministros tem cada um dos partidos da troika.
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